Browsing by Author "Salgueiro, Carla Sofia Lopes"
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- O segundo cérebroPublication . Salgueiro, Carla Sofia Lopes; Baltazar, Graça Maria FernandesA relação entre o sistema nervoso e a microbiota entérica é um tópico que tem gerado bastante atenção no campo das neurociências. A microbiota entérica corresponde ao conjunto de microrganismos que habitam o trato digestivo dos animais. A colonização intestinal ocorre, na grande maioria, durante a passagem do bebé pelo canal do parto, onde é exposto à microbiota da mãe. Assim, a constituição da microbiota entérica varia consoante o tipo de parto e consoante fatores como o modo de amamentação, o genótipo, o país e região do hospedeiro, o uso de antibióticos, prebióticos e probióticos. A microbiota entérica nos primeiros dias de vida é pouco diversificada e instável; atingindo a idade adulta ela mantém-se relativamente estável ao longo do tempo e torna-se única e característica de cada individuo. Quando o hospedeiro é exposto a agentes externos como as alterações da dieta ou o uso de antibióticos a microbiota entérica, que se encontra em simbiose com o hospedeiro, sofre alterações. Contudo, ela apresenta uma grande capacidade de resistir e restaurar o seu núcleo microbiano. Apesar da resiliência da microbiota, esta pode sofrer um fenómeno de disbiose, que por sua vez, se correlaciona com a elevada prevalência de patologias crónicas e neurodegenerativas, no hospedeiro. Em particular, a microbiota entérica estabelece uma relação bidirecional com o sistema nervoso central (SNC). Este dinamismo implica efeitos em diversos mecanismos, como a alteração da permeabilidade intestinal, que permite a passagem de microrganismos e dos seus metabolitos neuroativos para a corrente sanguínea que irão modular o SNC, e a modulação do nervo vago e do eixo hipotálamo-hipófise. Neste sentido, a microbiota entérica influencia o desenvolvimento e a manutenção do equilíbrio dos órgãos e tecidos e o seu papel é importante na manutenção da saúde cerebral, pois através das vias neuro-endócrinas e imunológicas este ecossistema desencadeia a modulação do sistema nervoso. Por este motivo têm emergido trabalhos centrados no estudo do impacto da microbiota entérica na saúde neurológica através de estudos quer em modelos pré-clínicos quer em humanos. Nestes estudos a microbiota entérica é manipulada através da administração de probióticos, prebióticos ou antibióticos. Modelos animal livres de germes são frequentemente usados neste tipo de estudos. Alguns destes estudos permitiram concluir que a disbiose entérica, provocada pela administração de antibióticos ou pela infeção entérica, propicia comportamentos de ansiedade em modelos animais. Paralelamente verificou-se que os animais livres de germes se apresentam menos ansiosos quando sujeitos a estímulo indutor de stresse, apesar de terem um elevado nível de corticosterona e de Hormona adrenocorticotrófica (ACTH) e défices na memória não-espacial e na memória de trabalho. Relativamente à doença de Parkinson, alguns autores verificaram que o risco de desenvolver esta patologia é inferior nos pacientes submetidos a vagotomia total, sugerindo uma atuação do nervo vago na patogénese do Parkinson; outros comprovaram existir um agravamento dos sintomas motores com a disbiose entérica. Resultados de alguns trabalhos sugerem também a existência de uma correlação entre a disbiose entérica e a progressão da doença de Alzheimer.