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- A decisão de investimento em hospitais privados do Brasil e Canadá sob a ótica da análise de desempenhoPublication . Marques, Isabel Cristina Panziera; Teixeira, Zélia Maria da Silva Serrasqueiro; Nogueira, Fernanda Maria DuarteA mudança de paradigma na gestão dos serviços de saúde produz uma constante pressão social, política e económica, para a prestação de serviços de qualidade e eficientes, ao custo mais reduzido. Tal fato, representa um desafio para os gestores das organizações, tanto públicas como privadas. As decisões de investimento envolvem todo o processo de identificação, avaliação e seleção das alternativas de aplicações de recursos. Neste contexto de mudança, o gestor hospitalar é uns dos principais atores, por assumir compromissos com a organização, com o utente e com os demais profissionais. Nos hospitais privados a manutenção do equilíbrio económico-financeiro da instituição torna-se maior conforme a sustentabilidade financeira dependa da relação entre os gastos e os valores recebidos pelo hospital. Diferentes sistemas nacionais de saúde podem afetar na forma como as necessidades de investimento são detetadas, como as análises de desempenho são realizadas, bem como podem influenciar nas possíveis fontes de financiamento destes investimentos. O propósito deste estudo é o de verificar se, na tomada de decisão de investimento, os gestores dos hospitais privados brasileiros e canadenses decidem por projeto de investimento sob a ótica da análise de desempenho, como suporte à decisão. Quanto a gestão dos recursos, o Brasil possui descentralização incompleta, centrados no âmbito federal, com participação das esferas estaduais e municipais e com coexistência de serviços de saúde públicos e privados. O Canadá, por sua vez, foi o país escolhido para comparação com o Brasil devido ao fato de possuir uma gestão dos recursos de saúde completamente descentralizada, tendo as províncias e territórios a responsabilidade da sua gestão. Para alcançar este macro objetivo, três fases distintas foram delineadas. A primeira fase, qualitativa, uma revisão sistemática da literatura (RSL), que propiciou o levantamento dos temas relevantes da investigação, por meio do uso da meta-análise Prisma, do software VOSviewer culminando com a proposta de um modelo conceitual, com o uso do Grounded Theory. Para tal, foram utilizadas as bases de dados Scopus e ISI Web of Science, com busca pelos artigos em novembro de 2019. A segunda fase, também qualitativa, deu-se com estudos de caso envolvendo o Brasil e Canadá. Foram realizadas entrevistas, em abril de 2020, com gestores administrativos ou financeiros de dois hospitais privados. Por intermédio do software NVivo 11, as variáveis despontadas foram analisadas e estruturadas de forma a destacar os temas emergidos das entrevistas. Estes temas, serviram de referência para a construção de um questionário, utilizado na fase três deste estudo. Desta forma, a fase empírica, envolvendo também os hospitais privados brasileiros e canadenses, foi norteada pelos critérios de elegibilidade como dimensão e complexidade dos hospitais. A coleta de dados foi realizada durante todo o mês de novembro de 2020. Utilizado o software SPSS Statistic para as análises de 111 respondentes (taxa de resposta 20,16% e 21,87% do Brasil e Canadá, respetivamente). A partir de diferentes níveis do meio envolvente, o meio ambiente meso (formado pelas instituições hospitalares) foi destacado na RSL. A rede de coocorrência de palavras-chave, com uso do VOSviewer, apontou para quatro principais linhas de pesquisa que vêm sendo conduzidas, referente a governação em saúde: (i) qualidade dos cuidados em Saúde, (ii) responsabilidade social corporativa em Saúde, (iii) gestão de riscos em Saúde e, (iv) governação global na Saúde. Neste contexto, o modelo conceitual que emergiu da RSL, a partir da aplicação Grounded Theory, ressalta a importância de se observar o meio envolvente onde os principais aspectos da governação corporativa em Saúde se inserem. Na sequência, o estudo de casos, fase dois, aponta para as perceções dos diretores sobre os conceitos de governação quando se fala da inter-relação entre as partes clínica e administrativa da gestão hospitalar, que se complementam, cada uma com enfoques distintos, como o atendimento de qualidade ao utente (clínica) e a gestão adequada dos processos administrativos e das relações entre as partes interessadas. Quanto a financiamentos e investimentos nas organizações, são observadas as semelhanças e diferenças, tanto nas escolhas de financiamento como nas análises de desempenho realizadas como suporte a decisão de investimento. A fase qualitativa, com entrevistas aos gestores, culmina com a proposta de um modelo para integrar o envolvimento e as competências dos gestores hospitalares em instituições privadas no Brasil e no Canadá, para identificar os fatores específicos que influenciam a tomada de decisão sobre o investimento. A fase três, empírica, completa o estudo caracterizando as instituições hospitalares. No Brasil, em sua maioria, como hospital geral, de média dimensão, com internamento integral de longa permanência e mista, alta complexidade, com corpo clínico aberto, constituição de sociedade por quotas. O Canadá difere do Brasil quanto a caracterização pelo fato da maioria dos hospitais serem de grande dimensão e média complexidade. Quanto ao perfil dos gestores brasileiros, estes estão na faixa etária entre 45 e 59 anos, são médicos em sua maioria e atuam como administradores, enquanto os gestores canadenses enquadram-se na faixa etária acima dos 60 anos, graduados em Gestão, com a função de administradores. Nos dois países, a principal fonte de capital é o capital próprio quando se trata de investimento. O business intelligence, balanced scorecard e indicadores de desempenho clínico são as análises de desempenho mais utilizadas antes da decisão de investimento. Uma questão importante, diz respeito, na opinião dos respondentes, qual deve ser a formação do gestor hospitalar, se a mesma deve ter origem na medicina. Neste aspecto, 61,7% e 74,8% dos respondentes do Brasil e Canadá, respetivamente, defendem que o gestor, não necessariamente, deva ser médico. Apontam para um cenário ideal, onde a formação de uma equipe multidisciplinar, pode trazer inúmeros benefícios para a gestão, tanto clínica como administrativa, ao apropriar de maneira mais adequada as alocações de recursos. Neste contexto, após a identificação das necessidades de investimentos, a análise de desempenho assume o papel central ao disponibilizar recursos através de diferentes métodos de avaliação, tais como cobertura, comparabilidade, mensurabilidade e compatibilidade dos processos. No setor privado, a capacidade de investimento dos hospitais e busca por retornos financeiros acaba por se tornar um fator importante enquanto item de receita. No Brasil, uma das fontes de lucro dos hospitais é a comercialização de materiais e medicamentos, junto a operadoras de planos de saúde e seguradoras ou diretamente aos utentes. Tal modelo está esgotado e os hospitais precisarão ter capacidade de cobrar pela assistência prestada, seguindo (por exemplo) o modelo canadense, com os grupos de diagnósticos homogêneos (GDHs) que agrupa os casos homogêneos pautados nos diagnósticos primários e secundários. Dever-se-ia buscar alguma complementaridade, como a chamada contratualização entre parceiros. O modelo vigente faz com que, pelas carências de visão, pelo imediatismo da gestão, pela falta de conhecimento dos custos, a cadeia de valor do setor tenha um comportamento autofágico, com baixa tendência a construir movimentos sinérgicos. Os resultados da investigação demonstram que a tomada de decisão de investimento hospitalar é fortemente afetada pelas características do sistema de saúde de um país, em particular a cobertura de seguro saúde, método de financiamento, método de reembolso para hospitais e propriedade do hospital. Embora a literatura apresente referências atuais sobre governação e aspectos regulatórios em saúde, uma limitação identificada refere-se ao período analisado (5 anos), pois este pode ser estendido, permitindo assim uma maior abrangência na determinação de clusters e dos determinantes que influenciam as regulamentações sanitárias, tanto nos níveis macro (governamental), meso (instituições) e micro (unidades de atenção ao utente). As entrevistas, fase dois deste estudo, foram realizadas em dois importantes hospitais do Brasil e Canadá e na interpretação dos achados reconhecemos essa limitação em termos quantitativos, não podendo generalizar os resultados aqui obtidos. Contudo, uma maior abrangência foi obtida com a realização do estudo empírico. Embora o estudo empírico tenha tido o horizonte de tempo transversal, espera-se que tais análises, pautadas nos hospitais privados brasileiros e canadenses sirvam de inspiração para novas investigações que incluam estudos longitudinais, envolvendo, inclusive, amostras de outros países com sistemas nacionais de saúde díspares e que sejam realizadas também a comparação de decisão de investimento entre hospitais públicos e privados. Importante contribuição para a literatura advém da estrutura e interações nas diferentes esferas, níveis do ambiente de saúde e seu impacto na assistência ao utente. No plano político, inclui a perspectiva da influência das políticas públicas nos resultados, em última instância, no internamento e atendimento ao utente. Este estudo é um dos poucos que comparou a importância das competências dos gestores para a tomada de decisão de investimento em hospitais privados no Brasil e Canadá. Ao contribuir com um modelo de envolvimento de gestores, específico para hospitais, várias equipes intra-hospitalares podem trabalhar para implementar novas intervenções para um maior envolvimento de funcionários, média gerência e diretores na gestão institucional e, desta forma, melhorar o desempenho das organizações, delineando a importância das competências dos gestores de hospitais privados.
