UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR Ciências APROXIMAÇÃO DO NÚMERO DE NEPER VERSÃO FINAL APÓS A DEFESA HERMENEGILDO SIMÃO Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Matemática Para Professores (2 o ciclo de estudos) Orientador: Prof. Doutor José Carlos Matos Duque Co-orientador: Prof. Doutor Rui Manuel Pires Almeida Covilhã, Maio de 2018 Aproximação do Número de Neper ii Aproximação do Número de Neper Dedicatória Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pelo dom da vida e por permitir-me alcançar esta meta. Dedico este trabalho aos meus pais, Fernando Capalo in memorian e à minha mãe Maria Eva Muachambi. iii Aproximação do Número de Neper iv Aproximação do Número de Neper Agradecimentos A Deus todo-poderoso que me dá o dom da vida e me capacita para conseguir vencer os desafios. Aos meus orientadores, Professor Doutor José Carlos Matos Duque e Professor Dou- tor Rui Manuel Pires Almeida, pelo apoio disponibilizado, pelas opiniões e críticas, pela total colaboração no solucionar de dúvidas e pela forma amiga como guiaram o trabalho. Ao meu pai Fernando Capalo (que Deus o tenha), que cedo me ensinou a dedicação aos estudos e consentir sacrifícios para vencer os desafios que a vida nos coloca. À minha mãe Maria Eva Muachambi, pela educação, pela confiança e apoio incondi- cional que sempre me proporcionou ao longo desta trajetória. À minha esposa, Maria Generosa A. Fernando e aos meus filhos, pela paciência nas minhas ausências e apoio moral que sempre me concederam. Ao meu amigo e colega, Ngaiele Muecheno Fundão, pelo apoio moral e académico, pela abnegação e total ajuda prestados, que foram fundamentais para atingir esta meta. Aos meus irmãos, Sandra, Cecília, Marcos e Delfim, pela força e encoraja- mento que me têm dado ao longo dos anos. Ao coletivo dos meus colegas, pelo espírito de equipa, irmandade e solidariedade que permitiram encarar e resolver as principais dificuldades sempre em coletivo, especi- almente ao Jacinto Comolehã, João Canansevele e Orlando Cawende, a todos o meu muito obrigado. Ao coletivo dos professores do Departamento de Matemática da Faculdade de Ciên- cia da UBI, especialmente, os Professores Doutores, Alberto Simões, Henrique Cruz, Sandra Vaz, Rui Pacheco, Jorge Gama, Hélder Vilarinho, Nuno Correia, César da Silva, Ilda Rodrigues, Ana Carapito, Rogério Serôdio e Paulo Rebelo, que deram o seu melhor para a nossa formação académica com toda dedicação e paciência. Ao Dr. Victor Silva e ao Dr. Abel Jones Pique pela oportunidade que me conce- deram para frequentar o curso de mestrado, pelo apoio moral e pela confiança que depositaram em mim. A todos que de forma direta ou indireta contribuíram para o êxito deste desafio, o meu muito obrigado! v Aproximação do Número de Neper vi Aproximação do Número de Neper Resumo O presente trabalho trata da aproximação do número de Neper. Começa-se por apresentar uma resenha histórica dos principais factos e protagonistas em torno deste número. De seguida, apresentam-se alguns métodos que permitem calcular a sua aproximação, com recurso a sucessões, séries e frações contínuas. Por fim, deduzem-se modelos matemáticos, envolvendo o número de Neper, que descrevem determinados fenómenos estudados em diferentes áreas da ciência. Espera-se que este trabalho proporcione aos alunos e professores informação importante que con- tribua para o melhoramento do processo de ensino e aprendizagem deste tópico no ensino secundário. Palavras-chave Número de Neper, história, aproximação, aplicações. vii Aproximação do Número de Neper viii Aproximação do Número de Neper Abstract The present work deals with the approximation of Neper's number. An in-depth historical review focusing on the main facts and protagonists about this number is presented. Subsequently, various methods for calculating its approximation, using sequences, series and continuous fractions, are studied. Finally, some mathematical models involving Neper's number, which describe certain phenomena in different areas of science, are deduced. It is hoped that this work will provide students and teachers with useful information which will contribute to the improvement of the teaching and learning process on this topic in secondary school. Keywords: Neper's number, history, approximation, applications. ix Aproximação do Número de Neper x Aproximação do Número de Neper Índice 1 Introdução 1 2 História do número de Neper 5 2.1 Tábua de logaritmos e contribuição de Henry Briggs . . . . . . . . . . 7 2.2 Surgimento do número de Neper a partir de questões financeiras . . . 11 2.3 Contribuição de Euler para o número de Neper . . . . . . . . . . . . . 14 2.3.1 Um pouco sobre vida e obra de Leonhard Euler . . . . . . . . 15 3 Principais Teoremas e resultados fundamentais 17 3.1 Sucessões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 3.1.1 Teoremas importantes sobre sucessões . . . . . . . . . . . . . . 19 3.2 Séries . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 3.2.1 Séries numéricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 3.2.2 Alguns teoremas sobre séries . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 3.2.3 Séries de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 3.3 Logaritmos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 3.3.1 Propriedades operatórias do logaritmo . . . . . . . . . . . . . 26 3.3.2 Logaritmo neperiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 4 Métodos de cálculo da aproximação do número de Neper 29 4.1 Aproximação do e pela sucessão un = (1 + 1 n )n . . . . . . . . . . . . . 29 4.1.1 A sucessão un = (1 + 1 n )n é crescente . . . . . . . . . . . . . . 31 4.1.2 A sucessão un = (1 + 1 n )n, é limitada . . . . . . . . . . . . . . 32 4.1.3 Propriedade da sucessão un = (1 + a vn )vn . . . . . . . . . . . . 34 4.2 Aproximação do e pela série ∑+∞ n=0 1 n! . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 4.2.1 Prova da irracionalidade do e . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 4.2.2 ex = ∑∞ n=0 xn n! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 4.2.3 (ex)′ = ex . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 4.2.4 (cex)′ = cex . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 4.2.5 Erro da aproximação do ex . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 4.3 Aproximação do e pelas Frações contínuas . . . . . . . . . . . . . . . 47 4.4 Comparação dos métodos de aproximação do número de Neper . . . . 51 5 Aplicação do e na vida prática 55 5.1 Aplicação do e na Economia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 5.2 Aplicação do e na desintegração Radioativa . . . . . . . . . . . . . . . 60 5.3 Aplicação do e na Teoria das Probabilidades . . . . . . . . . . . . . . 65 xi Aproximação do Número de Neper 6 Considerações finais 69 Bibliografia 71 xii Aproximação do Número de Neper Lista de Figuras 2.1 Jonh Napier (1550 - 1617) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 2.2 Tabela de logaritmos de John Napier . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 2.3 Henry Briggs (1561 - 1631) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 2.4 Tabela de logaritmos decimais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 2.5 Jost Bürgi (1552 - 1632) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 3.1 Logaritmo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 5.1 Imagens de Euro, moeda do espaço europeu . . . . . . . . . . . . . . 56 5.2 Imagens de desintegração radioativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 5.3 Imagens de Raio X . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 5.4 Fóssil de um animal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 5.5 Imagem de uma Associação de táxi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 xiii Aproximação do Número de Neper xiv Aproximação do Número de Neper Lista de Tabelas 2.1 Capitalização de juros compostos a uma taxa anual de 5% . . . . . . 13 2.2 Termos da sucessão un = (1 + 1 n )n . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 4.1 Tabela de aproximação do e pela sucessão un = (1 + 1 n )n . . . . . . . 30 4.2 Tabela de aproximação do e por série infinita . . . . . . . . . . . . . . 39 4.3 Tabela de aproximação do e por frações contínuas do tipo [4.8] . . . . 51 4.4 Tabela de aproximação do e por frações contínuas do tipo [4.9] . . . . 52 4.5 Comparação da aproximação do número de Neper por método . . . . 53 5.1 Tabela de capitalização de juros compostos . . . . . . . . . . . . . . . 57 xv Aproximação do Número de Neper xvi Aproximação do Número de Neper Capítulo 1 Introdução O presente trabalho vai abordar a aproximação do número de Neper. Este número também conhecido por euler e representado pelo símbolo e é um número irracional cujo valor aproximado é 2.7182818284590453353... É denominado número de Ne- per em homenagem a John Napier, enquanto que a utilização do símbolo e o qual acredita-se que deriva da palavra exponencial, é atribuída ao matemático Euler. O número de Neper está presente em vários modelos matemáticos aplicados nas dis- tintas ciências, nos quais precisa ser aproximado com um número adequado de casas decimais corretas. Para calcular a sua aproximação são usados diferentes métodos, parte dos quais serão abordados neste trabalho. O número de Neper à semelhança do pi é uma das constantes importantes da ma- temática. Essa constante despertou o interesse de muitos matemáticos ao longo do tempo, no entanto, foi a partir dos séculos XVI e XVII, com os trabalhos do mate- mático escocês, John Napier (1550 - 1617) e do suíço Leonhard Euler (1707  1783) que esse número se tornou mais conhecido. O e está presente em vários conteúdos de matemática precisamente nas sucessões e séries, nas funções exponenciais e logarítmicas e no cálculo diferencial e integral. Dada a transversalidade dos conteúdos matemáticos em que é aplicado, este número está presente em vários modelos matemáticos sobretudo aqueles que representam fenómenos com caraterísticas de crescimento ou decrescimento, aplicados em áreas como a medicina, biologia, economia, química e física moleculares, engenharia, mú- sica, entre outras. A abordagem no ensino secundário do número de Neper, apesar da sua importância na matemática e não só, ainda é tida como superficial. Tal facto foi constatado na análise feita aos programas e manuais de matemática do ensino secundário em Portugal e Angola. Os referidos materiais didáticos não mostram uma abordagem significativa do número de Neper que contenha, por exemplo, uma resenha histórica, os métodos de calcular a sua aproximação com maior número de casas corretas, a sua importância na matemática, com realce em modelos matemáticos aplicados nas diversas ciências para explicar determinados fenómenos da vida prática. 1 Aproximação do Número de Neper Como consequência disso, os alunos apenas aplicam as fórmulas previamente con- cebidas e realizam cálculos, utilizam o e que em muitos casos é aproximado apenas com três casas decimais corretas (e ≈ 2.718) e raras vezes é calculada a sua apro- ximação, a não ser com o recurso às máquinas calculadoras. Esta situação dificulta efetivamente a sua aprendizagem, o que leva os alunos a terminem o ensino secun- dário, com pouca informação relativa ao número de Neper. Com base nas preocupações apresentadas acima, levanta-se a seguinte questão: Como melhorar o ensino e aprendizagem do número de Neper no ensino secundário? Para responder a esta questão, propõem-se fazer uma abordagem profunda sobre vários aspetos relacionados ao número de Neper, mostrando a sua importância, os métodos de aproximação e as distintas aplicações nas mais variadas ciências, mais especificamente: • Efetuar uma resenha histórica sobre o número de Neper; • Saber o que o número de Neper representa na matemática; • Mostrar as diferentes maneiras de calcular a aproximação do número de Neper; • Apresentar as diferentes aplicações do número de Neper nas variadas ciências. Espera-se que o presente trabalho apresente os principais factos históricos relaciona- dos ao número de Neper; as técnicas da aproximação do número de Neper com realce para a sucessão un = (1 + 1 n )n, série ∑∞ n=0 1 n! e as frações contínuas; as provas da irracionalidade do e, e da igualdade limn→∞(1 + 1n) n = ∑∞ n=0 1 n! , bem como, a prova do facto de a derivada da função f(x) = cex ser igual cex, com c ∈ R. Espera-se igualmente mostrar as aplicações do número de Neper em modelos matemáticos que auxiliam a resolução de problemas ligados à economia, química e física molecular e à teoria das probabilidades. No final espera-se apresentar os principais resultados do trabalho, bem como apresentar sugestões que visam melhorar o estudo do número de Neper no ensino secundário. O trabalho está estruturado em seis capítulos, ao longo dos quais se procurou atingir os principais objetivos que motivaram a realização do mesmo. O primeiro capítulo é dedicado aos aspetos introdutórios, no segundo capítulo procurou-se trazer uma abordagem histórica sobre o número de Neper, o terceiro capítulo incide na breve revisão dos principais teoremas e resultados fundamentais ligados ao estudo de su- cessões, séries e logaritmos. O quarto capítulo destina-se ao estudo dos métodos de aproximação do número de Neper, mais precisamente, aproximação pela sucessão un = (1 + 1 n )n, pela série ∑∞ n=0 1 n! e através das frações contínuas, o qual demonstra ainda alguns resultados importantes, tais como, a prova da irracionalidade do e. O 2 Aproximação do Número de Neper quinto capítulo mostra as distintas aplicações do e em modelos matemáticos usados nas distintas ciências e finalmente, o sexto e último capítulo destina-se as considera- ções finais do trabalho, nas quais apresenta algumas sugestões que visam melhorar o ensino deste conteúdo no ensino secundário. 3 Aproximação do Número de Neper 4 Aproximação do Número de Neper Capítulo 2 História do número de Neper O número de Neper surgiu talvez com a descoberta dos logaritmos, criados como instrumentos para tornar os cálculos aritméticos mais simples, tendo-se verificado posteriormente que os logaritmos tinham mais importância do que se pensava, quer na matemática, quer noutras ciências, uma vez que, diversos factos matemáticos e vários fenómenos da natureza e até mesmo sociais, podem ser explicados com o recurso aos logaritmos. O período compreendido entre o final do século XVI, e o início do século XVII, testemunhou uma enorme expansão do conhecimento científico nos mais variados domínios da vida. Foi nesta altura em que se deu o desenvolvimento da geografia, física e astronomia, o que permitiu mudar rapidamente a perceção que o homem ti- nha do universo. O sistema heliocêntrico de Copêrnico, finalmente tinha sido aceite. Em 1519 Fernão de Magalhães (1480 - 1521) começava a circunavegação do globo que permitiu descobrir várias regiões do mundo. Em 1569, Gerhard Mercantor publicou o novo mapa do mundo, tendo criadas as condições que melhoraram o processo de navegação. Galileu Galilei, estabelecia na Itália, os alicerces da ciência da mecânica, já na Alemanha, Johannes Kepler, publicava as suas famosas três leis do movimento planetário, uma grande contribuição para a astronomia [Lim85]. Esses desenvolvimentos envolviam quantidades enormes de dados numéricos, o que obrigava os sábios da época a realizarem cálculos bastante trabalhosos. Embora nesta altura já estivessem descobertas as frações decimais, ainda assim, era de vital importância desenvolver um método que permitisse efetuar com eficiência e eficácia as multiplicações, divisões, potenciações e extrações de raízes. As operações aritmé- ticas podem ser classificadas em três grupos, de acordo com o grau de dificuldade: adição e subtração formam as operações de primeira espécie, multiplicação e divisão, da segunda espécie e a potenciação e radiciação constituem as operações da terceira espécie. Na altura, procurava-se um processo que permitisse reduzir cada operação da segunda e terceira espécies numa operação da primeira espécie. John Napier (1550-1617), escocês, também conhecido por Neper, nascido em Edim- burgo, formado em teologia, proprietário de terras, lançou-se a esse desafio que lhe durou vinte anos. Precisamente em 1614, conseguiu corresponder, dando resposta a essa necessidade, com a descoberta dos logaritmos, tendo para o efeito publicado em 5 Aproximação do Número de Neper Edimburgo a sua mais célebre obra,Merifici logarithmorum canois description (uma descrição da maravilhosa regra dos logaritmos). Figura 2.1: Jonh Napier (1550 - 1617) Fonte: www.colegioweb.com.br, biografia-letra John Napier viveu a maior parte de sua vida na majestosa propriedade de sua fa- mília, o castelo de Merchiston, em Edimburgo, Escócia, e vários anos de sua vida metido em problemas políticos e religiosos de seu tempo. Era grande opositor da igreja católica e defensor das ideias de John Knox e Jaime I. Em 1593 publicou uma obra que muitos consideravam como o livro das revelações, amplamente lido contra a Igreja de Roma intitulada A Plaine Discovery of the Whole Revelation of Saint John, na qual se propunha provar que o papa era o Anticristo e que o criador ten- cionava pôr fim ao mundo nos anos entre 1688 e 1700. O livro teve 21 edições, dez das quais publicadas ainda em vida do autor, o que fazia a Napier acreditar que se- guramente a sua reputação, ou seja, que o seu nome estava garantido na história em virtude do seu livro [Eve08]. As revelações de Napier eram tidas para muitos como profecias, ele chegou a escrever também sobre várias máquinas de guerra infernais. Previu inclusive que no futuro desenvolver-se-ia uma peça de artilharia que poderia eliminar de um campo de quatro milhas de circunferência todas as criaturas vivas que excedessem um pé de altura, que se produziriam dispositivos para navegar debaixo d'água e que se criaria um carro de guerra com uma boca que se acenderia para espalhar a destruição por todas as partes. A metralhadora, o submarino e o tanque de guerra, respectivamente, vieram concretizar esses vaticínios na Primeira Guerra Mundial [Eve08]. De acordo com Maor, [Mao08], foi a partir do conhecimento de geometria que Napier 6 Aproximação do Número de Neper chegou acidentalmente aos logaritmos; mais precisamente observando a fórmula sin(A)× sin(B) = cos(A−B)− cos(A+B) 2 . Esta fórmula e outras semelhantes para cos(A) × cos(B) e sin(A) × cos(B), então conhecidas como regras de adição e subtração, a sua importância consiste no facto do produto de duas expressões trigonométricas sin(A)× cos(B) poder ser calculado através da soma e diferença de outras expressões trigonométricas como cos(A−B) e cos(A+B). E como é mais fácil somar e subtrair do que multiplicar e dividir, essas fórmulas fornecem um sistema primitivo de redução de uma operação aritmética para outra mais simples. Terá sido essa ideia que levou o Napier à descoberta dos logaritmos. Admite-se ainda [Mao08] uma outra possibilidade, se calhar a mais direta que en- volveria os termos de uma progressão geométrica, uma sequência de números com proporção fixa entre os termos sucessivos, como por exemplo, 1, 2, 4, 8, 16,..., é uma progressão geométrica de razão 2. Se tomarmos por q a razão, então, começando com o 1, os termos da progressão são 1, q, q2, q3, q4,... assim por diante, pode-se notar que o termo n é qn−1. Antes mesmo de Napier, já se conhecia a relação simples entre os termos de uma progressão geo- métrica e os expoentes ou índices da razão comum. O Matemático alemão Michael Stifel (1487-1567), Arithmética Integra (1544), formulou esta relação da seguinte maneira: Se multiplicarmos quaisquer dois termos da progressão 1, q, q2,... o resul- tado será o mesmo que se somarmos os expoentes correspondentes. Por exemplo, q2 × q3= (q.q).(q.q.q) = q.q.q.q.q = q5, um resultado que poderíamos ter obtido so- mando os expoentes 2 e 3. De modo semelhante dividir um termo de uma expressão por outro equivale a subtrair os seus expoentes q5 q3 = q.q.q.q.q q.q.q = q2 = q5−3. E assim, temos a regra simples qm. qn = qm+n e q m qn = qm−n. 2.1 Tábua de logaritmos e contribuição de Henry Briggs Uma tabua de logaritmos é constituída essencialmente de duas colunas de números. A cada número da coluna a esquerda corresponde a um número à sua direita, cha- mado seu logaritmo. Para multiplicar dois números basta somar seus logaritmos; o 7 Aproximação do Número de Neper resultado é o logaritmo do produto. Para achar o produto, basta ler a tábua, da direita para esquerda, qual o número que tem aquele logaritmo. Semelhantemente, para dividir dois números basta subtrair os logaritmos. Para elevar um número a uma potência basta multiplicar o logaritmo do número pelo expoente. Finalmente, para extrair a raiz n-ésima de um número, basta dividir o logaritmo do número pelo índice da raiz. Para tal, usava-se uma tabela de duas colunas (ou duas linhas), que colocava em correspondência os termos de uma progressão geométrica (na verdade potências de um certo número) com os de uma progressão aritmética. Abaixo temos um exemplo simples de uma tábua de logaritmos: 2n 1 8 1 4 1 2 1 2 4 8 16 32 64 128 256 512 1024 2048 4096 n -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Observe que esta tábua de logaritmos tem a seguinte estrutura a0 a1 a2 a3 a4 a5 a6 a7 a8 a9 a10 a11 a12 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Por exemplo, se pretendesse multiplicar, 32 por 128, buscava-se na tabela os núme- ros correspondentes na segunda linha, que no caso são 5 e 7. A soma de 5 e 7 resulta 12, localizado na segunda linha, o qual tem como correspondente 4096 na primeira linha. Portanto, concluía-se que 32× 128 = 4096. Procedimento semelhante ocorria na divisão. Supomos a divisão de 1024 por 256, os números correspondentes, são 10 e 8, subtraindo 10-8=2. O número da primeira linha correspondente a 2 é 4. Logo, 1024÷ 256 = 4. A validade do método decorre das conhecidas leis: am × an = am+n e am ÷ an = am−n Assim, 32× 128 = 25 × 27 = 25+7 = 212 = 4096 e 1024÷ 256 = 210 ÷ 28 = 210−8 = 22 = 4 A inconveniência dessa tábua reside no facto de restringir o número de multiplica- 8 Aproximação do Número de Neper ções e divisões, uma vez que as potências de 2 crescem muito rapidamente, o que fez Napier recorrer a um número mais próximo de 1, cujas potências crescessem lentamente, proporcionando um grande número de produtos e quocientes imediatos. Outra solução seria o recurso a expoentes fracionários, mas como esses, não eram inteiramente conhecidos na época de Napier, então ele decidiu definitivamente optar por um número mais próximo de 1, no caso 0,9999999, ou 1− 10−7 Na notação moderna isto significa dizer que se na primeira tabela N = 107(1 − 10−7)L, então o expoente L é o logaritmo (neperiano) de N [Mao08]. Figura 2.2: Tabela de logaritmos de John Napier Fonte: https://tecnoaprendizagem.wordpress.com Depois do surgimento da primeira tábua de logaritmos de Napier, o matemático inglês Henry Briggs (1561-1631), professor da universidade de Londres e de Oxford, após uma concertação com Napier, elaboraram uma nova tábua de mais fácil uti- lização, contendo os chamados logaritmos decimais, ou logaritmos ordinários, que tiram proveito do facto de usarmos um sistema de numeração decimal [Lim85]. 9 Aproximação do Número de Neper Figura 2.3: Henry Briggs (1561 - 1631) Fonte: http://www.profesorenlinea.cl/matematica/logaritmos,Historia.html Durante mais de trezentos e cinquenta anos depois da descoberta dos logaritmos, a sua utilidade revelou-se decisiva na ciência e na tecnologia. A grande invenção de Napier foi inequivocamente adotada por toda comunidade ci- entífica da época. Na astronomia, há muito se aguardava por uma descoberta assim, que permitisse reduzir significativamente o trabalho e melhorasse o seu desempenho. O astrónomo e matemático francês Simon Laplace (1749 - 1827), considerou a nova descoberta como fundamental para a melhoria da qualidade de vida dos astrónomos a invenção dos logaritmos ao diminuir o trabalho, dobrou a vida dos astrónomos. Convencidos com o contributo que a nova descoberta trouxera para ciência, Bona- ventura Cavalieri, empenhou-se em divulgar os logaritmos na Itália, Johann Kepler fê-lo na Alemanha e Edmund Wingate na França. Wingate, aproveitou os anos que passou na França, para se tornar escritor de textos de aritmética elementar mais destacado da língua inglesa no século XVII. Outro inventor dos logaritmos a par de Napier, foi o suíço Jobst Bürgi (1552-1632), um construtor de instrumentos. Bürgi concebeu e construiu uma tábua de logaritmos independentemente de Napier e publicou os seus resultados em 1620, seis anos depois de Napier o ter feito. Porém, acredita-se que Napier foi primeiro mentor da ideia, ou seja, o primeiro inventor dos logaritmos. A diferença entre os dois inventores residia no facto de que a abordagem de Napier era geométrica, a de Bürgi era algébrica. Atualmente, um logaritmo é universalmente considerado como um expoente; assim, se n = bx, dizemos que x é o logaritmo de n na base b. Dessa definição, as leis dos logaritmos decorrem imediatamente das leis dos expoentes [Boy96]. 10 Aproximação do Número de Neper Figura 2.4: Tabela de logaritmos decimais Fonte: slideplayer.com.br Atualmente, com a utilização dos computadores, as tábuas de logaritmos perderam algo do seu poder como instrumento de cálculo, à semelhança do que acontece com outras tabelas matemáticas. Contudo, o estudo dos logaritmos ainda é, e certamente continuará a ser, importante na matemática e noutras ciências. Pois, embora te- nham sido inventados como ferramenta para facilitação de operações aritméticas, o desenvolvimento da matemática e de outras ciências mostra hoje que diversos fenó- menos naturais e mesmo sociais estão estreitamente relacionados com os logaritmos. Assim sendo, os logaritmos, que no princípio eram importantes apenas por causa das tábuas, mostraram ter apreciável valor intrínseco. 2.2 Surgimento do número de Neper a partir de questões financeiras Acredita-se também que o número de Neper possa ter origem nas questões financei- ras, sobretudo no conceito de juros compostos, ou valor pago sobre um empréstimo, o que remonta desde a época da história escrita. Importa recordar qual é o comportamento dos juros compostos. Imaginemos que investimos 100 unidades monetárias (u.m.) de capital inicial numa conta que paga 11 Aproximação do Número de Neper Figura 2.5: Jost Bürgi (1552 - 1632) Fonte: www.colegioweb.com.br, biografia-letra 5% de juros compostos anualmente. No final de um ano, o nosso saldo será de 100× 1.05 = 105. Esta soma será, para o banco, o novo capital que será reinvestido à mesma taxa. No final do segundo ano, o saldo deverá ser de 105× 1.05 = 110.25, no final do terceiro ano 110.25× 1.05 = 115.76, e assim sucessivamente. Ora, desse modo, teremos juros anuais sobre o valor original e juros anuais sobre o capital acu- mulado  daí o termo juros compostos [PP13]. Portanto, o nosso saldo cresce numa progressão geométrica, com a taxa comum de 1.05. No entanto, numa conta que pague juros simples, a taxa anual é aplicada sobre o valor original, que é o mesmo a cada ano. Se tivéssemos investido 100 u. m. a juros simples, de cinco por cento, o saldo aumentaria a cada ano de 5 dando-nos uma progressão aritmética 100, 105, 110, 115 e assim por diante. Portanto, o dinheiro investido a juros compostos  não obstante qual seja a taxa  vai, após certo tempo, crescer mais rápido se comparado ao investido a juros simples. O exemplo acima, dá-nos uma ideia do que acontece no caso geral. Vamos supor que investimos um capital inicial de P u.m. numa conta que paga r% da taxa de juros compostos anualmente. (Nos cálculos vamos exprimir r como uma dízima, por exemplo 0.05 em vez de 5%). Isto significa que, no final do primeiro ano, o saldo será P × (1 + r), e no final do segundo ano, P × (1 + r)2, e assim por diante até que de- pois de t anos o saldo será P×(1+r)t. Denotada esta soma por S chegamos à fórmula S = P × (1 + r)t. (2.1) Determinados bancos fazem o cálculo de juro acumulado várias vezes por ano. Por 12 Aproximação do Número de Neper Período de conversão n r n S Anual 1 0,05 105,00 Semestral 2 0,025 105,06 Trimestral 4 0,0125 105,09 Mensal 12 0,004166 105,12 Semanal 52 0,0009615 105,12 Diário 365 0,0001370 105,13 Tabela 2.1: Capitalização de juros compostos a uma taxa anual de 5% exemplo, uma taxa de juros anual de 5% é composta semestralmente, o banco usará metade da taxa de 2.5%. Assim teremos 100 × 1.0252 ou 105.0625, cerca de seis centavos a mais do que o mesmo dinheiro renderia se fosse composto anualmente a 5%. Na comunidade bancária podemos encontrar todos os tipos de composição de juros  anual, semestral, trimestral, semanal e mesmo ao dia. Para cada Período de con- versão o banco usa taxa de juros anual dividida por n, que é r n . Como em t anos existem (nt) períodos de conversão, um capital inicial P , após t anos renderá S = P × (1 + r n )nt (2.2) É claro que a equação (2.1) é apenas um caso especial da equação (2.2) o caso onde n = 1. Interessa fazer comparação da quantidade de dinheiro que um determinado capi- tal irá render depois de um ano para diferentes períodos de conversão, usando-se a mesma taxa de juros anual. Vamos tomar como exemplo P = 100 e r = 5% = 0.05. Com uma calculadora científica através da tecla exponencial (geralmente denotada por yx), poderemos usar multiplicações repetidas por um fator de (1 + 0.05 n ). Os resultados, mostrados na tabela 2.1, são bem surpreendentes. Como vemos uma quantia de 100 composta diariamente rende exatamente treze centavos a mais do que quando composta anualmente e cerca de um centavo a mais do que quando composta mensalmente ou semanalmente! Será que esta tendência se mantêm? Para explorarmos esta questão, supomos um caso especial da equação (2.2), quando r = 1. Isto significa uma taxa anual de juros de 100%, embora na prática não existam bancos que alcancem tanta oferta. Contudo, trata-se de uma suposição, ou seja, não é uma situação real, mas tem profundas consequências matemáticas. Vamos assumir que, P = 1 e t = 1 ano. A equação (2.2) fica S = (1 + 1 n )n. A 13 Aproximação do Número de Neper seguir vamos procurar saber qual será o comportamento desta fórmula para valores crescentes de n. Os resultados são dados na tabela 2.2. n (1 + 1 n )n 1 2 2 2.25 3 2.37037 4 2.44141 5 2.48832 10 2.25937 50 2.69159 100 2.70481 1000 2.71692 10000 2.71815 100000 2.71827 1000000 2.71828 Tabela 2.2: Termos da sucessão un = (1 + 1 n )n Observa-se que, a partir de certo valor, o aumento que n toma praticamente não afeta o resultado  as mudanças dão-se em dígitos cada vez menos significativos. Porém, coloca-se a questão de que se esse padrão continua. O que ocorre é que, não importa o quão elevado seja n, os valores de (1 + 1 n )n estacionam nalgum ponto em torno de 2.71828 . . . Não sabemos quem primeiro notou o comportamento peculiar da expressão (1 + 1 n )n à medida que n tende ao infinito, por isso, não se sabe ao certo a data da descoberta do número que mais tarde seria denotado por e. Parece provável, no entanto, que as origens do e recuem até ao início do século XVII, por volta da época em que Napier inventou os logaritmos. Em consequência, um bocado de atenção foi dada à lei dos juros compostos, e é possível que o número e tenha sido reconhecido pela primeira vez neste contexto. Mas antes de nos voltarmos para essas questões seria bom dar uma atenção mais detalhada ao processo matemático que se encontra na base e: o processo do limite. 2.3 Contribuição de Euler para o número de Neper O número de Neper, ou simplesmente, constante de Euler e, como é universalmente conhecida, foi usada pela primeira vez como base do sistema de logaritmos naturais, pelo Matemático suíço, Leonhard Euler, em 1736. O conceito por detrás desse nú- mero era bem conhecido desde a invenção dos logaritmos, cerca de um século antes por Napier. Porém, a padronização que tornou o seu uso universal coube ao Euler, o também responsável pelas distintas notações que hoje são usadas em vários ramos 14 Aproximação do Número de Neper da Matemática, como são os casos do pi, f(x) para funções; a, b, c para os lados de um triângulo ABC, s para o semiperímetro do triângulo ABC, r para o inraio do triângulo ABC, R para o circunraio do triângulo ABC, Σ para somatório e i para a unidade imaginária, √−1. Também deve-se a Euler, a notável fórmula eix = cosx + i sinx que para x = pi, a transforma em eipi + 1 = 0, uma igualdade que relaciona cinco dos mais importantes números da matemática. Por processos puramente formais, Euler chegou a um nú- mero enorme de relações curiosas, como ii = e −pi 2 por exemplo. Um facto importante que conseguiu estabelecer é que todo número real não nulo r tem uma infinidade de logaritmos (para uma dada base), todos imaginários se r < 0 e todos imaginários, excepto um, se r > 0. Na geometria plana aparece a reta de Euler. 2.3.1 Um pouco sobre vida e obra de Leonhard Euler Leonhard Euler, nasceu em 1707 na Basileia, Suíça. No começo, estudou teolo- gia, uma vez que o seu pai era um ministro religioso, esperava que o filho seguisse o mesmo caminho. Entretanto, Euler, muito cedo estudou com Jean Bernoulli e tornou-se amigo dos seus filhos, Daniel e Nicolaus (os irmãos Bernoulli) e através deles, descobriu a sua verdadeira vocação na Matemática. Em seguida passou a ser aluno de Jackes Bernoulli. Em 1727, aos 20 anos de idade, com ajuda dos irmãos Daniel e Nicolaus Bernoulli, Euler passou a pertencer à Academia de São Petersburgo, na Rússia, instituição que acabara de ser criada por Pedro, o Grande. Com a saída de Daniel que regressara a Suíça para ocupar o posto de Professor de Matemática na Universidade de Basileia, Euler passou a responder pela secção de matemática da Academia. Euler permaneceu no cargo durante 14 anos, tendo prestigiado sobremaneira a Aca- demia de São Petersburgo. A seguir mudou-se para a Academia de Berlim, na Alemanha onde a convite de Frederico, o Grande, desempenhou iguais funções du- rante os 25 anos seguintes. Fruto do reconhecimento do seu desempenho na Rússia, a Academia de S. Petersburgo continuou a pagar-lhe pensões durante todo o tempo que passou em Berlim. O carinho que os russos mantinham por Euler e o mau relacionamento com os membros da corte de Berlim, que na altura valorizavam mais os filósofos do que a geómetras, fizeram-no, em 1766, aceitar um convite de Catarina, a Grande, para retornar à Academia de São Petersburgo, onde ficaria os 17 anos seguintes de sua 15 Aproximação do Número de Neper vida. Euler morreu subitamente em 1783 com 76 anos de idade [Boy96]. Euler foi um escritor muito produtivo, tendo superado todos os matemáticos de sua época e não só, as suas contribuições figuram em todos os ramos da matemática. Como se não bastasse, a sua produtividade surpreendente não foi absolutamente prejudicada quando, pouco depois de seu retorno a São Petersburgo, teve a infelici- dade de ficar completamente cego. Embora já estivesse cego do olho direito desde 1735. A cegueira poderia ser um obstáculo intransponível que poderia pôr fim a sua produtividade científica, mas, Euler, extraordinariamente, superou essa grande dificuldade e manteve a atividade produtiva. Ajudado por uma memória fenomenal e por um poder de concentração incomum e imperturbável, Euler continuou seu trabalho criativo com a ajuda de um secretário que anotava suas ideias, expressas verbalmente ou escritas com giz numa lousa grande [Eve08]. Durante a sua vida, Euler publicou 530 trabalhos, entre livros e artigos, ao morrer, deixou ainda, uma série de manuscritos que enriqueceram as publicações da Aca- demia de São Petersburgo por mais 47 anos, dos quais puderam ser editados 886 trabalhos sobre a vida e obra de Euler, uma iniciativa levada a cabo pela Sociedade Suíça de Ciências Naturais, desde 1909. 16 Aproximação do Número de Neper Capítulo 3 Principais Teoremas e resultados fundamentais Neste capítulo vamos relembrar algumas definições e teoremas sobre sucessões, sé- ries e logaritmos com incidência nos resultados essenciais necessários ao estudo. São omitidas as demonstrações pois podem ser consultadas em muitos livros de análise real, podemos referir por exemplo [Fer91]. 3.1 Sucessões Esta secção vai abordar algumas noções básicas sobre sucessões, nomeadamente, definições, teoremas e certos resultados que serão necessários no presente estudo. Definição 3.1. Uma sucessão numérica ou sucessão de números reais é qualquer aplicação de N em R. Geralmente uma sucessão representa-se pelo seu termo geral, ou por recorrência, em que se dão a conhecer alguns dos primeiros termos, sendo o termo de ordem n definido através dos termos anteriores. Por exemplo, un = 3 + 4n é uma sucessão definida pelo termo geral, ao passo que, un = { u1 = 7 un+1 = un + 4, n ≥ 1 é a mesma sucessão definida por recorrência. Uma sucessão diz-se majorada, se o conjunto dos seus termos for majorado, isto é,[Mir78]: ∃b ∈ R, ∀n ∈ N : un ≤ b. E minorada, se o conjunto dos seus termos for minorado, ou seja, ∃a ∈ R ∀n ∈ N, : a ≤ un. Definição 3.2 (sucessão limitada). Uma sucessão simultaneamente majorada e mi- norada diz-se limitada. 17 Aproximação do Número de Neper Portanto, se a sucessão (un) for limitada teremos, ∃a, b ∈ R,∀n ∈ N. a ≤ un ≤ b. Em resumo temos: Seja (un) uma sucessão de números reais. Se, para todo o n ∈ N, se tem: un < un+1, a sucessão diz-se estritamente crescente. un ≤ un+1 a sucessão diz-se crescente. un > un+1 a sucessão diz-se estritamente decrescente un ≥ un+1 a sucessão diz-se decrescente. Normalmente, se (un) é crescente, a sucessão (−un) é decrescente; se (un) é decres- cente, (−un) é crescente. Uma sucessão decrescente ou crescente diz-se monótona. Dada uma sucessão (un), para averiguar se ela é crescente ou decrescente constrói-se a diferença un − un+1. Se esta diferença é não positiva então un ≤ un+1 e (un) é crescente; se a diferença é não negativa tem-se un ≥ un+1 e (un) é decrescente. É evidente que uma sucessão (un) pode não ser crescente nem decrescente. É, por exemplo, o caso de un − un+1 ser de sinal indeterminado e un−1 − un+1 e un − un+2 serem de sinais contrários. A sucessão diz-se, então, oscilatória  ora crescente, ora decrescente. Definição 3.3 (Progressão Aritmética). Uma sucessão (un) é uma progressão arit- mética se existe um número real r tal que un+1 − un = r,∀n ∈ N. Ao número r chama-se razão da progressão aritmétrica. O termo geral de uma progressão aritmética é: un = u1 + (n− 1).r A soma dos n primeiros termos da progressão aritmética é: Sn = u1 + un 2 × n, n ∈ N Definição 3.4 (Progressão Geométrica). Uma sucessão (un) de termos não nulos é uma progressão geométrica se existe um número r, tal que: un+1 un = r,∀n ∈ N 18 Aproximação do Número de Neper Ao número r chama-se razão da progressão geométrica. O termo geral de uma progressão geométrica é: un = u1.r n−1. A soma dos n primeiros termos de uma progressão geométrica de primeiro termo u1 e a razão r é: Sn = u1. 1− rn 1− r Uma sucessão (un) tem por limite a (e escreve-se un → a ou limun = a) se ∀ε > 0 ∃p ∈ N : (n > p⇒ |un − a| < ε) ou seja, un → a se e só se para qualquer ε > 0, existe uma ordem a partir da qual, todos os termos pertencem ao intervalo ]a − ε, a + ε[. A sucessão que verifica a propriedade indicada acima, diz-se convergente. 3.1.1 Teoremas importantes sobre sucessões Teorema 3.5. [teorema da unicidade do limite] Nenhuma sucessão tem dois limites distintos, ou seja, se a sucessão (un) tem limite este é único. Para o teorema que se segue notamos que uma sucessão se diz limitada se o conjunto dos seus termos o for. Teorema 3.6. Toda a sucessão convergente é limitada. Teorema 3.7 (Propriedades Algébricas). Sejam c ∈ R e (un) e (vn) sucessões con- vergentes para os limites u e v, respetivamente . Então, (i) un + vn, (cun) e (unvn) convergem para os limites u+ v, cu, uv respectivamente; (ii) Se un 6= 0,∀n ∈ N e u 6= 0 então ( 1un ) converge para 1u . Teorema 3.8. Sejam (un) e (vn) duas sucessões convergentes. Se un ≤ vn para qualquer n ∈ N, então 19 Aproximação do Número de Neper limun ≤ lim vn Teorema 3.9 (Teorema das sucessões enquadradas). Sendo un e vn sucessões con- vergentes com o mesmo limite a, e zn uma sucessão tal que a partir de certa ordem un ≤ zn ≤ vn, então, lim zn = a. Vamos apresentar a seguir uma classe importante de sucessões para as quais é fácil provar a sua convergência. Teorema 3.10. Toda a sucessão monótona e limitada é convergente. Definição 3.11. (Subsucessão) Sendo u e w duas sucessões, diremos que w é sub- sucessão de u se e somente se existir uma sucessão estritamente crescente v tal que w = u ◦ v (o que pressupõe naturalmente vn ∈ N para cada n ∈ N). Teorema 3.12. Toda a sucessão limitada de números reais possui uma subsucessão convergente. Teorema 3.13. A sucessão de números reais (un) diz-se de Cauchy se, dado ε > 0 arbitrário, existe N ∈ N tal que n,m > N , se tem |un − um| < ε O teorema que se segue enuncia uma propriedade fundamental das sucessões de Cauchy. Mas antes precisamos do seguinte resultado auxiliar. Proposição 3.14. Toda a sucessão de Cauchy é limitada. Teorema 3.15. Uma sucessão (un) de números reais é convergente se e só se for de Cauchy. 3.2 Séries Nesta secção são abordados alguns resultados sobre séries numéricas e séries de fun- ções, precisamente os que constituem pre-requisitos para a abordagem a posteriori. 20 Aproximação do Número de Neper 3.2.1 Séries numéricas Definição 3.16 (Séries). Sendo (un) uma sucessão numérica, chama-se série nu- mérica de termo geral (un) à expressão u1 + u2 + ...+ un + ..., que abreviadamente se costuma a escrever∑+∞ n=1 un ou, ainda ∑ un e ∑∞ n=1 un Associada a uma série, considera-se sempre uma sucessão das suas somas parciais definidas por s1 = u1 s2 = u1 + u2 s3 = u1 + u2 + u3 . . . sn = u1 + u2 + u3 + ...+ un A série ∑∞ n=1 un dir-se-á convergente ou divergente conforme a sucessão das somas parciais, sn, que lhe está associada for convergente ou divergente. A s = lim sn, no caso da convergência, chama-se soma da série. Definição 3.17 (Série absolutamente convergente). Diz-se que a série ∑+∞ n=1 un é absolutamente convergente se e só se a série dos valores absolutos (módulos) dos seus termos ∑+∞ n=1 |un| é convergente. Teorema 3.18. Se a série ∑+∞ n=1 un é absolutamente convergente então é conver- gente. Além disso | +∞∑ n=1 un| ≤ +∞∑ n=1 |un|. Definição 3.19 (Série Geométrica). Chama-se Série geométrica a ∑∞ n=0 un, quando (un) é uma progressão geométrica. A Série geométrica representa-se, habitualmente, por: ∞∑ n=0 arn 21 Aproximação do Número de Neper A sucessão associada à série é: s1 = a s2 = a+ ar s3 = a+ ar + ar 2 s4 = a+ ar + ar 2 + ar3 . . . sn = a+ ar + ar 2 + ar3 + · · ·+ arn 3.2.2 Alguns teoremas sobre séries Vejamos, agora, alguns teoremas que nos fazem concluir sobre a convergência ou divergência de séries: Teorema 3.20. A série ∑ arn converge se e somente se |r| < 1; na hipótese de convergência, a soma da série é a 1−r . Teorema 3.21. Se uma série ∑ un é convergente, então un → 0. Teorema 3.22. i) Sendo ∑∞ n=1 un e ∑∞ n=1 vn duas séries convergentes, de somas a e b, respetivamente, e wn = un + vn, então a série ∑∞ n=1wn é convergente e a sua soma é c = a+ b ii) Sendo ∑∞ n=1 un convergente de soma a e c um número real, a série ∑∞ n=1(cun) é convergente e tem por soma ac [Fer91]. Definição 3.23 (produto de séries numéricas). Geralmente, dadas duas séries ∑∞ n=0 an e ∑∞ n=0 bn Chama-se série produto à série ∑∞ n=0 cn, sendo c0 = a0b0 c1 = a0b1 + a1b0 c2 = a0b2 + a1b1 + a2b0 c3 = a0b3 + a1b2 + a2b1 + a3b0 . . . cn = a0bn + a1bn−1 + · · ·+ anb0 . . . Se ∑ an = a e ∑ bn = b forem absolutamente convergente, ∑ cn é convergente e 22 Aproximação do Número de Neper tem-se ∑ cn = ab Nota: ∑ an e ∑ bn podem ser convergentes sem que ∑ cn o seja. Teorema 3.24 (Critério de comparação). Suponhamos que, para qualquer n ∈ N, se tem 0 ≤ un ≤ vn, então, a) se ∑ vn é convergente, ∑ un também é convergente. b) se ∑ un é divergente, ∑ vn também é divergente. Teorema 3.25 (Critério da razão D'Alembert). Consideremos uma série ∑ un, de termos positivos. Então se a) existe um número r < 1 tal que, a partir de certa ordem, se tenha un+1 un ≤ r, a série ∑ un é convergente; b) a partir de certa ordem, se tem un+1 un ≥ 1, a série ∑un é divergente. 3.2.3 Séries de funções Definição 3.26 (Série de funções). Chama-se série de funções a uma expressão que se pode escrever na forma ∑∞ n=0 fn(x), com fn(x) funções reais de variável real todas definidas no mesmo intervalo [a, b]. Diz-se que a série ∑∞ n=0 fn(x) converge em [a, b], para a função s : [a, b]→ R se para cada x ∈ [a, b], s(x) = +∞∑ n=0 fn(x) o que significa que, para cada x ∈ [a, b] lim n→+∞ n∑ k=0 fk(x) = s(x) A função s(x), dada por ∑+∞ n=0 fn(x), denomina-se soma da série ∑+∞ n=0 fn. Teorema 3.27 (Critério de Weierstrass). Considerando a série de funções dada por∑+∞ n=0 fn(x) definida no intervalo [a, b]. Se: i)existem constantes Mn tais que |fn(x)| ≤Mn, ii) a série numérica ∑+∞ n=0Mn é convergente, então a série ∑+∞ n=0 fn(x) é absolutamente convergente em [a, b]. 23 Aproximação do Número de Neper Definição 3.28 (Série de potência de (x− a)). Uma série de potência de (x− a) é uma série da forma [Fer09]: ∞∑ n=0 an(x− a)n = a0 + a1(x− a) + a2(x− a)2 + · · ·+ an(x− a)n + · · · Definição 3.29 (Série de potência de x). Uma série de potência de x, é uma série da forma: ∞∑ n=0 anx n = a0 + a1x+ a2x 2 + · · ·+ anxn + · · · (É o caso particular das séries de potências de (x− a) onde se considera a = 0) Definição 3.30 (Produto de séries de potências). Se tivermos ∑∞ n=0 anx n e ∑∞ n=0 bnx n a série de produto é dada por ∞∑ n=0 (a0bn + a1bn−1 + · · ·+ anb0)xn Teorema 3.31 (Raio de convergência de série de potências). Seja a série de potên- cias ∑+∞ n=0 an(x− a)n podem acontecer três situações: i) ∑+∞ n=0 an(x− a)n converge apenas para x = a ii) ∑+∞ n=0 an(x−a)n converge absolutamente em ]a−r; a+r[ e diverge em ]−∞; a−r[ e ]a+ r; +∞; [. iii) ∑+∞ n=0 an(x− a)n converge absolutamente em R. Ao valor de r chama-se raio de convergência. Portanto, no caso de existência do limite quando an 6= 0, o raio de convergência da série de potências ∑+∞ n=0 an(x− a)n pode ser dado por, lim | an an+1 | = r (3.1) Definição 3.32 (Teorema de Taylor). Se uma determinada função f tiver derivada de ordem n num determinado intervalo fechado com extremos a e x, sendo x > a ou x < a, existe pelo menos,um ponto c, do interior desse intervalo tal que[Fer09] 24 Aproximação do Número de Neper f(x) = f(a) + (x− a)f ′(a) + (x− a) 2 2! f ′′(a) + (x− a)3 3! f ′′′(a) + · · · · · ·+ (x− a) n n! f (n)(a) + (x− a)n+1 (n+ 1)! f (n+1)(c) (3.2) Para a = 0, a fórmula de Taylor assume a forma f(x) = f(0) + xf ′(0) + x2 2! f ′′(0) + · · ·+ x n n! fn(0) + xn+1 (n+ 1)! f (n+1)(c), (c entre x e 0) A expressão acima é designada por fórmula de Mac-Laurin. Pode se notar que se substituirmos f(x) (em pontos próximos de a) por Pn(x) = f(a) + (x− a)f ′(a) + (x− a) 2 2! f ′′(a) + · · ·+ (x− a) n n! f (n)(a), teremos um erro dado pela expressão Rn(x) = (x− a)n+1 (n+ 1)! f (n+1)(c) denominado resto de Lagrange de ordem n. Teremos então, lim x→a Rn(x) (x− a)n = limx→a (x− a)n+1 (x− a)n(n+ 1)! .f (n+1)(c) = lim x→a x− a (n+ 1)! .f (n+1)(c) = 0 3.3 Logaritmos No capítulo 2 deste trabalho falamos do surgimento do e, e vimos que a sua história está intimamente ligada à dos logaritmos, aliás, o e constitui a base do logaritmo natural, também conhecido como logaritmo neperiano. Nesta secção iremos rever a definição e principais propriedades operatórias, resultados de que precisaremos nas aplicações do número de Neper na vida prática. Logaritmo é uma função matemática que sendo a e b números reais positivos e a di- ferente de 1 (0 < a 6= 1, b > 0), denominamos logaritmo de b na base a, ao expoente em que a deve ser elevado de modo que a potência obtida de base a seja igual a b loga b = x⇔ ax = b [Ste06]. Sendo que: 25 Aproximação do Número de Neper Figura 3.1: Logaritmo a - é a base do logaritmo, tem de ser um número real positivo, diferente de 1 (0 < a; e a 6= 1). b - é o logaritmando, deve ser um real positivo (b > 0). x - é logaritmo. Da definição de logaritmo e tendo sempre em conta as condições de existência, de- correm as seguintes propriedades: 1. loga a = 1 2. loga 1 = 0 3. loga a b = b 4. blogb a = a 5. Se loga b = loga c, então b = c. 3.3.1 Propriedades operatórias do logaritmo Para operarmos com os logaritmos, temos de ter em conta as seguintes condições: 1. Logaritmo do produto: numa mesma base a (0 < a 6= 1), o logaritmo do produto de dois números reais e positivos é igual à soma entre o logaritmo desses números. Ou seja, se 0 < a 6= 1, b > 0 e c > 0, então, loga(b.c) = loga b+ loga c 2. Logaritmo do quociente: numa mesma base a (0 < a 6= 1), o logaritmo do quociente de dois números reais e positivos é igual à diferença entre o logaritmo desses números. Ou seja, se 0 < a 6= 1, b > 0 e c > 0, então loga( bc) = loga b− loga c. 3. Logaritmo da potência: numa mesma base a (0 < a 6= 1), o logaritmo da potência de base positiva é igual ao produto do expoente pelo logaritmo da base 26 Aproximação do Número de Neper positiva. Ou seja, se 0 < a 6= 1, b > 0 e c ∈ R, então loga bc = c. loga b 4. Mudança de base: um logaritmo qualquer numa base a e o logaritmando b , fazendo a mudança de base, consiste em transformar esse logaritmo num quociente de um logaritmo formado por uma base c . A mudança de base resulta no quociente entre logaritmos em que tanto b quanto a passam a ser o logaritmando formado pela base c. Ou seja, se 0 < a 6= 1, b > 0 e c ∈ R (0 < c 6= 1), então loga b = logc blogc a . 3.3.2 Logaritmo neperiano O logaritmo neperiano, também denominado logaritmo natural de um número a, com a > 0, é o logaritmo desse número a, na base e. Representamos o logaritmo natural por ln. ln a = loge a Como a função logaritmo possui derivadas até a ordem (n+ 1), num dado intervalo, I, de R, então pode ser aproximada pelo polinómio de Taylor da forma: P (x) = f(a) + (x − a)f ′(a) + (x− a) 2 2! f ′′(a) + (x− a)3 3! f ′′′(a) + (x− a)4 4! f (4)(a) + · · ·+ (x− a) n n! f (n)(a) + (x− a)n+1 (n+ 1)! f (n+1)(ξ), ξ entre x e a. Vamos encontrar o polinómio de Taylor de ordem n em torno de a = 1. Comecemos em primeiro lugar a determinar as derivadas de f(x) = ln x. f(x) = lnx; f(1) = ln 1 = 0 f ′(x) = 1 x ; f ′(1) = 1. f ′′(x) = −1 x2 ; f ′′(1) = −1. f ′′′(x) = 2 x3 ; f ′′′(1) = 2. f (4)(x) = −6 x4 ; f (4)(1) = −6. . . . 27 Aproximação do Número de Neper f (n)(x) = (−1)n+1(n− 1)! xn ; f (n)(1) = (−1)n+1(n− 1)! Substituindo os termos na fórmula, teremos: Com a = 1 ln(x) = 0 + 1 1! (x − 1) − 1 2! (x − 1)2 + 2 3! (x − 1)3 − 6 4! (x − 4)4 + · · · + (−1) n+1 n (x − 1)n + (−1)n+1(x− 1)n+1 (n+ 1) ξn+1, ξ entre x e 1. ln(x) = (x − 1) − 1 2 (x − 1)2 + 1 3 (x − 1)3 − 1 4 (x − 1)4 + · · · + (−1) n+1 n (x − 1)n + (−1)n+1(x− 1)n+1 (n+ 1) ξn+1, ξ entre x e 1. 28 Aproximação do Número de Neper Capítulo 4 Métodos de cálculo da aproximação do número de Neper Este capítulo é dedicado ao estudo de três métodos de cálculo da aproximação do número de Neper, nomeadamente, o método da sucessão un = (1+ 1 n )n, o método da série ∑∞ n=0 1 n! e o método de frações contínuas ao longo dos quais são apresentadas as demonstrações dos principais resultados. No final faz-se a comparação da eficiência dos mesmos em termos de convergência do número de Neper. 4.1 Aproximação do e pela sucessão un = (1 + 1 n) n O número de Neper, começa a ser abordado no ensino secundário a partir do estudo de sucessões. Neste contexto surgem diversos limites que sugerem uma abordagem numérica, um desses limites é o da sucessão definida pelo termo geral un = (1 + 1 n )n. Nesta altura, o número de Neper e é apresentado aos alunos como sendo limite desta sucessão. Todavia, a abordagem que se faz a partir do 11 o ano, não é aprofundada, daí que, não se faz estudo da sua convergência, pese embora, alguns manuais referi- rem que esta sucessão é monótona crescente e limitada, cujos termos estão contidos no intervalo de [2, 3[ e consequentemente, a sucessão un = (1 + 1 n )n é convergente e o seu limite é um número maior do que dois e não superior a três, [Fer09]. Assim sendo, o aluno pode através da calculadora científica estimar o valor do e com de- terminado número de casas decimais corretas. Os manuais de matemática do 11 o ano sugerem atividades que visam calcular vários termos da sucessão un = (1 + 1 n )n de modo a confirmar que é crescente e estimar o valor do e. São sugeridas igualmente atividades relacionadas com a comparação dos valores do e que se obtém através da calculadora e usando a função ex. As atividades referidas no parágrafo anterior visam obter uma aproximação para o limite de un = (1 + 1 n )n, partindo do pressuposto de que uma sucessão toma valores tão próximos do seu limite quanto se queira, desde que se tome um termo de uma ordem suficientemente elevada. Entretanto, como a calculadora tem uma precisão 29 Aproximação do Número de Neper n un = (1 + 1 n )n 10 2.593742460 102 2.704813829 103 2.716923932 104 2.718145927 105 2.718268237 106 2.718280469 107 2.718281693 108 2.718281815 109 2.718281827 1010 2.718281828 1011 2.718281828 1012 2.718281828 1013 2.760577856 1014 1 1015 1 1016 1 Tabela 4.1: Tabela de aproximação do e pela sucessão un = (1 + 1 n )n finita, aquele facto não corresponde à verdade. Para determinadas ordens, os valo- res apresentados na calculadora afastam-se muito do número e. Esta situação pode induzir o aluno em erro, uma vez que ele não está familiarizado com este tipo de problemas e desconhece o valor exato do número e. Interessa que o professor informe ao aluno de que, a calculadora permite-nos ter uma ideia do limite de uma sucessão, porém, em muitos casos falha devido aos erros de arredondamento, o que faz com que apresente determinados valores que não tenham a ver com a realidade. A tabela 4.1 mostra aproximações dos termos da sucessão que se obtém da calcula- dora TI - 83 plus. A tabela 4.1 mostra aproximações que vão melhorando a medida que n cresce. No entanto, para n = 10k, com k desde 1 até 10, as aproximações obtidas apresentam k algarismos corretos, deste modo n = 1010, tem 10 algarismos corretos, o valor da precisão proporcionada pela máquina calculadora, uma vez que a máquina apresenta resultados com o máximo de 10 algarismos. Ora, se usarmos n = 1011, obtemos no visor da máquina a mesma aproximação já obtida com n = 1010. Pois, internamente os cálculos são efetuados com 14 dígitos, é possível extrair mais um algarismo cor- reto para valor de e, o que resulta numa aproximação de e = 2.7182818284 Da mesma maneira, com n = 1012 podemos, procedendo de modo análogo, obter mais um algarismo e, o número assim construído é 2.71828182845, porque, para 30 Aproximação do Número de Neper n = 10k com k ≥ 14 (k inteiro), obtém-se sempre o valor 1 na máquina, isto deve-se ao facto de, para estes valores de k , ter-se 1 + 1 10k = 1 por ser 1 10k menor do que a precisão da máquina. Para n = 1013 obtém-se a aproximação 2.760577856, que não é a melhor que aproximação dada para n = 1012. Acredita-se que este tipo de abordagem, que constituiu um problema prático, na matemática financeira, permitiu a introdução do número de Neper por forma a su- perar o obstáculo que existia de considerar o infinito como um número grande, o que levava a ideia de que 1∞ = 1 [Mao08]. ... o comportamento peculiar da expressão (1 + 1 n )n para valores grandes de n deve parecer de facto intrigante. Suponha que consideremos apenas a expressão dentro dos parênteses,(1 + 1 n ), à medida que n aumenta, 1 n fica cada vez mais próximo de 0 e assim 1 + 1 n fica cada vez mais próximo de 1, embora seja sempre maior do que 1. Assim, podemos ser tentados a concluir que para um valor grande de n realmente grande (...) a expressão (1+ 1 n ) pode ser substituída por 1. Agora, elevado a qualquer potência é sempre igual a 1. Portanto, parece que (1 + 1 n )n para valores grandes de n deve se aproximar do número 1. [Mao08]. Vamos a seguir apresentar a prova em duas etapas de que a sucessão un = (1 + 1 n )n é convergente, nomeadamente, primeiro, demonstrar que a sucessão un = (1 + 1 n )n, é crescente e depois que está compreendida entre dois e três (2 ≤ un ≤ 3), logo o seu limite existe [Fer09]. 4.1.1 A sucessão un = (1 + 1 n )n é crescente Comecemos por provar que a sucessão de termo geral un = (1+ 1 n )n com (n = 1, 2, ...) é de termos positivos e crescente. Note-se que para qualquer n inteiro e positivo, a sucessão un = (1 + 1 n )n é uma potência de base positiva. A demonstração de que a sucessão é crescente será feita à custa da aplicação da fórmula do binómio de Newton. Desenvolvendo (1 + 1 n )n por aplicação do binómio de Newton obtemos: (1 + 1 n )n = ( n n ) 1n( 1 n )0 + ( n n− 1 ) 1n−1( 1 n )1 + ( n n− 2 ) 1n−2( 1 n )2 + ... · · ·+ ( n n− k ) 1n−k( 1 n )k + ...+ ( n 1 ) 11( 1 n )n−1 + ( n 0 ) 10( 1 n )n Efetuando os cálculos obtemos: 31 Aproximação do Número de Neper (1 + 1 n )n = n! n!(n− n)! + n! (n− 1)!(n− n+ 1)! . 1 n + n! (n− 2)!(n− n+ 2)! . 1 n2 + · · · + n! (n− k)!(n− n+ k)! . 1 nk + · · ·+ · · ·+ n! 1!(n− 1)! . 1 nn−1 + n! 0!(n− 0)! . 1 nn = 1 + 1 + n(n− 1) 2! . 1 n2 + · · ·+ · · ·+ n(n− 1) · · · (n− k + 1) k! . 1 nk + · · ·+ + n(n− 1) · · · 3.2 (n− 1)! . 1 nn−1 + n(n− 1) · · · 2.1 n! . 1 nn Finalmente, podemos dar ao desenvolvimento inicial a forma (1 + 1 n )n = 1 + 1 + 1 2! n− 1 n + · · ·+ 1 k! (n− 1) · · · (n− k + 1) nk−1 + · · ·+ + 1 (n− 1)! (n− 1)(n− 2) · · · 3 .2 nn−2 + 1 n! (n− 1) · · · 2 .1 nn−1 = 1 + 1 + 1 2! (1− 1 n ) + · · ·+ 1 k! (1− 1 n ).(1− 2 n ) · · · (1− k − 1 n ) + · · ·+ 1 (n− 1)! (1− 1 n ).(1− 2 n ) · · · (1− n− 2 n ) + 1 n! (1− 1 n ).(1− 2 n ) · · · (1− n− 1 n ) (4.1) Obtivemos assim uma soma de n + 1 parcelas. Quando n aumenta, aumenta o nú- mero de parcelas. Por outro lado, cada uma das parcelas cresce com n porque, por exemplo, 1 k! (1− 1 n )(1− 2 n ) · · · (1− k − 1 n ) < 1 k! (1− 1 n+ 1 )(1− 2 n+ 1 ) · · · (1− k − 1 n+ 1 ) cresce com n visto que qualquer dos fatores 1− i n é crescente com n (atenda a que k não depende de n). Portanto un = (1− 1n)n é uma sucessão crescente. 4.1.2 A sucessão un = (1 + 1 n )n, é limitada A seguir vamos provar que a sucessão (1 + 1 n )n, é limitada [Fer09]. Uma vez que qualquer um dos fatores (1− i n ) é inferior a 1, podemos escrever (com base na igualdade deduzida em (4.1) que 32 Aproximação do Número de Neper (1 + 1 n )n ≤ 1 + 1 + 1 2! + 1 3! + · · ·+ 1 n! (4.2) (substituindo no caso todos os fatores (1− i n ) por 1). Ora, como 1 k! < 1 2k−1 (k = 3, 4, · · · , n) temos que (1 + 1 n )n < 1 + 1 + 1 2 + 1 22 + · · ·+ 1 2k−1 + · · ·+ 1 2n−1 E, finalmente (1 + 1 n )n < 2 + 1 2 1− (1 2 )n−1 1− 1 2 = 2 + 1 2 − 1 2n−1 1 2 1− 1 2 ( 1 2 , 1 22 , · · · , 1 2n−1 podem representar os termos de uma progressão geométrica com o 1 o termo igual 1 2 e razão 1 2 ). Mas, 1 2 − 1 2n−1 1 2 1− 1 2 = 1 2 − 1 2n−1 1 2 1 2 = 1− 1 2n−1 Portanto, (1 + 1 n )n < 2 + 1− 1 2n−1 = 3− 1 2n−1 Em suma, (1 + 1 n )n < 3,∀n ∈ N Por outro lado, conclui-se que un ≥ 2 (uma vez que se u1 = 2 e atendendo que (1 + 1 n )n é crescente). Concluímos que, 2 ≤ (1 + 1 n )n < 3. O mesmo é dizermos que (1 + 1 n )n é limitada. Atendendo que a sucessão de termo geral (1 + 1 n )n é monótona e limitada, com o respeito ao teorema 3.10, ela é convergente. Denotemos por e o seu limite, ou seja, 33 Aproximação do Número de Neper lim n→∞ (1 + 1 n )n = e. 4.1.3 Propriedade da sucessão un = (1 + a vn )vn A seguir vamos apresentar algumas propriedades relacionadas com o limite. Tem-se que; lim(1 + 1 vn )vn = e desde que vn tenda para +∞ ou −∞. De facto, se vn → +∞, a partir de certa ordem vn > 1. Consideremos, então, o número inteiro α que depende de n, tal que α ≤ vn < α + 1. Estas desigualdades podem tomar a forma 1 α ≥ 1 vn > 1 α + 1 Finalmente, adicionando uma unidade, obteremos 1 + 1 α + 1 < 1 + 1 vn ≤ 1 + 1 α Desta expressão e da inicial resulta (1 + 1 α + 1 )α ≤ (1 + 1 vn )vn < (1 + 1 α )α+1 Mas, lim α→+∞ (1 + 1 α + 1 )α = lim α→+∞ (1 + 1 α + 1 )α+1(1 + 1 α + 1 )−1 = = lim α→+∞ (1 + 1 α + 1 )α+1. lim α→+∞ (1 + 1 α + 1 )−1 = e.1 = e (note-se que se vn −→ +∞ também α −→ +∞). e lim α→+∞ (1 + 1 α )α+1 = lim α→+∞ (1 + 1 α )α(1 + 1 α ) = lim α→+∞ (1 + 1 α )α. lim α→+∞ (1 + 1 α ) = e.1 = e 34 Aproximação do Número de Neper Então, pelo teorema 3.9 nomeadamente, teorema das sucessões enquadradas, con- cluímos que lim(1 + 1 vn )vn = e desde que vn → +∞. Se vn → −∞, fazendo wn = −vn, temos que (1 + 1 vn )vn = (1 + 1 −wn ) −wn = ( 1− wn −wn ) −wn = = ( −wn 1− wn ) wn = ( wn wn − 1) wn = ( wn − 1 + 1 wn − 1 ) wn = (1 + 1 wn − 1) wn Então, lim vn→−∞ (1 + 1 vn )vn = lim wn→+∞ (1 + 1 wn − 1) wn = lim(1 + 1 wn − 1) wn−1.(1 + 1 wn − 1) = = e.1 = e porque se vn → −∞ então wn → +∞ e podemos utilizar o resultado antes deduzido. Assim, lim(1 + 1 vn )vn = e desde que vn → −∞. Vamos definir a função exponencial por ex = lim vn→∞ (1 + x vn )vn desde que x 6= 0 e vn → +∞ ou vn → −∞. Basta, agora notar que (1 + x vn )vn = (1 + 1 vn x )vn = [(1 + 1 vn x ) vn x ]x então, sendo o limite de vn +∞ ou −∞, também o limite de vnx será +∞ ou −∞ (sinal igual ou contrário ao de vn conforme x > 0 ou x < 0), pelo que lim(1 + 1 vn x ) vn x = e. Então, lim[(1 + 1 vn x ) vn x ]x = ex (pode se notar que x funciona como constante; a variável é n). 35 Aproximação do Número de Neper 4.2 Aproximação do e pela série ∑+∞ n=0 1 n! Na secção anterior calculou-se a aproximação do número de Neper através da su- cessão un = (1 + 1 n )n utilizando a máquina calculadora científica. Verificou-se que o mesmo é pouco eficiente em termos de aproximação do número Neper dada a instabilidade que apresenta, conforme se viu na tabela 4.1. Esta situação leva a necessidade de estudar outros métodos mais sofisticados, um dos quais, é o da série∑+∞ n=0 1 n! . Nesta secção vamos tratar de fazer o estudo da aproximação do número de Neper através da série ∑+∞ n=0 1 n! , mais precisamente, demonstrar alguns resultados impor- tantes à volta da série e calcular a aproximação do e a partir das respetivas somas parciais. Uma vez que a representação do número de Neper está associada à escrita de uma soma de infinitos termos (ver 4.2), isto permite abordar uma série, que parece ser convergente. A seguir vamos começar por provar que lim n→∞ (1 + 1 n )n = +∞∑ n=0 1 n! = e. Para verificar esta conjectura, inicialmente determinamos um limite superior. Isto pode ser feito usando algumas desigualdades simples e cálculos numéricos, uma im- portante ferramenta a ser explorada. Seja, s = ∑+∞ n=0 1 n! . Para determinar se existe um limite superior para s, tem-se que: 1 n! = 1 1.2.3.4 · · ·n = 1 1 . 1 2 . 1 3 · · · 1 n < 1.( 1 2 )n−1 = 1 2n−1 +∞∑ n=0 1 n! = a1 + a2 + a3 + · · ·+ an + · · · ≤ 1 + 1 + 1 2 + 1 22 + 1 23 + · · ·+ 1 2n−1 + · · · +∞∑ n=0 1 n! < 1 + 1 + ∞∑ n=1 1 2n Obtivemos acima uma série Geométrica com o primeiro termo 1 2 e razão r = 1 2 . Soma = 1 2 + 1 22 + 1 23 + · · ·+ 1 2n−1 + · · · = 1 2 1− 1 2 = 1. 36 Aproximação do Número de Neper Daí: s < 1 + 1 + 1 2 + 1 22 + 1 23 + · · ·+ 1 2n−1 + · · · = 1 + 1 + 1 = 3⇒ s < 3. s > 2 porque s = 1 + 1 + 1 2! + 1 3! + · · · + 1 k! + · · · > 2, então s é finito e fica limitado pela desigualdade 2 < s < 3. Deste modo, com respeito a expressão (4.2), 2 < e ≤ s < 3 sejam un = (1 + 1 n )n e sn = n∑ k=0 1 k! Para 2 ≤ p ≤ n, temos un = (1 + 1 n )n = 1 + 1 + 1 2! (1− 1 n ) + 1 3! (1− 1 n )(1− 2 n ) + · · ·+ 1 p! (1− 1 n )(1− 2 n ) · · · (1− p− 1 n ) + · · ·+ 1 n! (1− 1 n )(1− 2 n ) · · · (1− n− 1 n ) ≥ 1 + 1 + 1 2 (1− 1 n ) + 1 3! (1− 1 n )(1− 2 n ) + · · ·+ 1 p! (1− 1 n )(1− 2 n ) · · · (1− p− 1 n ). Fixando p e tomando limite em n obtemos limun ≥ 1 + 1 + 1 2! + 1 3! + · · ·+ 1 p! e ≥ p∑ k=0 1 k! Considerando o limite quando p→∞, obtemos e ≥ s. Logo podemos definir e = lim vn→∞ (1 + 1 vn )vn = 1 + 1 + 1 2! + 1 3! + · · · = +∞∑ n=0 1 n! A expressão acima permite aproximar o número de Neper, a partir de infinitas par- celas compostas de números racionais. Com a calculadora científica podemos calcular a aproximação do e. A tabela 4.2 apresenta as aproximações obtidas pelas somas parciais da série para alguns valores de n. É de notar que não se verifica o mesmo erro que na tabela 4.1, os primeiros dígitos vão ficando fixos até que o número estabiliza em 2.7182818. No entanto, é de 37 Aproximação do Número de Neper notar igualmente que o visor da máquina calculadora contém um número limitado de casas decimais. O resultado do número de Neper que a máquina calculadora nos fornece (e = 2,718281828), dá-nos uma perceção de certa regularidade na parte decimal (8281), própria de um número racional. Mas, será que o número de Neper é um número racional? A seguir vamos apresentar uma prova simples da irracionalidade do número de Ne- per. A prova é por redução ao absurdo. 4.2.1 Prova da irracionalidade do e Vamos supor que e = p q , com p e q números inteiros primos entre si e q diferente de zero. e = p q = 1 + 1 + 1 2! + 1 3! + · · ·+ 1 (q − 1)! + 1 q! + 1 (q + 1)! + · · ·+ 1 n! + · · · , onde q < n. Multiplicando-se ambos os membros por q!, teremos: p q .q! = 1.q! + 1.q! + 1 2! .q! + 1 3! .q! + · · ·+ 1 (q − 1)! .q! + 1 q! .q! + 1 (q + 1)! .q!+ 1 (q + 2)! .q! + · · ·+ 1 n! .q! + · · · ⇔ p q .q! = q! + q! + 1 2! .1.2.3.4.5.6 · · · q+ 1 3! .1.2.3.4.5.6 · · · q+ · · ·+ 1 (q − 1)! .q.(q−1)! + 1 q! .q! + 1 (q + 1)q! .q! + 1 (q + 2).(q + 1)q! .q! + · · ·+ 1 n! .q! + · · · ⇔ p.(q − 1) · · · 3.2.1 = [q! + q! + (3.4.5.6 · · · q) + · · ·+ q + 1] + 1 q + 1 + + 1 (q + 2).(q + 1) + · · ·+ 1 n! q! + · · · ⇔ p.(q − 1) · · · 3.2.1− [q! + q! + (3.4.5.6 · · · q) + (4.5.6. · · · q) + · · ·+ q + 1] = = 1 q + 1 + 1 (q + 2).(q + 1) + · · · 1 n! q! + · · · No primeiro membro as parcelas são números inteiros positivos, porque q ≥ 2. No segundo membro, as parcelas são frações, das quais uma vez que q ≥ 2, implica que 1 q ≤ 1 2 , e: 38 Aproximação do Número de Neper 1 q + 1 ≤ 1 3 1 (q + 2)(q + 1) ≤ 1 3 . 1 3 = 1 32 1 n! .q! ≤ 1 3 . 1 3 · · · 1 3 = 1 3n−(q+1) Assim sendo, no segundo membro: 1 q + 1 + 1 (q + 2).(q + 1) + · · · 1 n! q!+ · · · ≤ 1 3 + 1 32 + · · ·+ 1 3n−(q+1) + · · · , obtém-se uma série geométrica com o primeiro termo a1 = 1 3 e razão r = 1 3 . A soma destas parcelas é: 1 q + 1 + 1 (q + 2)(q + 1) + 1 n! q!+ · · · ≤ 1 3 + 1 32 + · · ·+ 1 3n−(q+1) + · · · = a1 1− r = 1 3 1− 1 3 = 1 3 2 3 = 1 2 . Então chegamos à conclusão que um inteiro positivo é menor que 1 2 , o que é um absurdo. Logo, o número de Neper não pode ser um número racional, ou seja, é um número irracional. n somas parciais da série ∑∞ n=0 1 n! aproximação 0 1 0! 1 1 1 0! + 1 1! 2 2 1 0! + 1 1! + 1 2! 2.5 3 1 0! + 1 1! + 1 2! + 1 3! 2.666666667 4 1 0! + 1 1! + 1 2! + 1 3! + 1 4! 2.708333333 5 1 0! + 1 1! + 1 2! + 1 3! + 1 4! + 1 5! 2.716666667 6 1 0! + 1 1! + 1 2! + 1 3! + 1 4! + 1 5! + 1 6! 2.718055555 7 1 0! + 1 1! + 1 2! + 1 3! + 1 4! + 1 5! + 1 6! + 1 7! 2.718253968 8 1 0! + 1 1! + 1 2! + 1 3! + 1 4! + 1 5! + 1 6! + 1 7! + 1 8! 2.718278769 9 1 0! + 1 1! + 1 2! + 1 3! + 1 4! + 1 5! + 1 6! + 1 7! + 1 8! + 1 9! 2.718281525 10 1 0! + 1 1! + 1 2! + 1 3! + 1 4! + 1 5! + 1 6! + 1 7! + 1 8! + 1 9! + 1 10! 2.718281801 11 1 0! + 1 1! + 1 2! + 1 3! + 1 4! + 1 5! + 1 6! + 1 7! + 1 8! + 1 9! + 1 10! + 1 11! 2.718281828 12 1 0! + 1 1! + 1 2! + 1 3! + 1 4! + 1 5! + 1 6! + 1 7! + 1 8! + 1 9! + 1 10! + 1 11! + 1 12! 2.718281828 . . . . . . . . . 30 1 0! + 1 1! + 1 2! + 1 3! + 1 4! + 1 5! + 1 6! + 1 7! + 1 8! + 1 9! + 1 10! + 1 11! + 1 12! + 1 13! + · · · + 1 30! 2.718281828 . . . . . . . . . Tabela 4.2: Tabela de aproximação do e por série infinita 39 Aproximação do Número de Neper 4.2.2 ex = ∑∞ n=0 xn n! Vamos em seguida provar que [Fer09], ex = +∞∑ n=0 xn n! (4.3) Como aplicação da definição 3.2.3, vamos considerar a função x → exp(x) definida pela série de potências. exp(x) = 1 + x+ x2 2! + x3 3! + · · ·+ x n n! + · · · = ∞∑ n=0 xn n! . Então, é an = 1 n! . Portanto, utilizando do resultado (3.1), o seu raio de convergência é r = lim | an an+1 | = lim 1 n! 1 (n+ 1)! = lim (n+ 1)! n! = limn+ 1 = +∞ pelo que o intervalo de convergência de ∑+∞ n=0 xn n! é ]−∞,+∞[= R. Então, o domínio de exp(x) é R. Efetuamos agora, exp(x).exp(y): Recorrendo a definição 3.30 de produto de séries de potências, teremos, considerando as séries ∑∞ n=0 1 n! xn e ∑+∞ n=0 1 n! yn, a série produto ∞∑ n=0 cn sendo c0 = 1.1 = 1, c1 = 1.y + x.1 = x+ y, c2 = 1. y2 2! + x.y + x2 2! .1 = x2 + 2xy + y2 2! = (x+ y)2 2! , c3 = 1. y3 3! + x y2 2! + x2 2! y + x3 3! .1 = y3 + 3xy2 + 3x2y + x3 3! = (x+ y)3 3! 40 Aproximação do Número de Neper . . . cn = (x+ y)n n! Portanto, ( +∞∑ n=0 xn n! ).( +∞∑ n=0 yn n! ) = +∞∑ n=0 (x+ y)n n! e em consequência, exp(x).exp(y) = exp(x+ y). Desta forma pode-se concluir que exp(x).exp(−x) = exp(0). Verificando a fórmula que dá exp(x) pode-se concluir que exp(0) = 1. pelo que exp(−x) = 1 exp(x) Também exp(rx) = exp(x+ x+ · · ·+ x) = = exp(x).exp(x) · · · exp(x) = = [exp(x)]r Então [exp(x)]r = exp(rx), r ∈ N. Poderia se mostrar facilmente que esta propriedade é válida para qualquer r ∈ R; então, [exp(x)]r = exp(rx). Todas as propriedades deduzidas, até agora, mostram uma analogia de comporta- mento entre a função exp(x) e uma potência de base constante e expoente variável 41 Aproximação do Número de Neper (é isto a que chamamos uma exponencial). De facto, mostra-se que exp(1) = e exp(x) = exp(1.x) = (exp(1))x = ex pelo que podemos por ex = +∞∑ n=0 xn n! (e = lim(1 + 1 n )n). Conclui-se que lim x→+∞ ex = +∞ (basta notar, atendendo ao desenvolvimento em série de potências que ex > x) e limx→−∞ ex = 0. (basta notar que e−x = 1 ex ). Por outro lado, a função ex é estritamente crescente (conclui-se imediatamente da análise de ∑+∞ n=0 xn n! ) De tudo o que foi dito, conclui-se que ex = +∞∑ n=0 xn n! é uma aplicação de R em ]0,+∞[ estritamente crescente. O número de Neper pode ser definido como limite, para valores grandes de n da série: e = lim vn→∞ (1 + 1 vn )vn = +∞∑ n=0 1 n! . 4.2.3 (ex)′ = ex ex é uma função que é igual a sua derivada. A seguir apresentamos uma prova sim- ples deste resultado. 42 Aproximação do Número de Neper ex = 1 + x+ 1 2! x2 + 1 3! x3 + 1 4! x4 + · · ·+ x n n! + · · · Derivando os dois membros da igualdade, teremos (ex)′ = (1 + x+ 1 2! x2 + 1 3! x3 + 1 4! x4 + · · ·+ x n n! + · · · )′ (ex)′ = 1′ + x′ + ( 1 2! x2)′ + ( 1 3! x3)′ + ( 1 4! x4)′ + · · ·+ (x n n! )′ + · · · (ex)′ = 0 + 1 + 2x 2 + 3x2 3.2! + 4x3 4.3! + · · ·+ nx n−1 n(n− 1)! + · · · (ex)′ = 1 + x+ 1 2! x2 + 1 3! x3 + 1 4! x4 + · · ·+ x n−1 (n− 1)! + · · · = e x O que mostra precisamente que a derivada de ex é igual a ela mesma ex. 4.2.4 (cex)′ = cex Vamos a seguir provar que (cex)′ = cex, c ∈ R, é única função cuja derivada resulta nela mesma. Supomos que existam mais funções cujas as derivadas resultam nas referidas funções. f ′(x) = f(x) Se multiplicarmos ambos os lados da igualdade por e−x, teremos: e−xf ′(x) = e−xf(x) e−xf ′(x)− e−xf(x) = 0 (e−xf(x))′ = 0 Disto resulta; e−xf(x) = c f(x) = cex. Logo, cex é única função cuja derivada resulta nela mesma. 43 Aproximação do Número de Neper 4.2.5 Erro da aproximação do ex Vamos agora deduzir uma expressão para o erro da aproximação do e através da truncatura da série. Como a função f(x) = ex é infinitamente derivável, com recurso a equação (3.2) temos que, f(x) = ex Para x = 0, f(x) = ex ⇒ f(0) = e0 = 1 f ′(x) = ex ⇒ f ′(0) = e0 = 1 f ′′(x) = ex ⇒ f ′′(0) = e0 = 1 f ′′′(x) = ex ⇒ f ′′′(0) = e0 = 1 f (4)(x) = ex ⇒ f (4)(0) = e0 = 1 . . . f (n)(x) = ex ⇒ f (n)(0) = e0 = 1 Logo, por desenvolvimento de polinómio de Taylor temos que ex = f(a) + (x− a)f ′(a) + (x− a) 2 2! f ′′(a) + (x− a)3 3! f ′′′(a) + (x− a)4 4! f (4)(a) + · · ·+ (x− a)n n! f (n)(a) + (x− a)n+1 (n+ 1)! f (n+1)(ξ), com ξ entre a e x. Para a = 0, teremos ex = f(0) + (x− 0)f ′(0) + (x− 0) 2 2! f ′′(0) + (x− 0)3 3! f ′′′(0) + (x− 0)4 4! f (4)(0) + · · ·+ (x− 0)n n! fn(0) + (x− 0)n+1 (n+ 1)! eξ, com ξ entre 0 e x. Para x = 1 e1 = f(0) + (1− 0)f ′(0) + (1− 0) 2 2! f ′′(0) + (1− 0)3 3! f ′′′(0) + (1− 0)(4) 4! f (4)(0) + · · ·+ 44 Aproximação do Número de Neper (1− 0)n n! fn(0) + (1− 0)n (n+ 1)! eξ, com ξ entre 0 e 1. e1 = 1 + 1 + 1 2! + 1 3! + 1 4! + · · ·+ 1 n! + 1 (n+ 1)! eξ, com ξ entre 0 e 1. Ou seja, e = 1 + 1 + 1 2! + 1 3! + 1 4! + · · ·+ 1 n! + 1 (n+ 1)! eξ, com ξ entre 0 e 1. Estabelecido o erro da aproximação dado pela expressão 1 (n+ 1)! eξ, como o ξ está entre 0 e 1, podemos estimar o erro de qualquer aproximação do e. Vamos supor por exemplo que queremos calcular o valor do e com dez casas corretas. 1 (n+ 1)! eξ < 0.5× 10−10 Recorrendo ao resultado demonstrado acima que dá conta de que 2 < e < 3, pode- mos assumir eξ < e1 < 3, teremos então que, 1 (n+ 1)! 3 < 0.5× 10−10 3 (n+ 1)! < 0.5 1010 Ou seja, 3 (n+ 1)! < 5× 10−11 Em seguida procuramos os valores que substituídos em n satisfaçam a inequação. Para n = 1, teremos 3 2! > 5× 10−11, portanto, não satisfaz. Para n = 12, teremos, 3 13! > 5× 10−11, também não satisfaz. Para n = 13, teremos, 3 14! = 3.4412× 10−11 < 5× 10−11, satisfaz. 45 Aproximação do Número de Neper Portanto, para determinar o e com dez casas decimais corretas, teremos de calcular apenas treze termos da série. 46 Aproximação do Número de Neper 4.3 Aproximação do e pelas Frações contínuas A teoria de frações contínuas é um dos importantes assuntos da Matemática ele- mentar que continua a despertar interesse de muitos matemáticos, sendo ainda hoje tema de pesquisas. As frações contínuas são outra forma de representar um número real (racional e irracional), fornece aproximações racionais surpreendentemente boas, além de ser natural e conceitualmente simples. Acredita-se que o uso de frações contínuas remonta aos séculos XVI, XVII e XVIII, porém há indícios de que outros povos antigos conhecessem rudimentos desse tema. Segundo Boyer [Boy96], os primeiros passos foram dados pelo Pietro Antonio Cataldi de Bolonha (1548-1626), que escreveu algumas raízes quadradas na forma de frações contínuas. Uma fração contínua também chamada fração continuada, é uma forma importante de representar números reais. Em geral, apresenta a expressão da forma x = a0 + 1 a1 + 1 a2 + 1 a3 + 1 a4 + . . . = [a0; a1, a2, a3, a4, · · · ] Uma fração contínua é uma expressão obtida a partir de um processo iterativo para representação de um número como a soma de sua parte inteira mais o inverso da sua parte fracionária. No caso do número em causa for racional, o processo termina quando o número não mais tiver uma parte fracionária, pois que este processo pode ser utilizado para representação dos números racionais e irracionais. Para aproximar um número real (racional ou irracional) sob forma de frações con- tínuas, podem ser utilizados vários procedimentos, entre os quais, o procedimento aritmético, algébrico (com duas vias diferentes) e de Bombeli. O número de Neper, nosso objeto de estudo, pode também ser representado sob forma de frações contínuas, embora, a semelhança do pi e de outros números irra- cionais, seja uma representação infinita pelo facto do e ser igualmente um número irracional, conforme viu-se na demonstração feita na secção anterior. Por indução matemática pode-se deduzir uma expressão geral para a soma. 47 Aproximação do Número de Neper n∑ k=1 (−1)k+1 a1 × a2 × · · · × ak = 1 a1 + a1 a2 − 1 + a2 a3 − 1 + a3 . . . + . . . an−1 − 1 + an−1 an − 1 Com a1 > 0, ai > 1, i > 1. Fazendo, o limite n→∞, teremos que, ∞∑ k=1 (−1)k+1 a1 × a2 × · · · × ak = 1 a1 + a1 a2 − 1 + a2 a3 − 1 + a3 . . . + . . . an−1 − 1 + an−1 an − 1 + . . . Considerando que, e−1 = +∞∑ n=0 (−1)n n! , ou seja, e−1 − 1 = +∞∑ n=1 (−1)n n! . Sendo que, 1− e−1 = +∞∑ n=1 (−1)n+1 n! = +∞∑ k=1 (−1)k+1 1× 2× 3× · · · × k . Disto resulta que, e− 1 e = 1− e−1 = 1 1 + 1 2− 1 + 2 3− 1 + 3 4− 1 + 4 5− 1 + . . . (4.4) Invertendo (4.4), teremos, 48 Aproximação do Número de Neper e e− 1 = 1 + 1 1 + 2 2 + 3 3 + 4 4 + 5 5 + . . . (4.5) Passando o 1 para o outro membro, teremos e e− 1 − 1 = 1 1 + 2 2 + 3 3 + 4 4 + 5 5 + . . . (4.6) A seguir, invertendo (4.6), teremos, e− 1 = 1 + 2 2 + 3 3 + 4 4 + 5 5 + 6 6 + 7 7 + . . . (4.7) Finalmente, isolando o e teremos uma representação em fração contínua do número de Neper. e = 2 + 2 2 + 3 3 + 4 4 + 5 5 + 6 6 + 7 7 + 8 8 + 9 9 + 10 10 + 11 11 + 12 12 + 13 13 + 14 14 + . . . (4.8) Contudo, existem outras formas de representar o e por meio de frações continuas, 49 Aproximação do Número de Neper uma das quais apresentada em (4.9). A dedução matemática de frações contínuas pode ser consultada no livro[Cam12] e = 1 + 2 1 + 1 6 + 1 10 + 1 14 + 1 18 + 1 22 + 1 26 + 1 30 + 1 34 + 1 38 + 1 42 + . . . (4.9) Com recurso a esta ferramenta matemática, podemos aproximar o e e por con- seguinte fazer-se comparação com as duas formas vistas anteriormente, nomeada- mente, a aproximação feita a partir da sucessão un = (1 + 1 n )n, e da série numérica∑+∞ n=0 1 n! . As tabelas 4.5 e 4.6 trazem a ideia dos resultados da aproximação do nú- mero de Neper, por meio de frações contínuas sucessivas. A convergência da aproximação do número de Neper por frações contínuas, varia em função do tipo de frações contínuas a aplicar, sendo que algumas convergem mais rápido do que outras. Para as frações contínuas do tipo (4.8), com 10 iterações, te- mos o e com 9 dígitos corretos. Este processo embora seja infinito, permite estimar o erro da aproximação sem a necessidade de fazer muitas contas. O resultado apre- sentado na tabela 4.4 assegura-nos que para determinado número de dígitos corretos de Neper, teremos n+ 1 frações contínuas. A tabela 4.4 mostra o quanto a convergência pode ser rápida. Se aplicarmos outro tipo de frações contínuas, como por exemplo (4.9), teremos uma convergência ainda mais rápida. Com apenas 6 iterações, temos o e aproximado com 12 dígitos corretos, uma média de dois dígitos corretos por cada iteração. Em virtude de ter se provado a irracionalidade do e não é possível calcular todos os seus dígitos. Porém, com os métodos estudados é possível aproximar o e com o número de casas decimais que se deseja. Portanto, o e é representado por uma dízima infinita não periódica como se vê nos seus primeiros 130 dígitos. e = 2, 718281828459045235360287471352662497757247093699959574966967627724 076630353547594571382178525166427427466391932003059921817413596629 . . . 50 Aproximação do Número de Neper n Fração contínua Fração resultante Aproximação Erro x0 2 2 2 0.7182818284 x1 2 + 2 2 3 1 3 0.2817181715 x2 2 + 2 2 + 3 3 8 3 2.666666667 0.0516151619 x3 2 + 2 2 + 3 3 + 4 4 30 11 2.727272727 - 0.0089908987 x4 2 + 2 2 + 3 3 + 4 4 + 5 5 144 53 2.716981132 0.0013006964 x5 2 + 2 2 + 3 3 + 4 4 + 5 5 + 6 6 840 309 2.718446602 - 0.0001647734 x6 2 + 2 2 + 3 3 + 4 4 + 5 5 + 6 6 + 7 7 40320 14833 2.718263332 - 0.0000184968 x7 2 + 2 2 + 3 3 + 4 4 + 5 5 + 6 6 + 7 7 + 8 8 45360 16687 2.718283694 - 0.0000018653 x8 2 + 2 2 + 3 3 + 4 4 + 5 5 + 6 6 + 7 7 + 8 8 + 9 9 403200 148329 2.718281657 0.0000001709 x9 · · · 3991680 1468457 2.718281843 - 0.0000000142 x10 · · · 43545600 16019531 2.718281827 0.0000000012 Tabela 4.3: Tabela de aproximação do e por frações contínuas do tipo [4.8] 4.4 Comparação dos métodos de aproximação do número de Neper Como se viu no desenvolvimento deste capítulo, para a aproximação do número de Neper, são empregues vários métodos, três dos quais analisados neste estudo, designadamente, o método da sucessão un = (1 + 1 n )n, o método da série ∑∞ n=0 1 n! e o método de frações contínuas. A tabela 4.5 ilustra o comportamento de cada 51 Aproximação do Número de Neper n Fração contínua Fração resultante Aproximação Erro x0 1 x1 1 + 2 1 3 1 3 0.2817181715 x2 1 + 2 1 + 1 6 19 7 2.714285714 0.0039961142 x3 1 + 2 1 + 1 6 + 1 10 193 71 2.718309859 - 0.0000280305 x4 1 + 2 1 + 1 6 + 1 10 + 1 14 2721 1001 2.718281718 0.0000001103 x5 1 + 2 1 + 1 6 + 1 10 + 1 14 + 1 18 49171 18089 2.718281828 - 0.0000000002 x6 1 + 2 1 + 1 6 + 1 10 + 1 14 + 1 18 + 1 22 1084483 398959 2.718281828 0.0000000000 Tabela 4.4: Tabela de aproximação do e por frações contínuas do tipo [4.9] um dos três métodos em relação à aproximação do número de Neper. O método da sucessão, por exemplo, não é eficaz, é muito lento em termos de convergência. Para n = 106, ou seja, para n = 1000000 tem-se apenas o número de Neper aproximado com seis dígitos corretos, ao passo que com seis iterações aplicando o método de série numérica obtém-se o número de Neper com oito dígitos corretos. Já o método de frações contínuas é o mais eficaz, foram precisas apenas 6 iterações para se aproximar o número de Neper com 12 dígitos corretos, sendo por isso, o melhor em termos de precisão na aproximação do número de Neper se comparado com os dois anteriores. A eficiência do método de frações contínuas, suscitou interesse de estudiosos que desenvolveram vários tipos, alguns melhores do que outros, tal como vimos nos dois exemplos apresentados neste trabalho. 52 Aproximação do Número de Neper n un = (1 + 1 n )n n ∑∞ n=0 1 n! Fração contínua 1 2 0 1 1 10 2.593742460 1 2 1 + 2 1 3 102 2.704813829 2 2,5 1 + 2 1 + 1 6 2,714285714 103 2.716923932 3 2,666666667 1 + 2 1 + 1 6 + 1 10 2,718309859 104 2.718145927 4 2,708333333 1 + 2 1 + 1 6 + 1 10 + 1 14 2,718281718 105 2.718268237 5 2,716666667 1 + 2 1 + 1 6 + 1 10 + 1 14 + 1 18 2,718281828 106 2.718280469 6 2,718055555 1 + 2 1 + 1 6 + 1 10 + 1 14 + 1 18 + 1 22 2,718281828 107 2.718281693 7 2,718253968 · · · · · · 108 2.718281815 8 2,718278769 · · · · · · 109 2.718281827 9 2,718281525 · · · · · · 1010 2.718281828 10 2,718281801 · · · · · · Tabela 4.5: Comparação da aproximação do número de Neper por método 53 Aproximação do Número de Neper 54 Aproximação do Número de Neper Capítulo 5 Aplicação do e na vida prática O número de Neper, ou constante de Neper e tem muita importância na matemá- tica e bastante aplicação nas demais ciências, tais como Economia, Química, Física, Medicina e tantas outras, sobretudo em fenómenos que apresentam caraterísticas de crescimento e ou decrescimento, como por exemplo, o crescimento de uma determi- nada população. Neste trabalho vamos falar precisamente de três aplicações do e na vida prática, sendo a primeira relativa a matemática económica, nomeadamente no cálculo de juros compostos e a segunda no processo de desintegração radioativa, a sua vasta aplicação na Química, na Medicina, na Indústria, na Agricultura e na Arqueologia, e uma terceira aplicação na Teoria das Probabilidades, com maior enfoque na função de distribuição de Poisson. 5.1 Aplicação do e na Economia Na economia, o e é tem muitas aplicações, face a sua presença em diversos fenóme- nos económicos, uma das quais tem a ver com o cálculo de juros compostos. Juros compostos, é uma operação monetária bastante aplicada nos sistemas finan- ceiros, dadas as vantagens que oferece sob ponto de vista de rentabilidade. Os juros compostos consistem em fazer aplicações sobre aplicações, ou seja, aplicação constante de um montante em diferentes períodos de tempo (mensal, trimestral, semestral e anual,. . . ). O esquema abaixo, ajuda-nos a perceber melhor isto mesmo. Vamos supor que um cliente de um determinado banco pretende aplicar o seu di- nheiro a juros compostos numa quantia de 300 u.m. (unidade monetária) a uma taxa de 6% ao ano. Para a primeira capitalização, teremos; M(1) = 300× (1 + 0.06) = 318 55 Aproximação do Número de Neper Figura 5.1: Imagens de Euro, moeda do espaço europeu Fonte: https://www.dicasdaitalia.com.br Como se trata de juros compostos, teremos aplicação sobre aplicação, ou seja, tere- mos os seguintes resultados. M(2) = 318× (1 + 0.06) = 337.08 = 300× (1 + 0.06)2 M(3) = 337.08× (1 + 0.06) = 357.30 = 300× (1 + 0.06)3 M(4) = 357.30× (1 + 0.06) = 378.74 = 300× (1 + 0.06)4 . . . Verifica-se que o montante cresce numa progressão geométrica de razão 1.06, obtendo- se a fórmula; M(t) = P × (1 + r)t onde, M(t)  Montante ou valor final P  o Principal ou capital investido r  taxa de juro t  tempo ou período de capitalização Ora, se o cliente em causa resolver aplicar a mesma taxa de juros, mas em períodos de capitalização menores, nomeadamente, semestre, trimestre, mensal, diário e até mesmo por hora, isto é, fazer aplicação em n períodos cada vez menores. Matema- ticamente teremos a seguinte expressão. M(t) = P (1 + r n )nt Para o capital inicial de 300 investido pelo cliente do banco, teremos o seguinte rendimento, isto a julgar pelo tipo de capitalização aplicada [MT17]. 56 Aproximação do Número de Neper Capitalização n Valor final M(1) Anual 1 318.000 Semestral 2 318.270 Trimestral 4 318.409 Mensal 12 318.503 Diário 365 318.549 Por hora 8760 318.550 Por minuto 210240 318.550 Por segundo 12614400 318.550 Tabela 5.1: Tabela de capitalização de juros compostos Na tabela 5.1 vê-se que o montante final vai aumentando à medida que a frequên- cia dos períodos aumenta, embora que tal aumento seja em escala cada vez menor. Entretanto, podemos igualmente verificar que a diferença entre os resultados anual, semestral, trimestral e mensal é um tanto ou quanto significativa. Já não se observa o mesmo nas diferenças entre os valores finais por hora, minuto e segundo, uma vez que as mesmas são bastante insignificantes. Existe um limite, ou seja, à medida que n tender para números infinitamente grandes, o montante final, tenderá para aproximadamente, 318.550. Esta operação que desde há muito os bancos fazem, permite perceber que a mudança no período de capitalização não aumenta necessariamente a cobrança de juros de modo infinito, existe um limite de crescimento natural deste processo [QC17]. Assim sendo calculando o montante, teremos M(t) = lim n→∞ P (1 + r n )nt = lim n→∞ P ((1 + r n )n)t = Pert. Então o montante final de t anos com a capitalização contínua poderá ser calculado facilmente usando a fórmula [Pem07] M(t) = P × ert. Em que, M(t)  é o montante ou valor final P  Principal ou Capital inicial investido e  o número de Neper r  taxa de juro t  tempo É com esta fórmula simples que os bancos conseguem calcular o montante resultante 57 Aproximação do Número de Neper de qualquer aplicação de juros compostos continuamente a quaisquer taxas e período t. Ora, na sua aplicação é necessário que o número de Neper seja aproximado com um número adequado de dígitos corretos, por forma a reduzir a margem de erros e garantir maior eficácia dos resultados pretendidos. Exemplo Um capital de 15000.00 Euros é aplicado a taxa anual de 10% em 4 anos, com a capitalização contínua. Qual é o montante final? Dados P = 15000.00 t = 4 r = 10% = 0.1 M(t) = ? Resolução: M(t) = P × ert Calculando o montante com o e aproximado com 3 dígitos corretos, ou seja, e = 2.71, teremos o seguinte resultado. M(t) = 15000.00× (2.71)((0.1)×4) = 22350.07 Ora, tomando o e aproximado com 10 dígitos corretos, teremos o seguinte resultado. M(t) = 15000.00× e((0.1)×4) = 15000.00× e(0.4) M(t) = 22377.37 Temos uma diferença de 27,3 Euros que se consubstancia em perca, neste caso em particular, o cliente perderia essa diferença para o banco. Entretanto, se se tratasse de um empréstimo bancário, então o banco perderia tal diferença para o cliente. Ora, se o banco perdesse esta diferença para 1000 clientes, estávamos a falar num prejuízo avaliado em pouco mais de 27000.00 Euros. Por outro lado, as diferenças disto resultantes são proporcionais ao valor investido, ou seja, se se tratasse de somas avultadas de dinheiro, o prejuízo obviamente seria maior ainda, daí a necessidade imperiosa de se ter o e aproximado com um número adequado de casas decimais corretas. Por outro lado, é preciso saber que a aproximação do número de Neper com muitas 58 Aproximação do Número de Neper ou poucas casas decimais corretas, depende muito do tipo de modelo matemático a ser aplicado. Contudo, no capítulo anterior viu-se como estimar o erro da aproxi- mação para uma determinada precisão que se deseja. Nos casos de cálculo de juros compostos por exemplo, na possibilidade de determinar o número de casas corretas para se assegurar que o erro seja menor que 0.005, teremos o seguinte. Sabe-se que M(t) = P × ert. Como P, r e t são constantes, uma vez que representam números conhecidos a priori, pode-se facilmente determinar o número de casas corretas que o e deve tomar para um determinado modelo matemático, pela fórmula da propagação do erro ∂M ∂e = Prtert−1 Ea(M) ≤ |Prtert−1|Ea(e) Disto resulta que para Ea(M) ≤ 0.005, temos que ter Ea(e) < 0.005 Prtert−1 . Como a partir de um resultado anterior, sabemos que o erro da aproximação do e é dado pela expressão 1 (n+ 1)! eξ, que é majorado por 3 (n+ 1)! , teremos então que; 3 (n+ 1)! < 0.005 Prtert−1 A partir desta expressão, podemos calcular por exemplo o números de termos ne- cessários para que o erro seja menor a 0.005. P = 15000 t = 4 r = 0.1 3 (n+ 1)! < 0.005 Prtert−1 3 (n+ 1)! < 0.005 15000× 0.1× 4× 30.1×4−1 3 (n+ 1)! < 1.61× 10−6 59 Aproximação do Número de Neper Para n = 8 3 (9!) > 1.61× 10−6, não satisfaz. Para n = 9 3 (10!) < 1.61× 10−6, portanto, satisfaz. Isto significa que para calcular o montante final da aplicação de 15000 Euros por forma a que o erro seja menor do que 0.005, teremos que tomar o e aproximado com 9 termos da série. 5.2 Aplicação do e na desintegração Radioativa O e está presente nas diferentes manifestações da desintegração radioativa, conhe- cida também por decaimento radioativo, fenómeno que consiste na transformação de um átomo noutro através da radiação. Com o crescente desenvolvimento científico a utilização da desintegração radioativa conhece hoje uma vasta aplicação em várias áreas, trazendo vantagens e nalguns casos, desvantagens, quando utilizada por exemplo na produção de material bélico, como bombas nucleares, que hoje constituem uma séria ameaça à sobrevivência humana [PSF12]. Figura 5.2: Imagens de desintegração radioativa Fonte: http://www.myshared.ru/slide/1022959 Na figura 5.2 vemos imagens diferentes, porém, em todas, algo comum, a presença do processo da desintegração radioativa ou decaimento. Este processo é transversal, ou seja, tem aplicação em fenómenos estudados em várias ciências, como podemos 60 Aproximação do Número de Neper ver a seguir. Na Medicina, a ciência médica tem atualmente várias aplicações das radiações, desde o diagnóstico de doenças até o seu tratamento. Estamos a falar por exemplo, da radioterapia, o processo de eliminação de doenças como tumores malignos ou can- cerígenos no qual se utiliza geralmente o Raio X ou outras fontes de eletrões para se evitar a propagação da doença e por conseguinte garantir a restituição de células sadias [PSF12]. Figura 5.3: Imagens de Raio X Fonte:http://raio-x.info Na agricultura, através do processo da radiação, usam-se elementos radioativos para, entre outras aplicações, estudar os fertilizantes e o metabolismo dos minerais nas plantas, por exemplo medir a quantidade de fosfato existente no solo e o consumo de fósforo pelas plantas, bem como, no combate aos insetos. Na indústria, a radiação é importante no processo de conservação de alimentos fres- cos, como carnes, peixe e mariscos, uma vez que estes tipos de alimentos não pode passar por métodos convencionais de eliminação de bactérias como a pasteurização térmica. A radiação destrói fungos e bactérias e por conseguinte, impede o cresci- mento de agentes produtores de deterioração. Na Arqueologia, o processo da radiação permite por meio de fósseis achados um pouco por todo mundo, descobrir sobre a história das criaturas que existiram há muitos anos atrás, algumas das quais antes mesmo da existência do homem. Com o recurso ao método do carbono 14, é possível calcular há quantos anos o ser vivo morreu. O Carbono 14 é um isótopo instável composto de 6 protões e 8 neutrões, de meia vida de 5730 anos. Este é formado pelo resultado de uma reação do nitrogênio 61 Aproximação do Número de Neper 14 [PSF12]. A atividade de uma fonte radioativa representa a sua taxa de desintegração, obtida Figura 5.4: Fóssil de um animal Fonte:http://escolakids.uol.com.br/fosseis.htm do decaimento radioativo, para um radionuclídeo isolado, em que o decréscimo no número de átomos do elemento radioativo por unidade de tempo N ′(t) é proporcio- nal ao número de átomos ainda não desintegrado N(t), ou seja; [Tak06]). N ′(t) = −λN(t) (5.1) Este fenómeno da transformação de um átomo noutro através da emissão de ra- diação, obedece uma lei própria, denominada Lei fundamental da desintegração radioativa, cujo o modelo matemático resulta do seguinte: Multiplicando-se ambos os lados da igualdade (5.1), por eλt, teremos N ′(t)eλt = −λN(t)eλt. Disto sai, N ′(t)eλt + λN(t)eλt = 0. Como a partir de resultados anteriores, sabemos que; (N(t)eλt)′ = 0 Então; 62 Aproximação do Número de Neper N(t)eλt = c. N(t) = ce−λt Assim sendo, se no instante inicial, t0, existiam N(t0) átomos N(t0) = ce −λt0 ⇔ c = N(t0)eλt0 Destas condições iniciais resulta que N(t) = N(t0)e −λ(t−t0) ou seja, N = N0e −λt. (5.2) A fórmula (5.2), denomina-se "lei fundamental da desintegração radioativa", em que: N = número de núcleos radioativos remanescentes após um tempo t N0 =número de núcleos radioativos na amostra num tempo t = 0 λ = Constante de desintegração e = número de Neper Para aplicarmos a fórmula (5.2), precisamos antes calcular a constante de desinte- gração radioativa. [PSF12] Vamos primeiro estabelecer as unidades em que vamos falar. A atividade do núcleo é expressa em Becquerel (Bq) no (SI), sendo que: 1Bq = 1 desintegração radioativa por segundo 1Bq = 1 desintegração/s Uma outra unidade importante a saber é o Curie (Ci) no SI 63 Aproximação do Número de Neper 1g =rádio −226. A relação entre o Becquerel e Curie é dada por 1Ci = 3.7.1010Bq Outro conceito associado ao processo de decaimento radioativo é o tempo de meia vida. Trata-se do tempo necessário para que a quantidade de radionuclídeos de uma amostra diminua pela metade do seu valor no inicio do fenómeno. O seu valor pode facilmente ser retirado da equação, basta para o efeito fazer t = T 1 2 , sendo R = R0 2 . Ora, relacionando o tempo de meia vida (t 1 2 ) e a desintegração radioativa, temos que; N = N0e −λt Quando t = t 1 2 , substituindo na fórmula temos N = N0 2 N0 2 = N0e −λt 1 2 = e−λt ln(1 2 ) = −λtln(e) ln(1)− ln(2) = −λtln(e) 0− ln(2) = −λt.1 −ln(2) = −λt ln(2) = λt Sendo t 1 2 , tempo de meia vida, então temos que ln(2) = λt 1 2 λ = ln(2) t 1 2 64 Aproximação do Número de Neper Vamos a seguir resolver um problema para que se possa perceber melhor, uma das aplicações do decaimento radioativo na vida prática. Exemplo A atividade de um certo fóssil diminui de 1530 desintegrações por segundo para 190 desintegrações por segundo já com a correção da radiação de fundo, durante o processo de fossilização. Sendo a meia-vida do isótopo radioativo do 14C de 5730 anos, determine a idade do fóssil [Ber14]. Resolução 1530 desintegrações → 190 desintegrações t 1 2 = 5730 anos λ = ln(2) t 1 2 = ln(2) 5730 anos−1 = 0.0001209424 N = N0e −λt ⇒ 190 = 1530e−λt ⇒ ln(190) = ln(1530)− 0.0001209424t 5.25 = 7.33− 0.0001209424t⇒ t = ( 2.083 0.0001209424 ) = 17198.269 ∼= 17198 anos Resposta: A idade do fóssil é de 17 198 anos. 5.3 Aplicação do e na Teoria das Probabilidades O número de Neper tem também aplicação na Teoria das probabilidades, nas dis- tribuições de probabilidades, mais precisamente na distribuição de Poisson e distri- buição exponencial. A Distribuição de Poisson, é uma distribuição discreta de probabilidade que se usa em situações em que para além do conhecimento do tamanho da amostra, sabe-se quantas vezes que determinado acontecimento ocorreu e quantas não ocorreu. A sua principal aplicação é a contagem do número de eventos que ocorrem de modo independente num determinado intervalo de tempo numa região em especial [PG16]. Como por exemplo: - O número de chamadas telefónicas que chegam numa central num determinado 65 Aproximação do Número de Neper intervalo de tempo; - O número de pessoas que acorrem a um estabelecimento por hora; - O número de carros que passam por uma determinada estrada num determinado intervalo de tempo; - O número de artigos que existem num lote de tamanho aleatório, etc. O modelo matemático associado a distribuição de Poisson é a função de probabili- dade P (X = x) =  e−λλx x! , x ∈ {0, 1, 2, 3, · · · } 0, x /∈ {0, 1, 2, 3, · · · } Pode-se utilizar também a fórmula de recorrência. f(x) = P (X = x) =  f(0) = e −λ, f(x) = f(x− 1)× λ x , x ∈ {1, 2, 3, · · · } Exemplo concreto da aplicação da distribuição de Poisson O número de chamadas que chegam à central telefónica de uma associação de táxi é uma variável aleatória de Poisson com a média de 1.5 chamadas em cada 10 minutos Figura 5.5: Imagem de uma Associação de táxi [Fonte: http://visao.sapo.pt/actualidade/sociedade]/2016-03-16-O-mundo- paralelo-dos-taxis Considere o período das 10:00 e as 10:10. Determine a probabilidade da associação: 1. Não receber qualquer chamada. 66 Aproximação do Número de Neper 2. Receber mais de 2 chamadas. Resolução: Seja Xt = número de chamadas que chegam à central telefónica no intervalo de tempo t (minutos) λ = número médio de chamadas que chegam à central telefónica por minuto. Então, Xt ∼ Poisson(0.15t) t = 10, λt = 1.5 a) P (X10 = 0) = e−λλx x! Para o e aproximado com três dígitos corretos, ou seja e = 2.71, teremos P (X10 = 0) = (2.71)(−1.5)(1.5)0 0! = 0.22415, ou seja, é de aproximadamente 22.41% Ora, fazendo a mesma operação, e tomar o e aproximado com 10 dígitos corretos, teremos P (X10 = 0) = e(−1.5)(1.5)0 0! = 0.2231, ou seja, 22.31% b) P (X10 > 2) = 1− P (X10 = 0)− P (X10 = 1)− P (X10 = 2) Para e = 2.71, teremos P (X10 > 2) = 1− (2.71)−1.5( (1.5)00! + (1.5) 1 1! + (1.5) 2 2! ) P (X10 > 2) = 0.1874, o mesmo que 18.74% Para o e aproximado com 10 dígitos corretos, teremos P (X10 > 2) = 1− e−1.5( (1.5)00! + (1.5) 1 1! + (1.5) 2 2! ) P (X10 > 2) = 0.191, ou seja, 19.1% Obs.: Na resolução do exercício vê-se claramente a diferença nos resultados, con- forme a aproximação do e seja com três ou com 10 dígitos corretos: Na alínea a) temos 22.41% ao invés de 22.51% obtidos anteriormente e na alínea 67 Aproximação do Número de Neper b)18.74% ao invés de 19.1% Portanto, em qualquer aplicação do e, é fundamental que seja aproximado com um número adequado de dígitos corretos, sob pena de se obter resultados que em nada tenham a ver com a realidade, ou pelo menos, distantes da precisão necessária. 68 Aproximação do Número de Neper Capítulo 6 Considerações finais O desenvolvimento do presente estudo Aproximação do número de Neper permitiu fazer uma abordagem significativa à volta do número de Neper, também conhecido por euler, uma das constantes importantes da matemática. A abordagem histórica permitiu trazer informações ligadas ao surgimento do nú- mero de Neper e relaciona as duas teorias da origem deste número, designadamente, a do surgimento do número de Neper a partir da descoberta dos logaritmos e a outra que defende a origem do mesmo nas questões financeiras, precisamente no cálculo de juros compostos. A abordagem, histórica apresenta igualmente, as contribuições dos matemáticos John Napier (1550 - 1617), Henry Briggs (1561 - 1631), Jost Burgi (1552 - 1632) e Leonhard Euler (1707  1783) para o estudo do número de Neper. O trabalho demonstra como calcular as aproximações do número de Neper com um maior número de dígitos corretos com recurso aos métodos da sucessão un = (1+ 1 n )n, da série ∑∞ n=0 1 n! e das frações contínuas. Compara a eficiência destes métodos e con- clui que o método de frações contínuas é o mais eficiente. Ainda assim, conclui que o método da sucessão un = (1 + 1 n )n aplicado no ensino secundário, deve ser mais explorado, ou seja, deve se aumentar a aproximação para pelo menos 10 dígitos corretos em vez de aproximá-lo apenas com dois ou três dígitos corretos. O método da série e o método das frações contínuas poderão ser ministrados no ensino superior. O trabalho permitiu concluir igualmente que nas aplicações do número de Neper nas diversas ciências para explicar determinados fenómenos da vida prática, o e deverá ser aproximado com um número adequado de dígitos corretos, por forma a elevar a eficiência e eficácia dos resultados. Acredita-se que o presente estudo é uma ferramenta colocada à disposição de alunos e demais leitores, para aprofundarem a sua aprendizagem sobre o número de Neper. Tal como em qualquer obra científica, a abordagem sobre a aproximação do número de Neper não se esgota neste trabalho, há ainda muito por ser desenvolvido para melhor explorar o significado e a importância deste número na matemática e não só. 69 Aproximação do Número de Neper Para se melhorar o ensino e aprendizagem do número de Neper no ensino secundário, julga-se importante que o seu estudo seja progressivo ao longo das três classes que compreendem o secundário. No décimo primeiro ano, sugere-se a partir do estudo do e = limn→∞(1 + 1n) n se melhore a abordagem histórica do número de Neper, fazer referência ao surgimento e as contribuições de determinados matemáticos na descoberta do mesmo e as dis- tintas aplicações na matemática e nos fenómenos que são estudados noutras ciências para a resolução de problemas da vida prática. Os alunos deverão saber sobre a necessidade de se aproximar o e com maior número de casas corretas e aproveitar-se a ocasião para fazê-lo com a sucessão un = (1 + 1 n )n até 10 dígitos corretos. Já no décimo segundo ano, os alunos deverão aprofundar o seu conhecimento sobre a importância do número de Neper na matemática, especificamente a sua aplicação em vários conteúdos de matemática tais como sucessões e séries, funções exponen- ciais e logarítmicas e no cálculo diferencial e integral. Ainda nesta classe, os alunos deverão saber mais sobre a transversalidade dos conteúdos matemáticos em que o número de Neper é aplicado, com realce para modelagem matemática de fenómenos com características de crescimento ou decrescimento. Deverá se aproveitar fazer a demonstração da derivada da função f(x) = cex ser igual a cex, única função cuja derivada resulta nela mesma. Os alunos deverão saber que o estudo sobre o número de Neper continua com maior profundidade no ensino superior onde são estudados outros métodos de aproxima- ção, entre os quais, o método da série numérica e o método de frações contínuas, bem como as demonstrações de importantes resultados como, por exemplo, a prova da irracionalidade do e. 70 Aproximação do Número de Neper Bibliografia [Ber14] Bertolo. Exercícios sobre decaimento radioativo, brochura de apoio as au- las, 2014. Available from: http://qa.ff.up.pt/radioquimica/rq-tp/ rq-tp04.pdf [cited 22 Dezembro 2017]. 65 [Boy96] C. Boyer. História da Matemática. 2 a Edição. Edgar Blucher, 1996. 10, 16, 47 [Cam12] C. L. M. B. Campos. Transcendental Representations whith Applications. Mathematics and Phisics for science and Technology. Taylor & Francis, 2012. Available from: https://books.google.pt/books?id=POh92t7y200c. 50 [Eve08] H. Eves. Introdução à História da Matemática. 5 a Edição. Editora da Unicamp, 2008. 6, 16 [Fer91] J. C. C. Ferreira. Introdução à análise matemática. Manuais universitários. Fundação Calouste Gulbenkian. Serviço de Educação e Bolsas, 1991. 17, 22 [Fer09] M. A. M. Ferreira. Sucessões e Séries. 3 a Edição. Edições Sílabo, LDA, 2009. 24, 29, 31, 32, 40 [Lim85] E. L. Lima. Logaritmos. 1 a Edição. IMPA, 1985. 5, 9 [Mao08] E. Maor. A história de um número. 5 a Edição. Record, 2008. 6, 7, 9, 31 [Mir78] J. C. Miranda. Análise Matemática I. Volume I, 2 a Edição. Coimbra, 1978. 17 [MT17] P. L. Mota and R. Terra. Juros compostos e o número de Euler, 2017. Available from: http://terracoeconomico.com.br/ juros-compostos-e-o-numero-de-euler-e [cited 22 Dezembro 2017]. 56 [Pem07] M. R. Pemberton. Matemática para economistas. 1 a Edição. Instituto Piaget, Lisboa  Portugal, 2007. 57 [PG16] A. C. Pedrosa and S. M. A. Gama. Probabilidade e estatística. 3 a Edição. Porto Editora  Portugal, 2016. 65 [PP13] J. C. Precioso and H. A. Pedroso. História do e gênese e aplicações. Revista Eletrônica Matemática E Estatística Em Foco, 1(1):3140, 2013. 12 71 Aproximação do Número de Neper [PSF12] M. Da C. Patrício, V. Silva, and A. A. Filho. A radioatividade e suas utilidades. POLÊM!CA, 11(2):252260, 2012. Available from: http://www. e-publicacoes.uerj.br/index.php/polemica/article/view/3097. 60, 61, 62, 63 [QC17] A. Querelha and F. Correia. Manual de Matemática Financeira. 3 a Edição. Edições Almedina, Coimbra, 2017. 57 [Ste06] J. Stewart. Cálculo. 5 a Edição. Editora da Unicamp, 2006. 25 [Tak06] M. N. Takeda. Aplicação Do Método De Monte Carlo No Estudo Da Pa- dronização De Radionuclídeos Com Esquema De Desintegração Complexos Em Sistema De Coincidências 4piβ − γ. PhD thesis, Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. Tese de Doutorado em Tecnologia Nuclear - Aplicações. 62 72