Browsing by Issue Date, starting with "2018-10-17"
Now showing 1 - 1 of 1
Results Per Page
Sort Options
- Análise da Narrativa Fílmica O Dia do DesesperoPublication . Fiadeiro, Maria Vitória Torrão; Magalhães, Gabriel Augusto CoelhoA narrativa de um filme não se processa do mesmo modo como acontece numa obra literária, na medida em que os meios utilizados pelos respetivos autores para a transmissão da sua mensagem são, pela sua natureza, diferentes. Enquanto o escritor literário conta apenas com as palavras escritas para narrar uma história — salvaguarda-se eventualmente a ilustração por alguns desenhos/fotografias —, o cineasta socorre-se de outros meios tais como o som, a imagem, os jogos de luz/sombra ou até a posição e os movimentos de câmara para elaborar o seu discurso e realizar a sua obra. Portanto, a primeira questão que se coloca ao encetarmos a nossa dissertação é a seguinte: quais os recursos cinematográficos privilegiados por Manoel de Oliveira na construção da narrativa do filme em análise? Assim, importa identificar e explicitar um particular conceito de fazer cinema, que demarcou Oliveira dos demais cineastas portugueses e até mundiais. Um outro quesito importante prende-se com a forma como classificamos O Dia do Desespero e justificamos essa tipificação. O que é o filme? Uma ficção, um documentário, uma docuficção? As leituras e releituras que fizemos conduziram-nos a uma proposta de classificação diferente da do realizador. Contudo, num aspeto deveremos estar todos de acordo quando afirmamos que se trata de um filme contemplativo que induz o espetador à reflexão e à introspeção, não se enquadrando, de forma alguma, no género de cinema comercial que é realizado apenas para diversão dos espetadores. Assim, a delimitação do espaço da casa de São Miguel de Seide — que funciona como cenário principal — e a identificação dos objetos nela contidos, que serviram os propósitos do cineasta no sentido de nos desvendarem o lado mais intimista do escritor, ou seja, a face oculta que muitos de nós não conhecíamos, será pois outro dos nossos objetivos. Cientes de que os objetos também falam, bastando para isso, escutá-los, olhá-los com especial atenção e ver o que nos podem contar acerca da personalidade e dos últimos dias de vida do seu proprietário, embarcaremos numa viagem analítica que nos conduzirá ao passado e ao misterioso universo camiliano. As personagens intervenientes e não intervenientes na ação do filme e que representam todos aqueles que, para o bem ou para o mal, fizeram parte da vida de Camilo Castelo Branco, bem como as transposições da literatura para o filme em causa constituem, de igual modo, objetos do nosso estudo.