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REPRESENTAÇÕES DE GÉNERO EM REVISTAS FEMININAS PARA ADOLESCENTES: UMA PROPOSTA DE ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO
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Representações de Género em Revistas Juvenis Femininas: Uma Proposta de Análise Crítica do Discurso
Publication . Santos, Inês Catarina Seabra Conde dos; Rei, José Esteves; Silvestre, Maria Carminda Bernardes; Carvalheiro, José Ricardo Pinto
Na modernidade tardia, os estilos de vida e as identidades juvenis têm sido amplamente
negociados em função dos mercados e do seu interesse em maximizar o potencial dos jovens
enquanto consumidores. Neste âmbito, as estruturas sociais têm exercido cada vez mais
pressão sobre as suas biografias de escolha a partir de uma racionalidade neoliberal que
instaura processos de autogovernança e gestão de riscos. As raparigas são quem, nesta
conjuntura, mais suscita o interesse das economias neoliberais e das ordens discursivas que
as retroalimentam continuamente, constituindo-se como os seus sujeitos ideais. A
correlação entre as identidades das jovens, as estruturas económicas e as especificidades
sociológicas da modernidade tardia tem motivado a crescente produção e disseminação de
textos mediáticos que cooptam uma “sensibilidade pós-feminista”. O termo alude à forma
como a representação das raparigas nos media tem sido feita a partir do pressuposto de que
estas têm agora poder e liberdade para se reinventarem e gerirem as suas escolhas,
designadamente através de comportamentos de consumo. Refere-se também aos modos
pelos quais os textos pós-feministas tendem a articular domínios ideológicos de regulação
das identidades de género. É neste enquadramento que é aqui entendida a função socializadora
das revistas juvenis femininas, como práticas discursivas que constituem e são constituídas
por representações sobre os modos de ser e agir como rapariga na contemporaneidade.
Esta tese inscreve-se na Análise Crítica do Discurso e desenvolve uma abordagem de cariz
dialético-relacional multimodal que investiga representações da feminilidade em páginas de
rosto de 102 editoriais de moda e em 30 editoriais de beleza integrais, publicados, entre 2007
e 2015, em edições portuguesas das revistas Ragazza e Cosmopolitan. Neste enquadramento,
para o estudo das representações, são usados instrumentos analíticos dos significados
representacionais na aceção de Fairclough (2003) e Kress e van Leeuwen (2006), a partir de
uma perspetiva qualitativa transdisciplinar que se identifica com a agenda da Análise Crítica
Feminista do Discurso. A partir da consideração das relações que se estabelecem entre as
estruturas neoliberais, incluindo os regimes de autogovernança que instauram, e domínios de
represesentação textual influenciados pelo ideário pós-feminista, procuro identificar e
explicar o funcionamento de discursos multimodais sobre a feminilidade, sinalizar e
interpretar potenciais configurações ideológicas que nelas se materializem e indagar a função
que os editoriais de moda e beleza analisados desempenham na ordem social de género
contemporânea. Os resultados indicam que, nos editoriais de moda e beleza em análise, a articulação entre
os modos verbal e visual constrói processos de tecnologização e neoliberalização da
juventude feminina, transformando-a numa “mascarada”. A representação da feminilidade
como mascarada é constituída nos textos através de discursos que a qualificam como
artifício consentido e assumido pelas raparigas, isto é, como um projeto de encenação que
requer práticas continuadas de transformação do corpo e da mente que, por seu turno, são
fixadas como atividades lúdicas, aprazíveis e agregadas a comportamentos rotineiros de
consumo. Estes contextos de representação resultam da internalização de significados que
caracterizam a sensibilidade pós-feminista e que também se evidenciam na forma como os
editoriais dão visibilidade a subjetividades neoliberalizadas e reguladas por processos de
governança. Nos textos em escrutínio, os domínios de regulação das práticas de moda e
beleza das raparigas assumem contornos multidimensionais. Por um lado, são visíveis na
forma como as vozes editoriais apelam à gestão reflexiva da aparência e das subjetividades
das jovens, ou seja, nos modos como são articulados discursos de escolha, autonomia e
agência. Trata-se, contudo, de um tipo de agência funcional vinculada, através de recursos
multimodais, a práticas de consumo e traduzida num trabalho incessante de reinvenção
estética que não pressupõe intenções e/ou ações emancipatórias por parte das raparigas. Por
outro lado, e simultaneamente, persistem e articulam-se multimodalmente discursos que
legitimam e celebram identidades femininas inscritas num paradigma social heteronormativo
que, por sua vez, normaliza assimetrias de classe, etárias e étnicas.
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Fundação para a Ciência e a Tecnologia
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Funding Award Number
SFRH/BD/43219/2008