Afonso, Rosa Marina Lopes Brás MartinsFernandes, Ana Paula André MartinsRosa, Celina PiresCosta, Ana Carolina Serra2024-11-202024-11-202024-05-092024-03-13http://hdl.handle.net/10400.6/14618Purpose: This study aims to inquire about and assess the relationship between loneliness and pulmonary diseases (COPD, Asthma, Bronchitis, Obstructive Sleep Apnea Syndrome and Restrictive Lung Disease) in residents of residential care facilities in the region of Leira, Portugal, taking into account various socio-demographic variables, the perception of social support, the degree of physical activity, psychopathologic symptoms, the degree of performance in daily life activities and activities provided by the facilities. Methods: Data were collected in August via face-to-face interviews using a questionnaire composed of numerous scales, in addition to social-demographic questions and access to the participants’ clinical records. To be enrolled in this study participants had to be 65 years or older, live in a RCF in Leira and not have cognitive impairment, according to MMSE. All the data analysis was performed with SPSS v28.0 statistical software. Results: Of the initial 75 participants, 67 (89.30%) met the inclusion criteria to the study. The mean age of the sample was 82.160 ± 9.501 years and more than half were female (64.20%). Moderate to high levels of loneliness were shown in all the participants. Pulmonary disease was present in 15 participants (22.40%). Fisher’s exact test indicated no association between the degree of loneliness and the presence of pulmonary disease at a 5% significance level. Moreover, the Chi-square test concluded that the severity of loneliness and the presence of lung disease were independent of gender, area of previous residence, and whether they were institutionalized in their area of prior residence. While Pearson’s correlation coefficient indicated that certain quantitative variables have a fair significant linear correlation, this was not the case with the point-biserial correlation coefficient. Conclusion: This study focused on the importance of analyzing loneliness and its relationship with health and quality of life in the elderly living in RCF with lung diseases. Although no association was found between loneliness and respiratory pathologies in this population alarming levels of loneliness have been observed and need to be addressed along with respiratory diseases. This study also highlighted the need for comprehensive and well-coordinated interdisciplinary care and specialized training and expertise in geriatrics.Introdução; A solidão pode ser definida como um estado subjetivo que ocorre quando existe uma discrepância entre as relações sociais desejadas e as reais, que são percebidas como insuficientes quer em quantidade e, particularmente, em qualidade, levando a sentimentos indesejáveis [1–3]. Esta, no entanto, não deve ser confundida com o isolamento social, apesar de se encontrarem relacionados, uma vez que se refere a ausência ou afastamento objetivo dos outros, podendo ou não conduzir a um estado emocional negativo [1,3,4]. A solidão encontra-se relacionada com diversos problemas de saúde, como causa e como a consequência deste [5]. Os adultos idosos, que geralmente se consideram que pertencem a este grupo quando têm 65 ou mais anos [6, 7], devido a várias alterações relacionadas com a idade, tais como a perda de pessoas próximas, têm maior risco de solidão [3,5,8]. O envelhecimento encontra-se, frequentemente, associado a patologias, algumas geradoras de dependência ou outras condições que podem implicar o recurso a Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI’s). Apesar destas estruturas serem uma solução para preservar a saúde física e garantir medidas de segurança desta população, têm frequentemente dificuldade em responder às complexas exigências psicológica dos residentes, nomeadamente à solidão [9]. Para impedir a transmissão da infeção por SARS-CoV-2, várias medidas de saúde pública foram implementadas, tais como o distanciamento social e a quarentena [10, 11]. Estas medidas levaram a um agravamento da solidão, tendo estudos comprovado um aumento destes sentimentos nos mais velhos [12–15]. É de salientar que apesar de terem passado alguns anos desde o início da pandemia da COVID-19, os seus efeitos ainda se fazem sentir hoje em dia, com muitos ERPI’s a manterem restrições nas suas políticas de visitas, levando a uma permanência dos sentimentos de solidão [16]. Um dos principais responsáveis pela morbilidade e mortalidade das pessoas idosas é a doença pulmonar, constatando-se que a sua incidência tem vindo a aumentar com o envelhecimento da população [17]. Isto deve-se não só ao processo de envelhecimento natural mas também à sua interação com a exposição ambiental [17–19]. Relativamente à relação entre estas patologias e a solidão, a maioria dos estudos constata que existe uma associação positiva entre estes, particularmente entre a solidão e a Doença Crónica Obstrutiva Pulmonar [2, 20–25]. No entanto, um estudo de coorte não observou tal relação, apenas verificando que a solidão é um fator de risco para esta doença [26]. Para além disso, estudos descrevem como esta associação resulta num aumento das visitas aos serviços de urgência, pior perceção da saúde, sentimentos de falta de apoio, maior multimorbilidade e na deterioração da capacidade funcional e da qualidade de vida quando a solidão agrava [2,22–25]. O objetivo deste trabalho é analisar a solidão em residentes de ERPI’s com doenças pulmonares (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, Asma, Bronquite, Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono e Doença Pulmonar Restritiva), na região de Leira, Portugal tendo em consideração variáveis sócio-demográficas, perceção de suporte social, grau de atividade física, sintomas psicopatológicos, grau de autonomia nas atividades de vida diária e as atividades proporcionadas pelas ERPI’s. Métodos: Este estudo enquadra-se num estudo mais amplo sobre solidão, aprovado pela Comissão de ética da UBI (CE-UBI-Pj-2022-077). Os dados foram recolhidos em agosto de 2023 através de entrevistas presenciais, nas quais se aplicaram vários instrumentos. O Mini-Mental State Examination (MMSE) permitiu rastrear a possibilidade de défice cognitivo, segundo os pontos de corte estabelecidos em função das habilitações literárias dos respondentes [27]; A UCLA Loneliness Scale Version 3 (UCLA-3), para avaliar os níveis de solidão, permitindo classificar a s solidão em níveis baixos, moderados e elevados [28]. No que diz respeito ao apoio percecionado pelo participante por parte da família, amigos e outras pessoas significativas, este foi medido através da Multidimensional Scale of Perceived Social Support (MSPSS). As pontuações variam entre 1 e 7 para cada grupo de apoio, sendo que pontuações mais elevadas indicam uma maior perceção de apoio [29]. Para avaliar os sintomas psicopatológicos de depressão, ansiedade e somatização foi utilizado o Brief Symptom Inventory (BSI-18). Pontuações mais elevadas indicam sintomas psicopatológicos mais relevantes [30–32]. Relativamente à versão curta do International Physical Activity Questionnaire (IPAQ), esta avalia a intensidade da atividade física e o tempo de repouso dos participantes nos últimos sete dias. Esta pode ser classificada em atividade física vigorosa, moderada ou baixa [33, 34]. O Barthel Index for Activities of Daily Living (BI) avaliou a capacidade dos participantes para realizarem as atividades da vida diária, podendo ser categorizado em cinco níveis de dependência, desde dependente total a independente [35]. Foram também colocadas questões sociodemográficas e sobre a saúde dos participantes, nomeadamente em relação à existência de doença pulmonar. Dos 75 participantes que constituíam a amostra inicial, apenas 67 (89.30%) cumpriram os critérios de inclusão, que eram ter 65 anos ou mais, viver numa ERPI em Leira e não ter défice cognitivo, de acordo com o MMSE. Para a análise estatística foi utilizado o software SPSS. v28. A idade média dos participantes foi 82.160 ± 9.501 anos, sendo que mais de metade eram do sexo feminino (64.20%). A maioria era viúvo e nunca tinha frequentado a escola ou tinha 4ª classe. A doença pulmonarestava presente em 15 participantes (22.40%). Resultados: Os resultados obtidos indicam níveis moderados a elevados de solidão, com 5 (7.4%) e 62 (92.54%) participantes respetivamente. Pelo teste exato de Fisher, concluímos, ao nível de significância de 5%, que não existe associação entre o grau de solidão e a presença de patologia dos pulmões, concluindo-se também, pelo teste do Qui-quadrado, que a existência de doença pulmonar é independente do género, da área de residência prévia e se estavam institucionalizados na sua área de residência prévia. O cálculo do coeficiente de correlação de Pearson indicou que a solidão (UCLA-3) e os sintomas psicopatológicos de depressão e somatização (BSI-18 Depressão e Somatização), bem como os três sintomas psicopatológicos de depressão, somatização e ansiedade, avaliados pelo BSI-18, apresentam uma correlação linear significativa moderadamente positiva. No entanto, o apoio social percecionado pelo indivíduo (MSPSS) e os sintomas psicopatológicos (BSI-18) apresentam uma correlação linear significativa moderadamente negativa. O mesmo não aconteceu com o coeficiente de correlação ponto-bisserial, que não encontrou nenhuma associação significativa com a solidão como com a doença pulmonar. Discussão: Este estudo debruça-se sobre uma população clínica específica – com doença pulmonar - e a residir em ERPI alertando, em primeiro lugar para níveis alarmantes de solidão sentida, apesar de não terem sido constatadas diferenças significativas entre os doentes com e sem doenças pulmonares. A solidão resulta da interação de múltiplos fatores e agrava as condições clínicas. Sendo a solidão um fator de risco [22] e uma fonte se sofrimento psicológico. A interpretação dos resultados, requer, contudo, que se tenha em consideração que se trata de uma amostra de conveniência de tamanho reduzido, especialmente em termos de participantes com patologia respiratória. Os resultados indicam que o estado civil e contexto social influenciam a solidão, constatando-se que mais de metade dos participantes eram viúvos e apresentavam níveis elevados de solidão. Este resultado corrobora estudos prévios que mostram que o casamento é um fator protetor e que a perda do cônjuge está associada a um aumento da solidão [3, 20, 36, 37]. Adicionalmente, outros estudos salientaram também o impacto negativo que a perda de outros entes queridos, estar sozinho, sem ninguém para cuidar deles, e limitações físicas, adquiridas naturalmente pela idade ou associadas a patologias individuais, podem ter na solidão, exacerbando-a [36–39]. No caso específico das ERPI’s, estudos mostraram como as relações superficiais estabelecidas entre os utentes com outros utentes ou funcionários, capacidades cognitivas díspares entre os utentes, perda de autonomia associada à falta de controlo nas suas próprias vidas e na tomada de decisões e a falta de objetivos parecem estar associados a um agravamento da solidão [9,36]. Contudo, é essencial referir que este estudo não abordou estes fatores que será importante investigar noutros estudos, para se identificarem aspetos práticos a trabalhar e promover nas ERPI’s que possam reduzir a solidão. É também crucial ter em conta que a população deste estudo possuía outras patologias, desde físicas a psicológicas, para além das respiratórias. Embora estas não tenham sido avaliadas, isso não significa que não influenciem a solidão uma vez que, tal como foi indicado por vários estudos, a solidão está associada a um aumento de sintomatologia psicológica e a efeitos adversos na saúde física, com um aumento de doenças crónicas, limitações funcionais e diminuição da qualidade de vida geral [3,20,37,38,40]. Estudos indicam que ser mulher [3, 20, 38] e ter baixos níveis de escolaridade [20, 36, 37] estão ligados à solidão. No entanto, estes resultados não foram observados no presente estudo. Constatou-se que não existia associação entre o sexo e a solidão, indo contra o encontrado na literatura. Já os dados relativos à literacia não reuniram condições necessárias para a aplicação do teste estatístico adequado. O tamanho reduzido da amostra e o facto desta se tratar de uma população tão específica, poderá estar relacionado, e ter limitado, os resultados observados. Como foi anteriormente referido, certas variáveis quantitativas tiveram uma correlação linear moderadamente significativa. A UCLA-3, correlacionou-se positivamente com o BSI-18 Somatização e Depressão, o que apoia o que foi referido a sobre a solidão e a sua associação com sintomas psicológicos [3,20]. Já a MSPSS, que mede o apoio social percecionado pelo indivíduo, está inversamente relacionada com todos os parâmetros avaliados pelo BSI-18 (correlação linear significativa moderadamente negativa), sendo que uma maior perceção de apoio está associada a menos sintomas de depressão, somatização e ansiedade. Isto está em concordância com a literatura [41–44]. Por fim, constatou-se que todos os parâmetros do BSI-18 estavam mutuamente positivamente correlacionados, algo expectável uma vez que pertencem à mesma escala e que existe sobreposição de sintomas associados a cada parâmetro, podendo estas patologias serem comórbidas [45,46]. Constatou-se, ainda, que os participantes com níveis moderados de solidão apresentavam menores valores de apoio social quando comparados aos participantes com níveis elevados de solidão. Este dado vai contra o encontrado na literatura, que associa, em idosos em ERPI’s, um aumento dos sentimentos de solidão com um défice no apoio social e viceversa [47]. Este resultado ilustra a complexidade da solidão que poderá não estar relacionada com o apoio social que a pessoa perceciona. O sentimento de solidão é de facto, mais do que a existência e perceção de apoio, estando mais relacionado com um desfasamento entre o que a pessoa deseja ter e perceciona ter. Contudo, mais uma vez, há que ter em consideração a dimensão da amostra e que esta diferença não foi significativa, pelo que não se deve generalizar este resultado. Em suma, este estudo focou-se na importância de analisar a solidão e a sua relação com a saúde e qualidade de vida em idosos residentes em ERPI’s com doenças pulmonares. Foram constatados níveis alarmantes de solidão que devem ser abordados juntamente com as doenças respiratórias. Contudo, não foi encontrada uma associação entre a solidão e as patologias respiratórias nesta população, possivelmente devido à não aleatoriedade da amostra e ao facto de se tratar de uma população particular com outras patologias. Este estudo realça a necessidade de estudos que se foquem nesta população específica e que tenham em conta múltiplas outras variáveis. Os resultados revelam, ainda a urgência de promoção de medidas de redução da solidão e da necessidade de cuidados interdisciplinares abrangentes aos utentes de ERPI’s bem coordenados e de formação e especialização em geriatria e gerontologia que possam intervir e desenhar medidas que possam reduzir a solidão nos residentes em ERPI’s.engDoenças PulmonaresEstruturas Residenciais para Pessoas IdosasIdososSolidãoStudy of Loneliness and Pulmonary Disease in Older Adults in Residential Care Facilitiesmaster thesis203714849