Browsing by Author "Matos, Beatriz Lopes de Oliveira"
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- Contraceção intrauterina no pós-parto e o seu impacto na saúde materna: Uma revisão sistemática da literaturaPublication . Matos, Beatriz Lopes de Oliveira; Lucas, Ana Catarina Abreu; Pereira, Mariana Maia DiasIntrodução: O período pós-parto representa um momento crítico para a saúde materna e crucial na prevenção de gravidezes não planeadas. A contraceção intrauterina (CIU) surge como uma opção eficaz, reversível e de longa duração, podendo ser inserida em diferentes momentos após o parto. No entanto, há um debate sobre a melhor época para sua colocação e seus impactos na saúde materna, incluindo eficácia, efeitos adversos e satisfação das utilizadoras. Diante dessa incerteza, esta revisão sistemática pretende analisar o impacto da inserção da contraceção intrauterina no pós-parto, comparando diferentes tempos de inserção e as suas implicações clínicas. Métodos: Foi realizada uma revisão sistemática conforme os critérios PRISMA. A pesquisa foi conduzida nas bases de dados PubMed, Web of Science, Scopus e Lilacs, utilizando descritores relacionados à CIU, pós-parto e saúde materna. Foram incluídos estudos publicados entre 2001 e 2024, que avaliaram a inserção da CIU em mulheres puérperas até 12 semanas após o parto, com comparação entre diferentes tempos de inserção ou ausência de inserção. Foram excluídos estudos com gestantes de alto risco, artigos de revisão, protocolos, cartas ao editor, relatos de caso e estudos sem texto integral disponível. Resultados: Foram incluídos 36 estudos na análise. Os tempos de inserção variaram entre: até 10 minutos pós-placenta (13 estudos); até 48 horas pós-parto (3 estudos); 2 ou 3 tempos de inserção distintos (17 estudos) e outros tempos de inserção (3 estudos). A eficácia foi avaliada pela taxa de continuidade e ocorrência de gravidez não planeada. A maioria dos estudos indicou altas taxas de continuidade nos primeiros 6 a 12 meses, variando entre 47,5% e 91,5%. O risco de gravidez foi muito baixo (menos de 1% ao ano na maioria dos estudos). Os efeitos adversos mais frequentes foram: distúrbios menstruais (relatados em até 28,1% das mulheres); Dor, quer seja abdominal, pélvica, cólica ou dismenorreia (ocorrência variando entre 4,4% e 37,6%); Infeção e doença inflamatória pélvica (DIP) (frequência abaixo de 2% na maioria dos estudos). A expulsão do dispositivo (taxas entre 2,1% a 52,9%) e a sua remoção precoce, principalmente devido a efeitos adversos ou crenças socioculturais também foram amplamente documentadas. A satisfação foi elevada na maioria dos estudos, variando entre 56,3% e 100%. Discussão: Esta revisão sistemática analisou a eficácia, efeitos adversos e satisfação em relação à inserção de contraceção intrauterina (CIU) no pós-parto. Os resultados demonstraram que a taxa de continuidade do método é elevada e a taxa de falha contracetiva foi baixa, com diversos estudos não reportando gestações, o que confirma a alta eficácia do método já relatado por outros estudos. De um modo geral, a maioria dos artigos corrobora que os efeitos adversos mais comuns incluem distúrbios menstruais, dor, infeções e complicações relacionadas à posição do dispositivo. Sugerindo-se que a ocorrência destes efeitos adversos está mais associada ao uso do dispositivo intrauterino do que propriamente ao momento da sua inserção. Verificou-se que a taxa de remoção é influenciada por múltiplos fatores, como o tipo de parto, efeitos adversos relacionados com a inserção e até mesmo características individuais das utilizadoras. A expulsão foi mais frequente nas primeiras semanas após a inserção e ocorreu mais em partos vaginais do que em cesarianas. A satisfação com o método foi elevada, com a maioria dos estudos reportando taxas superiores a 75%, sendo que muitas utilizadoras demonstraram intenção de continuar o uso e recomendar o DIU/SIU. Entre as limitações desta revisão, destacam-se a heterogeneidade dos estudos incluídos e desfechos avaliados. Para pesquisas futuras, recomenda-se a realização de ensaios clínicos randomizados multicêntricos, investigações sobre estratégias para reduzir a taxa de expulsão e otimização da implementação desta estratégia contracetiva em diferentes contextos de saúde. Conclusão: A inserção da CIU no pós-parto revelou-se uma estratégia útil para ampliar o acesso à contraceção, para além disso, a sua inserção no pós-parto imediato e precoce apresenta vantagens como conveniência, alta eficácia e adesão ao método, especialmente quando realizada durante a cesariana. No entanto, a expulsão do dispositivo é um fator limitante, principalmente em partos vaginais. A longo prazo, a CIU no pós-parto demonstrou ser uma alternativa segura e eficaz, contribuindo para a redução das taxas de gravidez não planeada e melhorando o planeamento familiar. A decisão sobre o momento da inserção deve ser individualizada, considerando o tipo de parto, preferência da paciente e risco de complicações.
