Browsing by Author "Neves, Dulcelena Pires dos Santos das"
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- Cessação tabágica e saúde mentalPublication . Neves, Dulcelena Pires dos Santos das; Ravara, Sofia BeloIntrodução: O tabagismo é a segunda principal causa modificável de morbilidade e mortalidade, o que torna a cessação tabágica uma poderosa arma no campo de atuação da medicina preventiva. As alterações de saúde mental podem duplicar a probabilidade de desenvolver hábitos tabágicos. Doenças crónicas causadas pelo tabagismo, como a hipertensão arterial e DPOC, são mais comuns entre os fumadores com patologia psiquiátrica comparativamente com aqueles sem doença psiquiátrica. Desta forma torna-se crucial analizar e caracterizar o programa de cessação tabágica, com maior ênfase para esta população em particular, com o intuito de alertar os profissionais de saúde para este grupo mais vulnerável e desenvolver/adaptar os programas de tratamento e as políticas de controlo do tabagismo, dirigidos aos doentes com patologia psiquiátrica em Portugal. Objetivos: Caraterizar alterações da saúde mental numa população de utentes que recorreu à consulta de cessação tabágica do Centro Hospitalar Cova da Beira (CHCB) durante os anos de 2010-2014. Avaliar e comparar a dependência nicotínica e a motivação para deixar de fumar entre fumadores com alterações da saúde mental e aqueles sem distúrbios psiquiátricos. Relatar casos clínicos de cessação tabágica de utentes com alteração da saúde mental. Material e métodos: Estudo observacional descritivo transversal. Análise dos protocolos clínicos da consulta de cessação tabágica do CHCB respeitantes aos anos 2010-2014. Os questionários clínicos correspondem a um protocolo standard desenvolvido pelo Grupo de Trabalho de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia com aplicação sistemática na primeira consulta. Foi realizada uma análise descritiva quantitativa analítica uni e bivariável usando o teste de Chi Quadrado e correlação de Spearman. O nível de significância estatística foi de 5% (p<0,05). Realizou-se a regressão logística binária para a análise multivariável. Resultados: Do estudo fizeram parte 503 fumadores, sendo a maioria (66,2%) do género masculino. Do total dos participantes, a média de idades observada foi de 47,26(±12,5) anos. 49,6% tinham no máximo o nono ano de escolaridade. Entre as comorbilidades, as alterações de saúde mental (depressão e/ou ansiedade) foram as mais frequentemente descritas (41,8%), seguindo-se as doenças de foro respiratório (36,6%) e as cardiovasculares (32,8%). A dependência de outras substâncias com poder aditivo foi descrita por 26,2% dos fumadores. Entre os indivíduos que reportaram alguma alteração da saúde mental, 51,3% são do género feminino e 48,7% do género masculino. Não foi observada uma correlação entre história prévia/atual positiva de pertubações mentais e o nível de dependência nicotínica (p=0,409). Para o consumo de outras substâncias aditivas foi observada uma correlação estatisticamente significativa com o nível de dependência nicotínica (p<0,001), tendo-se verificado um nível máximo de dependência em 37,3% destes. Para a dependência etílica em particular, esta relação revela-se bastante marcada, sendo que apenas 5,1% demonstrou uma dependência baixa. Relativamente à avaliação da motivação para deixar de fumar, na população que descreve alguma alteração psiquíatria, os resultados mostraram-se inconsistentes entre os testes utilizados para este fim. Conclusão: Este trabalho demonstra que o tabagismo e as alterações de SM frequentemente coexistem. A presença de alterações psiquiátricas não influenciou o grau de dependência nicotínica. Quanto à motivação para a CT nos doentes com patologia psiquiátrica associada ou prévia, os resultados tendem para um menor grau de motivação neste grupo de doentes. Foram relatados três casos clínicos de cessação tabágica de doentes com esquizofrenia, depressão major e bulimia nervosa. Estes constituem três exemplos de sucesso de uma abordagem para a cessação tabágica envolvendo o seguimento clínico, terapêutica farmacológia, aconselhamento comportamental e reforço da motivação e da confiança, sem olvidar a importância de um apoio sociofamiliar. Nestes doentes, os ganhos observados foram vastos, envolvendo vantagens a nível respiratório, psiquiátrico, com grande repercussão na autoestima e na auto-eficácia. A HADS corroborou a normalização dos sintomas de ansiedade e de depressão. Torna-se fulcral uma intervenção neste grupo, que se revela mais vulnerável, envolvendo atuações mais abrangentes a nível social, cultural, comunitário e individual. O clínico, de qualquer especialidade médica, encontra-se numa posição previlegiada para facultar estas providências na grande luta desleal que representa o tabagismo e as suas consequências para a saúde.
