Browsing by Author "Martins, Francisca Rocha"
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- Icterícia neonatal: caracterização populacional e repercussões no neurodesenvolvimento ao longo dos primeiros três anos de vidaPublication . Martins, Francisca Rocha; Costa, Ricardo Jorge Barros daIntrodução: A icterícia neonatal é a manifestação visível, na pele e escleróticas, de níveis séricos de bilirrubina superiores a 5mg/dL. Ocorre em 60% dos recém-nascidos. Na maioria dos casos, esta condição é benigna, contudo, devido à toxicidade potencial da bilirrubina, os recém-nascidos devem ser monitorizados para identificar aqueles que podem vir a desenvolver uma hiperbilirrubinemia grave e, nalguns casos, encefalopatia aguda ou kernicterus, uma sequela permanente da toxicidade neurológica da bilirrubina. Neste sentido, o objetivo deste estudo é caracterizar a população de recém-nascidos ictéricos nascidos em 2009 no Centro Hospitalar Cova da Beira e avaliar as possíveis alterações no neurodesenvolvimento ao longo dos primeiros três anos de vida. Materiais e métodos: Estudo analítico, retrospetivo e longitudinal de uma amostra de 182 recém-nascidos ictéricos nascidos no Centro Hospitalar Cova da Beira, entre 1 janeiro e 31 de dezembro de 2009, tendo por base a análise documental dos processos clínicos. As variáveis estudadas incidiram sobre características maternas de controlo, características do período gestacional materno, dados biográficos do recém-nascido ictérico e características do período neonatal e pós-natal. A análise quantitativa dos dados foi efetuada através dos testes estatísticos do Qui-quadrado, teste de Exato de Fisher, teste de Mann-Whitney e de Kruskal-Wallis. Resultados: De um total de 604 nascimentos registados entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2009, 273 corresponderam a recém-nascidos ictéricos. A falta de dados no processo clinico foi utilizada como fator de exclusão do estudo obtendo-se, assim, uma amostra de 182 recém-nascidos. A idade materna média foi de 30 anos e 58,8% das mães eram primigestas. A idade gestacional média verificada foi de 38 semanas. Das grávidas, 35,7% apresentaram alguma intercorrência durante a gravidez e 26,9% realizaram algum tratamento durante a mesma. Uma pequena maioria dos recém-nascidos ictéricos era do género masculino (57,7%) e 97,8% de raça branca. O tipo de parto mais prevalente foi o eutócico (60,4%). O valor médio de bilirrubina total máxima foi de 12 mg/dL, tendo-se verificado, em média, 60 horas após o nascimento. A maioria dos recém-nascidos pertencia à zona de risco intermédia (62,1%), era filho de mães Rh+ (86,3%), não tinha incompatibilidades sanguíneas, equimoses e/ou cefalohematoma ao nascimento. O tipo de alimentação mais frequente foi com leite materno (89,6%). Dos recém-nascidos ictéricos 29,7% realizaram fototerapia. Constataram-se alterações no neurodesenvolvimento (sobretudo ao nível da linguagem) em apenas 1,1%, 3,3% e 3,8% dos recém-nascidos ao longo do primeiro, segundo e terceiro ano de vida, respetivamente. Verificaram-se associações estatisticamente significativas entre a zona de risco para o desenvolvimento de hiperbilirrubinemia e a realização de fototerapia, e entre a realização de fototerapia e as recomendações propostas pela Academia Americana de Pediatria. Não se encontraram associações estatisticamente significativas entre a bilirrubina total máxima e os fatores de risco para o desenvolvimento de hiperbilirrubinemia, entre a bilirrubina total máxima e o neurodesenvolvimento, e entre a realização de fototerapia e o neurodesenvolvimento ao longo dos primeiros três anos de vida. Conclusão: A icterícia neonatal afeta quase metade dos recém-nascidos nascidos em 2009 no Centro Hospitalar Cova da Beira. Apesar disso, não existe relação entre esta patologia e alterações no neurodesenvolvimento ao longo dos primeiros três anos de vida. As recomendações propostas pela Academia Americana de Pediatria em 2004 são eficazes na deteção e prevenção de hiperbilirrubinemia grave.