Browsing by Author "Fernandes, Marta Alexandra Araújo"
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- O Perfil do Utente Residente em ERPIs no Concelho do Sabugal: Aspetos Clínicos e Estado de Saúde AtualPublication . Fernandes, Marta Alexandra Araújo; Patto, Maria da Assunção Morais e Cunha Vaz; Pinto, Nuno Filipe Cardoso; Afonso, Rosa Marina Lopes Brás MartinsIntrodução: A transição demográfica e epidemiológica vivida pelas sociedades ocidentais despoletaram, em concomitância com as profundas alterações do tecido social (limitação do papel da família como cuidadora primária), a afirmação da institucionalização dos idosos com limitações da autonomia como fenómeno incontornável do mundo desenvolvido. Assim, atendendo às estatísticas que preveem o agravamento do envelhecimento populacional, é pertinente compreender qual o perfil clínico dos idosos institucionalizados em Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI) numa das zonas mais envelhecidas e com baixa densidade populacional de Portugal, o concelho do Sabugal. Materiais e Métodos: Estudo transversal e descritivo, com inclusão de indivíduos com mais de 65 anos, residentes em ERPI há, pelo menos, 3 meses. Participaram 350 idosos, selecionados aleatoriamente, da totalidade das 21 ERPIs do concelho do Sabugal, distrito da Guarda, constituindo uma amostra representativa da população institucionalizada. Foi aplicado um inquérito para rastreio geriátrico com diversos parâmetros para caracterização do perfil sociodemográfico e clínico (número de patologias) dos participantes. Foi ainda averiguada a autoperceção do estado de saúde de cada utente. Os dados coletados foram anonimizados e avaliados em termos de normalidade através do programa SPSS e, de acordo com a sua distribuição (paramétrica ou não paramétrica), foram avaliados com testes estatísticos específicos. Resultados: Os resultados demonstram que, clinicamente, os utentes apresentavam, em média, 4,6 patologias (DP=2,5) sendo as mais comuns as do sistema cardiovascular (82,0%). A maioria (44,3%) consome entre 5 a 9 fármacos e está sujeita a polifarmácia. De acordo com o Índice de Barthel, 26% eram totalmente dependentes. 66% dos idosos apresentaram défice cognitivo e 63,8% revelaram sintomas depressivos. Quanto à mobilidade, 40,9% apresentavam mobilidade dependente e 8,4% estavam acamados. Cerca de 37,3% relataram a ocorrência de pelo menos uma queda no último ano e 36,3% demonstram um risco de queda elevado (teste Timed Up and Go). A incontinência fecal foi reportada por 31,1% dos participantes, enquanto 40,9% sofriam de incontinência urinária. A prevalência de sarcopenia foi de 67,2% e 57,1% apresentavam características de desnutrição. Na avaliação do sono, foram obtidos uma média de 7,3 pontos (DP=3,3) no índice de qualidade do sono de Pittsburgh, sugerindo uma qualidade de sono comprometida. Ao nível da saúde cardiovascular e metabólica, o IMC médio foi de 24,6 kg/m² (DP=5,6), e as médias de pressão arterial sistólica e diastólica foram de 142,8 mmHg (DP=819,5) e 68,6 mmHg (DP=13,7), respetivamente. Quanto à classificação CEAP, 31,7% foram classificados como “C4 - Hiperpigmentação ou eczema” e o pulso periférico maleolar estava ausente em 31,7%. A maioria dos idosos observados (93,1%) não apresentava úlceras ativas. O perímetro abdominal médio foi de 97,9 cm (DP=14,9). O perímetro cervical médio foi de 36,8 cm (DP=4,2). 59,1% dos participantes apresentavam ausência de peças dentárias e 32,6% usavam prótese dentária. Uma proporção considerável de idosos avaliou o seu estado de saúde atual como "Mau" (21,1%) ou "Muito mau" (5,7%). Contudo, 42,0% considera que a sua saúde poderia melhorar. A autoperceção do estado de saúde dos utentes institucionalizados foi significativamente pior em idosos com ocorrência de quedas no último ano (p=0.027) e com sarcopenia (p<0.001). Conclusões: Os resultados deste estudo sugerem que a população residente em ERPI apresenta altos níveis de multimorbilidade, polifarmácia e dependência, bem como alta prevalência de défice cognitivo, desnutrição, sarcopenia e incontinência. A ocorrência de quedas e a sarcopenia têm um forte impacto na sua autoperceção do estado de saúde atual. De facto, a maioria dos idosos tem uma autoperceção negativa da sua saúde, contudo, um número significativo crê que poderia estar melhor. A avaliação do perfil clínico de todos os utentes residentes em ERPI bem como da sua autoperceção em relação à sua condição atual, é fundamental para um reajuste da oferta dos cuidados prestados. São necessários cuidados mais especializados por grupo de patologias, terapias e programas dirigidos aos grandes défices apresentados, adequando-os ao perfil de saúde dos seus utentes. Desta forma, será possível promover a maximização da sua qualidade de vida, proporcionando uma melhor adaptação dos idosos ao novo ambiente e prevenindo, subsequentemente, a aceleração do normal processo de deterioração do envelhecimento.