Browsing by Author "Rocha, Valter Bruno da Silva Santos"
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- Linfoma de BurkittPublication . Rocha, Valter Bruno da Silva Santos; Muñoz Moreno, JavierO Linfoma de Burkitt é um Linfoma não Hodgkin, muito agressivo, descrito pela primeira vez por Denis Parson Burkitt em 1958. Ao microscópio exibe um padrão monomórfico de células neoplásicas de tamanho médio (12µ), com um núcleo redondo ou oval, vários nucléolos, citoplasma basófilico e vários vacúolos de conteúdo lipídico. Este padrão de células é interrompido por macrófagos que dão às lâminas uma aparência em céu estrelado. Caracteristicamente as amostras do Linfoma de Burkitt apresentam um elevado turn-over celular (Ki67>95%), sendo o tempo de duplicação celular de 24-48h. O Linfoma de Burkitt expressa um fenótipo de linfócitos B maduros (IgM+, CD19+, CD20+, CD22+, CD79a+, CD23-, ciclinaD1-, TdT-) e um fenótipo de células oriundas do centro germinativo (Bcl-6+, CD10+, Tcl-1+, CD38+, Mum-1-, CD44-, CD138- e Bcl-2-). A imagem de marca do Linfoma de Burkitt são as translocações do gene c-MYC que causam a hiperexpressão do gene e promovem o crescimento e divisão celular. A t(8;14) entre c-Myc e IgH é a mais característica e representa 80% dos casos. A t(2;8) entre c-Myc e Ig?, e a t(8;22) entre c-Myc e Ig? representam os restantes 20% dos casos. Associada às translocações de c- Myc podem também haver mutações cooperantes envolvendo as vias p53, BIM, PUMA e PI3K/AKT/mTOR. O Linfoma de Burkitt tem três variantes clínicas associadas, a endémica, a esporádica e a variante associada à imunodeficiência. A endémica é mais frequente na África equatorial, com forte associação à infecção por Plasmodium falciparum. Representa 90% dos linfomas infantis e normalmente surge aos 4-7 anos. 90-100% das células tumorais são positivas para o Vírus de Epstein Barr. A variante esporádica é mais comum na Europa e EUA, representa apenas 3-6% de todos os processos malignos infantis e surge em crianças mais velhas, 10-12 anos. Cerca de 20% das células são positivas para o Vírus de Epstein Barr. A variante associada à imunodeficiência surge em doentes seropositivos para o Vírus de Imunodeficiência Humana e outros doentes imunodeprimidos, representando 25-40% dos Linfomas não Hodgkin em doentes seropositivos para o Vírus de Imunodeficiência Humana. Nestes doentes o Linfoma de Burkitt normalmente surge com contagens de linfócitos CD4+ altas, >200 células/µL, sendo raro com contagens de linfócitos CD4+ inferiores a 50 células/µL. 30-50% das células são positivas para o Vírus de Epstein Barr. O Linfoma de Burkitt tem uma forte relação com o Vírus de Epstein Barr, este último parece promover nos linfócitos infectados o crescimento e divisão celular. Nas células do Linfoma de Burkitt, o Vírus de Epstein Barr exprime o padrão de Latência I, contudo não é claro como é que este padrão contribui para a linfomagénese, sendo que algumas moléculas de miRNA parecem desempenhar um papel. Normalmente os doentes com Linfoma de Burkitt apresentam múltiplas massas tumorais. A apresentação clássica do Linfoma de Burkitt é a de um tumor mandibular de crescimento rápido, porém estão descritas outras formas de apresentação. Na variante endémica as apresentações envolvendo a face representam 50-60% dos casos, e as apresentações abdominais 50% dos casos. Na variante esporádica a apresentação abdominal é a mais frequente e as massas faciais representam apenas 15-30% casos. Nos doentes com Linfoma de Burkitt associado à imunodeficiência há normalmente envolvimento dos gânglios linfáticos, do sistema nervoso central e da medula óssea. É relativamente comum os doentes com Linfoma de Burkitt apresentarem sinais e sintomas de síndrome de lise tumoral, e níveis plasmáticos de lactato desidrogenase e de ácido úrico altos (sinónimo de alto turnover celular). Nos países em desenvolvimento, o diagnóstico é principalmente feito pela clinica e avaliação histológica. Nos países desenvolvidos pode-se, ainda, recorrer à imunohistoquímica e a um conjunto de meios complementares de diagnóstico e tratamento mais amplos. Nos últimos anos, a análise dos perfis de expressão genética tem ganho uma crescente importância, em especial para o diagnóstico diferencial com outros linfomas não-Hodgkin, como o Linfoma difuso de grandes células B e o Linfoma de células B inclassificável com características intermediárias entre o Linfoma difuso de grandes células B e o Linfoma de Burkitt. Também se devem considerar no diagnóstico diferencial outros tumores da face (e.g. sarcoma, carcinomas, melanomas), e outros tumores intra-abdominais (e.g. Tumor de Wilms e neuroblastoma).