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Abstract(s)
No âmbito do mestrado em Estudos Ibéricos, conta-se com a realização de uma dissertação de
fim de curso cujo tema é livre. Perante a diversidade dos projectos susceptíveis de investigação, que
no meu caso se encontravam na área científica da cultura e da sociolinguística, destacou-se o tema das
línguas minoritárias face às línguas hegemónicas da Península Ibérica. Deste modo, decidi estudar as influências dos falares românis, denominados caló em Espanha e calão cigano ou caló2 em Portugal,
no contexto da comunicação mediática e da linguagem musical. Parece-me interessante romper com o
cliché habitual do cigano-mendigo e equilibrar os fluxos de dom entre os dois povos (ciganos e não
ciganos). Há que salientar que o povo cigano, que recebe a denominação politicamente correcta de
Rom, se caracteriza pela sua presença espalhada por todo o território ibérico, o que lhe impede de ter
uma organização política e linguística. Portanto, compreendemos que os falares românis podem ser
chamados dialectos e não línguas, devido à sua falta de homogeneidade e de associação a um Estado
política e geograficamente definido. Por ser um povo cuja matriz cultural sempre foi oral, é através
dos documentos dos não ciganos que os historiadores, filólogos e ciganólogos podem estudar esta
etnia. Relativamente às influências linguísticas, tive a necessidade de restringir os seus efeitos apenas
aos léxicos das línguas castelhana e portuguesa por razões de limitação temporal e material. A análise
dos comunicados mediáticos permitirá classificar o vocabulário do inventário nos registos de língua.
Quanto à parte musical, as letras das canções seleccionadas servirão para ilustrar a viagem de um
vocábulo români até às línguas portuguesa e castelhana e também porque a música é uma dimensão
cultural de grande difusão mediática, tendo por isso uma ligação temática com o estudo dos falares
calão cigano e caló nos media (até porque a difusão da música é feita nos meios audiovisuais). Com
efeito, o canto pode servir de ponte entre as comunidades linguísticas e de modo de divulgação das
palavras até ao grande público. Antes de apontar os objectivos do trabalho, algumas linhas explicativas parecem-me
necessárias para fundamentar a escolha do meu tema de dissertação. Em primeiro lugar, foi o meu
interesse pelas minorias culturais e linguísticas que me orientou para a comunidade dos Roma. A etnia
cigana conhece uma fase de crise, neste caso linguística, portanto requer auxílio por parte não só dos
seus líderes mas também dos responsáveis governamentais, autárquicos, académicos, sociais e
religiosos e de estudantes interessados pela problemática. Este trabalho seria o início de uma
contribuição minha, com a expectativa de poder apontar a rica influência români nas duas línguas
hegemónicas ibéricas mas também assimilar alguns factos discriminatórios e denunciar a inércia que os cerca. A questão das relações linguísticas inter-étnicas pareceu-me uma abordagem interessante na
medida em que apontava para factos relativos à comunicação e à integração do povo cigano no seio da
Península Ibérica. Os valores e o património cultural do povo aqui em causa, que sempre lutou contra
as agressões culturais, sociais, económicas e até linguísticas parece-me um tema abundante que
merece ser defendido, estudado e sobretudo compreendido. Também porque geralmente os lusófonos e
hispanófonos desconhecem a origem das palavras calós que residem no seu idioma, e os identifica
como palavras próprias do calão carcerário actual. Por outro lado, no decurso de um trabalho semestral
de Linguística Comparada, tive a oportunidade de aprofundar o meu conhecimento sobre o mosaico
linguístico ibérico. As estatísticas falam por si: só 1% do povo espanhol fala eusquera, mas esta língua
tem um estatuto oficial, ou pelo menos co-oficial, já que é um idioma reconhecido na comunidade autónoma basca. No caso do caló de Espanha, contamos aproximadamente 40.000 pessoas3 que usam
esta língua no seu quotidiano e que a consideram como materna, mas o caló nunca conseguiu atingir o
reconhecimento estatal. Encontramos a mesma problemática no país vizinho. Queria descobrir qual é
exactamente o lugar que esse falar ocupa no seio da Península Ibérica. Além disso, na cadeira de
Culturas Regionais Peninsulares, tive a ocasião de aprofundar temas como os diferentes planos das
diversidades cultural e linguística no seio da Península Ibérica, o que reiterou o meu desejo de abordar
a temática aqui em causa. E por último, sendo mestranda no curso de Estudos Ibéricos, vi neste tema
um aspecto interessante: o tema abrange tanto uma questão espanhola como portuguesa. Além do
mais, o castelhano e o português são as duas línguas que escolhi para aprofundar durante o meu
percurso académico. Uma dissertação na área da cultura e da linguística ibéricas permitirá que eu
continue nesse caminho.
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Keywords
Calão cigano Influência na língua portuguesa Influência na língua espanhola Influência comunicação social
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Universidade da Beira Interior