in Público, 28.05.2009, Manuel Salgado, Vereador da Câmara
Municipal de Lisboa com o Pelouro do Urbanismo
A Câmara
Municipal de Lisboa promove amanhã a conferência internacional sobre
o Plano Director Municipal de Lisboa. Partindo da ideia "uma cidade
para o futuro", pretende o município com esta iniciativa abrir ao
debate o futuro de uma Lisboa para viver, investir e trabalhar.
A reflexão sobre a importância deste instrumento de planeamento,
um dos primeiros a ser aprovados em Portugal (em 1994), acontece num
contexto que aponta para a necessidade de o adequar às
transformações registadas na capital desde a sua entrada em vigor
(Ponte Vasco da Gama, erradicação de barracas, Expo-98), passando
pelas obras estruturantes actualmente em projecto (terceira
travessia do Tejo, rede de alta velocidade e aeroporto) e tendo
ainda em conta a necessidade de o equacionar na sua dimensão
metropolitana e de sustentabilidade.
Em Janeiro de 2008 foi
retomado o processo de revisão do PDM de 1994, após alguns avanços e
recuos em mandatos anteriores. Tal como em 1994, a revisão do PDM e
a Carta Estratégica avançam em paralelo. Com base num diagnóstico
prospectivo de suporte às opções de planeamento e não perdendo de
vista a articulação dos objectivos estratégicos, políticos e de
gestão do território, a Câmara Municipal de Lisboa lançou, no actual
mandato, seis perguntas à cidade que vão culminar na Carta
Estratégica Lisboa 2010-24, actualmente a acolher contributos nas
diversas áreas.
Como recuperar, rejuvenescer e equilibrar
socialmente a população de Lisboa? Como tornar Lisboa uma cidade
amigável, segura e inclusiva para todos? Como tornar Lisboa uma
cidade ambientalmente sustentável e energeticamente eficiente? Como
transformar Lisboa numa cidade inovadora, criativa, capaz de
competir num contexto global, gerando riqueza e emprego? Como
afirmar a identidade de Lisboa num mundo globalizado? Como criar um
modelo de governo eficiente, participado e financeiramente
sustentado? São estes os seis desafios lançados. Não fazendo
tábua rasa de compromissos e expectativas criadas ao longo de 20
anos, a autarquia de Lisboa neste processo de revisão do Plano
Director Municipal tem em conta o lastro deixado. As preocupações
ambientais, um novo tipo de relacionamento com os cidadãos, o
empenho do município no planeamento - enquadrando o papel da
iniciativa privada na construção da cidade - são exemplos de novas e
boas práticas que foram adoptadas.
Apesar de tudo, a
realidade de hoje é bem diferente da de 1994, ou mesmo da de 2004,
ano apontado como o do prazo de validade do PDM. Actualmente, há
novas preocupações relacionadas com a sustentabilidade social,
ambiental e financeira de Lisboa, com a salvaguarda da sua memória e
com o papel da participação e da cidadania. O contexto metropolitano
em que se insere a capital e o cenário de crise financeira global do
qual Lisboa não se pode alhear fazem com que o Plano Director
Municipal seja, cada vez mais, essencial na forma ou nas formas de
regular a utilização do território.
Lisboa compete com outras
cidades, as suas fronteiras diluíram-se, ao mesmo tempo que se
acentuaram as assimetrias económicas e os fenómenos de despovoamento
e envelhecimento da população. Por outro lado, desenham-se no
horizonte grandes projectos de escala nacional que influenciam o
rumo da cidade. Em termos fundiários, as reservas da capital estão
perto do esgotamento. Expo-98 e Alta de Lisboa são dados
adquiridos. Reabilitar a cidade consolidada surge, pois, como a
primeira opção. Será uma das grandes opções que a autarquia terá que
tomar, a par de outras igualmente essenciais, como a da
requalificação do espaço público ou o reforço da presença dos
serviços de proximidade e equipamentos estruturantes de nível
metropolitano e nacional, integrando as novas
infra-estruturas.
A viabilidade económica destas opções não
poderá, porém, ser descurada. O objectivo é, sem dúvida, conseguir
fazer de Lisboa uma cidade amigável, sustentável e
competitiva.
O Plano Director Municipal na sua vertente
reguladora deve assim assentar em princípios fundamentais, como o da
defesa da cidade consolidada, da qualidade ambiental, da preservação
da memória ou da mobilidade. O modelo territorial que dá coerência
às (grandes) opções a tomar tem estado a ser estruturado por
elementos como o Plano Verde, a Carta de Condicionantes, a carta do
património histórico e natural, os grandes equipamentos, os usos e o
sistema de mobilidade, considerando os diferentes modos de
transporte, desde os pesados aos suaves.
O envolvimento dos
cidadãos na elaboração e discussão pública do Plano Director
Municipal revelar-se-á determinante. A Câmara Municipal de Lisboa
será o repositório das sugestões. Mesmo que contraditórias. Governar
uma cidade é gerir conflitos. É para isto também que o PDM é
necessário. |