Browsing by Issue Date, starting with "2022-05-06"
Now showing 1 - 1 of 1
Results Per Page
Sort Options
- Representações de Género em Revistas Juvenis Femininas: Uma Proposta de Análise Crítica do DiscursoPublication . Santos, Inês Catarina Seabra Conde dos; Rei, José Esteves; Silvestre, Maria Carminda Bernardes; Carvalheiro, José Ricardo PintoNa modernidade tardia, os estilos de vida e as identidades juvenis têm sido amplamente negociados em função dos mercados e do seu interesse em maximizar o potencial dos jovens enquanto consumidores. Neste âmbito, as estruturas sociais têm exercido cada vez mais pressão sobre as suas biografias de escolha a partir de uma racionalidade neoliberal que instaura processos de autogovernança e gestão de riscos. As raparigas são quem, nesta conjuntura, mais suscita o interesse das economias neoliberais e das ordens discursivas que as retroalimentam continuamente, constituindo-se como os seus sujeitos ideais. A correlação entre as identidades das jovens, as estruturas económicas e as especificidades sociológicas da modernidade tardia tem motivado a crescente produção e disseminação de textos mediáticos que cooptam uma “sensibilidade pós-feminista”. O termo alude à forma como a representação das raparigas nos media tem sido feita a partir do pressuposto de que estas têm agora poder e liberdade para se reinventarem e gerirem as suas escolhas, designadamente através de comportamentos de consumo. Refere-se também aos modos pelos quais os textos pós-feministas tendem a articular domínios ideológicos de regulação das identidades de género. É neste enquadramento que é aqui entendida a função socializadora das revistas juvenis femininas, como práticas discursivas que constituem e são constituídas por representações sobre os modos de ser e agir como rapariga na contemporaneidade. Esta tese inscreve-se na Análise Crítica do Discurso e desenvolve uma abordagem de cariz dialético-relacional multimodal que investiga representações da feminilidade em páginas de rosto de 102 editoriais de moda e em 30 editoriais de beleza integrais, publicados, entre 2007 e 2015, em edições portuguesas das revistas Ragazza e Cosmopolitan. Neste enquadramento, para o estudo das representações, são usados instrumentos analíticos dos significados representacionais na aceção de Fairclough (2003) e Kress e van Leeuwen (2006), a partir de uma perspetiva qualitativa transdisciplinar que se identifica com a agenda da Análise Crítica Feminista do Discurso. A partir da consideração das relações que se estabelecem entre as estruturas neoliberais, incluindo os regimes de autogovernança que instauram, e domínios de represesentação textual influenciados pelo ideário pós-feminista, procuro identificar e explicar o funcionamento de discursos multimodais sobre a feminilidade, sinalizar e interpretar potenciais configurações ideológicas que nelas se materializem e indagar a função que os editoriais de moda e beleza analisados desempenham na ordem social de género contemporânea. Os resultados indicam que, nos editoriais de moda e beleza em análise, a articulação entre os modos verbal e visual constrói processos de tecnologização e neoliberalização da juventude feminina, transformando-a numa “mascarada”. A representação da feminilidade como mascarada é constituída nos textos através de discursos que a qualificam como artifício consentido e assumido pelas raparigas, isto é, como um projeto de encenação que requer práticas continuadas de transformação do corpo e da mente que, por seu turno, são fixadas como atividades lúdicas, aprazíveis e agregadas a comportamentos rotineiros de consumo. Estes contextos de representação resultam da internalização de significados que caracterizam a sensibilidade pós-feminista e que também se evidenciam na forma como os editoriais dão visibilidade a subjetividades neoliberalizadas e reguladas por processos de governança. Nos textos em escrutínio, os domínios de regulação das práticas de moda e beleza das raparigas assumem contornos multidimensionais. Por um lado, são visíveis na forma como as vozes editoriais apelam à gestão reflexiva da aparência e das subjetividades das jovens, ou seja, nos modos como são articulados discursos de escolha, autonomia e agência. Trata-se, contudo, de um tipo de agência funcional vinculada, através de recursos multimodais, a práticas de consumo e traduzida num trabalho incessante de reinvenção estética que não pressupõe intenções e/ou ações emancipatórias por parte das raparigas. Por outro lado, e simultaneamente, persistem e articulam-se multimodalmente discursos que legitimam e celebram identidades femininas inscritas num paradigma social heteronormativo que, por sua vez, normaliza assimetrias de classe, etárias e étnicas.