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- Medicalização e construção social da menopausa: impactos na experiência e produção de significados por parte das mulheresPublication . Jesus, Beatriz Marcos de; Augusto, Amélia Maria CavacaAo longo dos anos, acontecimentos naturais, próprios do desenvolvimento humano, como a gravidez, o parto, a infelicidade, o envelhecimento e a morte passaram a estar sob o escrutínio e controlo médico. Passámos a tomar como natural o facto de precisarmos de cuidados de saúde de rotina, o que, de certo modo, veio retirar a autonomia aos indivíduos para lidarem com a dor e o sofrimento. O corpo feminino foi sempre mais medicalizado, quando comparado com o corpo masculino, pois a medicina, apropriava-se dele como objeto de saber, principalmente no que dizia respeito à sua sexualidade e reprodução. Esta medicalização advinha sobretudo da ideia de que o corpo da mulher era sinónimo de doencificação, uma vez que a medicina tinha o poder de transformar questões fisiológicas em doenças, assim a gravidez e a menopausa eram entendidas como patologias, a menstruação era associada a distúrbios crónicos e o parto tornou-se um evento cirúrgico. A menopausa é uma das fases do ciclo reprodutor da mulher, mais propriamente a cessação da menstruação que leva à perda da fecundidade, e, como tal, também se viu sob alçada do olhar biomédico. Definida como doença, devido à redução de estrogénios, a toda a sintomatologia que lhe está associada, bem como às complicações de saúde que podem surgir no pósmenopausa, esta fase foi alvo de medicalização, através de terapia de reposição hormonal, a qual acarreta inúmeros riscos. O discurso pejorativo estimulado pela medicina em torno da menopausa, acaba por gerar uma perceção negativa sobre esta fase. Impondo-se como uma das etapas mais temíveis, a menopausa apresenta-se como uma fase de perdas, colocando a autoimagem das mulheres em causa. Numa sociedade em que os padrões de feminilidade estão enraizados em princípios de juventude, beleza, fertilidade e sexualidade, a mulher irá ser confrontada com o seu novo “eu”. A perceção da menopausa varia de mulher para mulher, consoante os contextos sociais e as biografias individuais, o que estimulará a produção de significados diferentes entre si. neste sentido ue se torna im ortante olhar al m da defini o biom dica da menopausa e estudá-la como um fenómeno social, como tal a presente investigação visa analisar os impactos da construção social e da medicalização da menopausa na vida das mulheres. Procedeu-se a uma revisão de literatura com particular enfoque na análise sociológica dos seguintes temas: a tese da medicalização, o controlo social do corpo feminino e a definição biomédica de menopausa; e a construção social da menopausa, significados culturais e sociais da menopausa e os impactos trazidos por esta fase. Uma vez que se pretendeu analisar a forma como as mulheres constroem a menopausa, e os seus pontos de vista quanto ao impacto desta fase sobre si mesmas e na vida quotidiana, dando voz e analisando as suas perspetivas enquanto mulheres ativas na construção da realidade através da atribuição de significados ao social. Adotou-se um enfoque metodológico de âmbito qualitativo, tendo sido realizadas 20 entrevistas semiestruturadas individuais. No que diz respeito aos principais resultados obtidos com a investigação, destacamos que a forma como as mulheres constroem a menopausa e os significados que lhe atribuem surgem sobretudo da interação entre as influências dos especialistas, as influências sociais e culturais, as suas observações e experiências pessoais, assim como da inter-relação de diferentes formas de conhecimento e de saber interrelacionados, como o saber biomédico e o social. A construção que as mulheres fazem da menopausa, influencia a perceção que estas têm sobre a sua própria experiência individual, como a sua feminilidade, a sua sexualidade, a sua perda da fertilidade, a sua autoestima, mas também o impacto que esta fase causa na vida profissional e conjugal.
