Browsing by Author "Baptista, Marta Isabel Henriques"
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- Cuidados Paliativos em doentes não-oncológicos: As mesmas necessidades e as mesmas respostas? Trabalho de InvestigaçãoPublication . Baptista, Marta Isabel Henriques; Macedo, Susana AbreuIntrodução: Nos últimos anos tem-se verificado um aumento crescente da prevalência das doenças crónicas, com consequente mudança de paradigma dos cuidados de saúde. Os Cuidados Paliativos surgem como uma necessidade a incluir nos vários níveis de prestação de cuidados a indivíduos com doenças crónicas e potencialmente ameaçadoras de vida. Segundo a Organização Mundial de Saúde, os mesmos constituem uma abordagem que promove a melhoria da qualidade de vida dos doentes e familiares, através da prevenção e alívio do sofrimento causado por problemas físicos, psicossociais e espirituais. Devem ser introduzidos precocemente, concomitantemente, ou não, a tratamentos modificadores de doença. Apesar destes cuidados ainda se associarem a condições oncológicas, doentes com patologia não-oncológica experimentam iguais necessidades a nível do controlo sintomático. Contudo, o acesso é ainda insuficiente, particularmente em doentes não- -oncológicos, os quais são menos encaminhados aos Cuidados Paliativo e a referenciação ocorre tardiamente, numa fase mais avançada da doença, com pior performance status e maior probabilidade de agudizações e hospitalizações, comparativamente a doentes com cancro. Objetivos: Avaliar, caracterizar e estabelecer uma comparação entre doentes não- -oncológicos e doentes oncológicos, acompanhados pela equipa de Cuidados Paliativos da Unidade Local de Saúde da Guarda, no que concerne a dados sociodemográficos, clínicos e de referenciação para Cuidados Paliativos. Metodologia: Estudo observacional, descritivo bivariável e retrospetivo. Foram consultados e selecionados manualmente os processos clínicos individuais existentes em papel e o programa SClínico de todos os doentes referenciados ao polo da Guarda da Equipa de Cuidados Paliativos da Unidade Local de Saúde da Guarda, falecidos no período compreendido entre o dia 1 de abril de 2021 (inclusive) e o dia 31 de outubro de 2021 (inclusive). Procedeu-se à recolha dos dados relativos à caracterização sociodemográfica, clínica e do processo de referenciação. Do total da amostra, foram constituídos dois grupos com base no seu diagnóstico principal: o grupo de doentes oncológicos e o de doentes não-oncológicos. Os dados foram registados e analisados através do Microsoft Excel® e do SPSS® v28.0. O nível de significância utilizado foi de p<0,05. Resultados: Foram identificados 154 doentes no período em estudo. Destes, 24 tinham diagnóstico de patologia não-oncológica (15,6%) e 130 de patologia oncológica (84,4%). Os doentes não-oncológicos residiam significativamente mais em instituições (65,2% vs. 24,6%), tinham sobretudo um cuidador formal (65,2% vs. 31,0%) e foram menos acompanhados, em simultâneo, por Cuidados Paliativos e outras especialidades (62,5% vs. 81,5%), comparativamente a doentes oncológicos. As doenças relacionadas com falência orgânica foram as patologias não-oncológicas mais frequentes (50,0%). Os principais motivos de referenciação de doentes não-oncológicos foram “outros motivos”, “serviço social” e “dor” enquanto dos doentes oncológicos foram o “serviço social”, “dor” e “apoio psicológico”. A maioria dos doentes foi referenciado tardiamente, numa fase avançada da doença, sobretudo os doentes não-oncológicos, sendo que a mediana de tempo de sobrevivência dos doentes oncológicos foi de 32 dias, cerca do dobro dos doentes não- -oncológicos (17,5 dias). Independentemente do diagnóstico principal, os doentes recorreram mais ao Serviço de Urgência em dias não-úteis, faleceram sobretudo em meio hospitalar (59,5%), e foram referenciados aos Cuidados Paliativos maioritariamente pelo Hospital Sousa Martins (67,5%). Deste, os principais serviços a referenciar doentes foram a Medicina Interna (28,8%) e a Urgência (24,0%). Conclusão: Apesar de estar preconizado que os Cuidados Paliativos devem ser introduzidos numa fase precoce da doença, independentemente do diagnóstico, verificou- -se que os doentes acompanhados pela equipa de Cuidados Paliativos da Unidade Local de Saúde da Guarda foram referenciados tardiamente e tinham, maioritariamente, diagnóstico de patologia oncológica. Perante a possibilidade de existirem algumas barreiras à referenciação para Cuidados Paliativos, as mesmas devem ser identificadas e poderão ser solucionadas, em parte, através da continua formação pré e pós-graduada dos profissionais de saúde em Cuidados Paliativos, nomeadamente aqueles que contactam proximamente com doentes com doenças graves, incuráveis e progressivas, como os profissionais dos Cuidados de Saúde Primários. Também a desmistificação de alguns conceitos relativos aos Cuidados Paliativos entre a população em geral poderá beneficiar o processo de referenciação.