Browsing by Author "Carvalho, Beatriz Abrantes"
Now showing 1 - 1 of 1
Results Per Page
Sort Options
- As perspetivas dos idosos sobre a COVID-19 e os impactos que esta doença provocou nos seus quotidianosPublication . Carvalho, Beatriz Abrantes; Augusto, Amélia Maria CavacaTem se assistido ao aumento acentuado da população idosa por toda a Europa e Portugal não é exceção. Os idosos estão sujeitos a uma diversidade de riscos devido à exclusão da rede produtiva e a situações de pobreza; a perdas e ruturas das redes sociais, que conduzem ao isolamento, à doença crónica, à invalidez, à dependência, à incapacidade física e mental, as quais se traduzem na necessidade de cuidados. A estes riscos soma-se a COVID-19 e a pandemia dela decorrente. Apesar do coronavírus afetar todos os segmentos da população, é no grupo dos mais velhos que após contração da COVID-19 se verificam quadros clínicos mais grave, maiores taxas de hospitalização e maiores taxas de mortalidade, quando comparados ao resto da população, o que levou a que os idosos fossem classificados como “grupos de risco”. No entanto, risco, saúde e doença são construções sociais e como tal possuem uma componente social, cultural e subjetiva. Tal facto quer dizer que a maneira como o conhecimento biomédico e o conhecimento leigo constroem os riscos, a COVID-19 e a pandemia diferem entre si, consequentemente os significados que os leigos, como é o caso de grupo dos idosos, dão a esta doença e à pandemia é diferente do significado que o complexo biomédico lhe atribui. Ora se esses significados diferem entre si também as perceções dos riscos, os posicionamentos face aos riscos e os comportamentos que são tomados em relação à doença serão diferentes. É neste sentido que se torna importante olhar além da definição biomédica da pandemia COVID-19 e estudar a pandemia como um fenómeno social e olhando para as construções sociais em torno desta doença, como tal a presente investigação visa analisar as perceções dos idosos em relação à COVID-19 e aos impactos sociais que esta nova doença teve nas suas vidas quotidianas e na sua autoimagem. Procedeu-se a uma revisão de literatura com particular enfoque na análise sociológica dos seguintes temas: envelhecimento demográfico e os aspetos que levam à desigualdade e exclusão social da população com mais de 65 anos; a pandemia COVID-19 os seus contornos, medidas e impactos sociais na população idosa; e risco nas sociedades contemporâneas, a forma como este se relaciona com o conhecimento biomédico e o conhecimento leigo e de que modo estes se relacionam e influenciam as visões de saúde, doença e os comportamentos de risco. Uma vez que se pretendeu analisar a forma como os idosos constroem a COVID-19, e os seus pontos de vista quanto ao impacto desta doença sobre si mesmos e na vida quotidiano, dando voz e analisando as suas perspetivas enquanto indivíduos ativos na construção da realidade através da atribuição de significados ao social adotou-se um enfoque metodológico de âmbito qualitativo, tendo sido realizadas 18 entrevistas semiestruturadas individuais e uma de casal a 10 idosos/as institucionalizados/as e 10 idosos/as nas suas residências. No que diz respeito aos principais resultados obtidos com a investigação, destacamos: a forma como os indivíduos constroem a COVID-19 e os significados que lhe atribuem surgem da interação entre as influências dos especialistas, as influências sociais e culturais, as suas observações e experiências pessoais e coletivas, a reflexividade dos indivíduos através da sua própria interpretação e da gestão da informação, assim como da inter-relação de diferentes formas de conhecimento e de saber interrelacionados, como o natural, o mágico-religioso, o sociopolítico, entre outras formas de conhecimento; a construção que os idosos fazem da COVID-19 influencia as perceções que estes têm do risco, a forma como estes se posicionam face ao risco, a adesão (ou não) às medidas de proteção e a adoção (ou não) de comportamentos de risco, no entanto, esse não é o único fator estes aspetos depende também das experiências de cada um, da análise que os indivíduos fazem do contexto em que se encontram e das crenças mágicoreligiosas e ideologias políticas de cada um; os idosos entrevistados desenham o risco como algo continnum e universal; e os estilos de vida que os idosos levam poderão ampliar ou minimizar os impactos provocados pela COVID-19, nesta investigação verificou-se que as, tipicamente criticadas, características das instituições totais contribuíram para a manutenção de uma certa segurança face à incerteza vivida no “mundo lá fora”, assolado por uma crise pandémica geradora de perturbações sociais e pessoais.
