Browsing by Author "Martins, Maria Beatriz Lopes"
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- Relação entre Redes Sociais e Compulsão por ComprasPublication . Martins, Maria Beatriz Lopes; Trovão, José Nuno Nova Araújo Sá; Ferreira, Dário Jorge da ConceiçãoIntrodução: O uso disseminado da Internet conduziu a uma crescente popularização das redes sociais e de uma nova forma de consumo — as compras online. Torna-se, pois, pertinente averiguar se estes são dois fenómenos independentes ou se existirá um papel das redes sociais na promoção de aquisições desajustadas, nomeadamente via internet, e no desenvolvimento de uma Perturbação de Compulsão por Compras. Esta é reconhecida como uma doença em que os indivíduos são incapazes de resistir ao impulso de compra, apesar das consequências negativas pessoais e sociais. Objetivos: Procurámos analisar o impacto da utilização das redes sociais no comportamento de compras compulsivas em estudantes da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior. Métodos: Executámos um estudo observacional transversal sobre uma amostra de estudantes da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior, por meio de um questionário estruturado de autopreenchimento, disponível durante seis dias. Os dados foram analisados com estatística descritiva e inferencial, com recurso ao software Statistical Package for the Social Sciences v.28.0. Resultados: Entre os 313 indivíduos da amostra, de idade média de 23 anos e maioritariamente (75,1%) do sexo feminino, 71,9% utiliza mais frequentemente a rede social Instagram. A média do tempo de ecrã é de quatro horas por dia, variando a impressão subjetiva dos indivíduos entre uma utilização por dia (1,3%) e mais de uma utilização por hora (28,1%). Admitiram ter comprado artigos publicitados nas redes sociais no mês anterior, presencialmente, 16,9% dos inquiridos, e via internet 32,6%, apurando-se um gasto médio de 58,29€ nesta forma de compra. Cerca de 80% dos indivíduos já sentiram necessidade de reduzir o uso de redes sociais e 21,4% já sofreram repreensão por terceiros por esse uso. Para as compras online realizadas, 12,5% afirma já ter sentido arrependimento ou sofrido repreensão por terceiros. O sexo feminino associou-se significativamente a níveis mais altos de influenciabilidade autoavaliada pelas redes sociais (p<0,001). Essa influenciabilidade também se associou a maior frequência de realização de compras online (p=0,002); à sua realização apesar de consequências negativas (p=0,030); e a fenómenos de arrependimento ou repreensão por terceiros por tais compras (p<0,001). Discussão: Este estudo mostrou uma utilização considerável de redes sociais na população da amostra, com congruência entre a frequência auto-reportada e o tempo de ecrã objetivo. O Instagram, a rede de eleição, permite não só a visualização de conteúdos como a sua compra rápida, o que pode ter contribuído para a maior representatividade de compras online na amostra. As consequências emocionais e interpessoais observadas apontam para a presença de critérios de Perturbação de Compulsão por Compras em cerca de 1% a 21% da população da amostra. Apesar das discrepâncias entre autores, esta doença é consensualmente considerada uma perturbação de controlo de impulsos, com fatores de risco como idade jovem, sexo feminino, sintomas emocionais, obsessivos e impulsivos e a disponibilidade de métodos de pagamento via internet. As intervenções psicoterapêuticas e farmacológicas serotoninérgicas são o tratamento proposto com mais evidência, embora ainda de robustez escassa. Conclusão: A população estudada revela hábitos de uso de redes sociais e de compra online frequentes, com consequências emocionais e interpessoais negativas, podendo reunir critérios para Perturbação de Compulsão por Compras em prevalência elevada. O conhecimento sobre esta doença e o consumo de redes sociais digitais está em constante evolução, pelo que serão necessários mais estudos com metodologia de investigação longitudinal e análise estatística mais robusta para intervir adequadamente.