Browsing by Author "Campos, Ricardo Jorge Saraiva"
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- Aplicações da toxina Botulínica em patologias neurológicasPublication . Campos, Ricardo Jorge Saraiva; Rosado, Pedro SimõesA toxina botulínica é uma protéase produzida na natureza pelo bacilus anaeróbio Clostridium botulinum, sendo uma substância com dose letal mínima muito baixa e que é responsável pelo botulismo. Em meados da década de 60 do século passado, esta exotoxina foi pela primeira vez usada com um objectivo terapêutico no tratamento do estrabismo, desde então as suas aplicações médicas não param de crescer. Em termos químicos a toxina é constituída por duas cadeias polipeptídicas ligadas por uma ponte de dissulfeto. A cadeia leve (50kDa) tem função proteolítica e a cadeia pesada (100kDa) é responsável pelo neurotropismo e captação da toxina pelas terminações nervosas. Em termos moleculares a toxina tem acção proteolítica sobre a proteína associada ao sinaptossoma de peso molecular de 25KDa, responsável pelo endereçamento vesicular nas terminações nervosas. Este mecanismo provoca a inibição da liberação de acetilcolina na junção neuromuscular e é responsável pelo efeito de acção mais bem caracterizado da toxina, o relaxamento muscular. Outro efeito menos bem caracterizado em termos moleculares é o efeito analgésico da toxina. Já ficou demonstrado que a toxina botulínica é responsável pela diminuição de neurotransmissores álgicos e mediadores inflamatórios como o péptido relacionado ao gene da calcitonina, glutamato e sustância P. Também já ficou claro que a inibição da proteína associada ao sinaptossoma de peso molecular de 25KDa (também presente nos neurónios sensitivos) desempenha um papel no efeito analgésico da toxina, no entanto ainda não ficou demonstrado se este mecanismo é o único a actuar ou se a toxina usa também outras vias alternativas adicionais. Em termos médicos em Neurologia, as aplicações da toxina distribuem-se em dois grandes grupos, por um lado as patologias que beneficiam de um efeito analgésico, onde se destacam as Enxaquecas Crónicas (principal indicação para o uso de toxina nesta área) e as patologias com dor neuropática (Nevralgia do Trigémeo) e por outro lado o grupo das patologias neurológicas que beneficiam de um efeito miorelaxante. Dentro do último incluímos Patologias Espásticas (pós AVC, Paralisia Cerebral e Esclerose Lateral Amiotrófica), as Distonias Focais (Torcicolo Espástico, Blefarospasmo, Cãibra do Escrivão, Sindrome de Meige) e algumas mioclonias (Espasmo Hemifacial). A aplicação da toxina no segundo grupo de patologias referido, está bastante bem estudado sendo a toxina por vezes considerada a primeira linha no alívio sintomático da patologia ou em casos recidivantes às terapias ditas convencionais. Quanto à Enxaquecas Crónicas e à Nevralgia do Trigémeo a Toxina é um método eficaz e relativamente seguro de alívio da dor nestas patologias. No caso particular da Enxaqueca, a única indicação aprovada pela FDA para o uso de Toxina Botulínica como profilaxia analgésica das crises álgicas, a administração é feita actualmente na maioria dos casos seguindo o Protocolo do ensaio clinico PREEMPT, os resultados do ensaio clínico PREEMPT 1 foram também responsáveis pela aprovação da FDA. Contudo os resultados finais da PREEMPT 1 não demonstravam uma diferença muito significativa entre o grupo terapêutico e o placebo, o que levou ao começo de um novo ensaio, o PREEMPT2, que envolveu o mesmo desenho estrutural do ensaio PREEMPT apenas diferindo a variável de resultado final seleccionada (duração dos episódios em vez do número de episódios). O PREEMPT 2 conseguiu assim demonstrar uma diferença já mais significativa entre o grupo terapêutico e placebo. Futuros estudos são necessários para determinar novos critérios de elegibilidade para o tratamento profiláctico da Enxaqueca Crónica com a toxina, critérios que aliem a eficácia do tratamento e um aumento da produtividade dos pacientes pós profilaxia, de modo a garantir que o tratamento se torna custo-efectivo.
