Faculdade de Ciências da Saúde
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Browsing Faculdade de Ciências da Saúde by advisor "Afonso, Margarida Isabel Marques"
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- Silicose e síndrome de SjögrenPublication . Modesto, Ana Rita Xavier; Afonso, Margarida Isabel Marques; Valente, Maria de La Salete BeirãoIntrodução: A pneumoconiose representa uma doença profissional resultante da inalação e da deposição de pó de minerais e de outras substâncias inorgânicas no pulmão. Pode ser dividida em diferentes categorias pelo tipo de partículas envolvidas ou pelo tipo de reação desencadeada. O carvão, a sílica, o asbesto e o talco provocam uma resposta inflamatória e fibrogénica enquanto o berílio e o cobalto promovem respetivamente uma resposta granulomatosa e associada a pneumonia de células gigantes. Já o ferro, o estanho e o bário são consideradas partículas benignas ou inertes. A silicose resulta da inalação de pequenas partículas de silício na forma de sílica “livre” cristalina (geralmente quartzo) ou eventualmente de silicatos, minerais que contêm dióxido de silício ligado a outros minerais como o talco. Tipicamente manifesta-se após exposição prolongada e caracteriza-se pelo desenvolvimento de nódulos pulmonares fibróticos, que na forma complicada de doença coalescem formando maciços fibróticos, com progressão para dispneia, hipoxemia, hipertensão pulmonar e insuficiência respiratória. A ocorrência de doenças autoimunes como a esclerose sistémica, a artrite reumatoide, o lúpus eritematoso sistémico, a vasculite sistémica e renal e a síndrome de Sjögren é maior em indivíduos expostos à sílica (com ou sem silicose), com um risco médio cinco vezes superior ao risco da população de indivíduos não expostos. Especificamente, a síndrome de Sjögren distingue-se pela infiltração linfocítica de glândulas exócrinas e de outros órgãos, cursando com manifestações glandulares, frequentemente xeroftalmia e xerostomia, e manifestações extraglandulares como artralgia, artrite, linfadenopatia generalizada, fenómeno de Raynaud, envolvimento pulmonar intersticial e vasculite. Objetivos: Atendendo ao facto de a silicose ser reconhecida como a principal causa de invalidez entre as doenças respiratórias ocupacionais, o presente trabalho tem como primeiro objetivo a integração dos conhecimentos mais recentes e relevantes acerca dos mecanismos etiológicos e patofisiológicos envolvidos e ainda da heterogeneidade clínico-patológica e das hipóteses terapêuticas de que se dispõe atualmente, de modo a desenvolver melhores meios de prevenção e diagnóstico, bem como terapêuticas mais eficazes. O segundo propósito do trabalho diz respeito à identificação e ao estudo de casos referentes à coexistência de silicose e de doenças autoimunes, especificamente a síndrome de Sjögren, num mesmo doente. O terceiro e último objetivo prende-se com a compreensão da correlação entre os fatores ambientais e a desregulação autoimune, neste caso em particular da ativação crónica das células T pela exposição à sílica. Materiais e métodos: A revisão sistemática baseou-se na leitura integral de artigos presentes em várias bases de dados: PubMed, Academic Search Complete, MEDLINE Complete, Cochrane Central Register of Controlled Trials, Cochrane Database of Systematic Reviews e Cochrane Methodology Register, Cochrane Clinical Answers. Das publicações obtidas, tendo presente os objetivos do trabalho, foram selecionados 13 artigos. Para além da análise dos artigos, foi investigada a possibilidade de um caso de silicose associado a uma doença autoimune no Centro Hospitalar Universitário Cova da Beira (CHCUB), na Covilhã. Foi apurado apenas um caso de um indivíduo do sexo masculino, com início no ano de 2022, tendo sido recolhida toda a informação clínica relevante para o trabalho. Conclusão: Conclui-se assim que a forma crónica da silicose pode influenciar negativamente a regulação do sistema imunitário, associando-se a doenças autoimunes – esclerose sistémica, lúpus eritematoso sistémico e, menos frequentemente, síndrome de Sjögren. Tendo em conta os estudos realizados até ao momento, o rastreio de sinais e de sintomas característicos das doenças autoimunes supracitadas, neste caso em particular da síndrome Sjögren, deveria ser considerado nos indivíduos expostos a partículas de minerais. Numa mesma linha de pensamento, a exposição individual e a ocupação profissional deveriam ser ponderadas nos indivíduos com diagnóstico prévio de uma ou mais doenças autoimunes. Sendo a silicose uma doença profissional, seria igualmente importante apostar na divulgação e implementação de medidas preventivas.