Name: | Description: | Size: | Format: | |
---|---|---|---|---|
149.72 KB | Adobe PDF | |||
2.46 MB | Adobe PDF |
Authors
Advisor(s)
Abstract(s)
O presente relatório destina-se a acompanhar e a contextualizar todo o processo
de criação e produção do filme TRAMA.
Este filme acontece como culminar de um processo de trabalho longo, de
exploração não só de uma determinada realidade, como também de uma espécie
de viagem interior que procurou não só conhecer um mundo específico, como de
igual modo dar a conhecer perspectivas pessoais e inquietações próprias.
É um filme enquadrado no género documental, mas que se constrói através de uma
perspectiva necessariamente pessoal, onde há espaço para a experimentação, para
a encenação e para a reflexão.
Sendo o documentário um género em que a questão de autoria e da escolha são
definidores, poderemos dizer que todo o documentário é pessoal, pois parte
sempre do seu autor, das suas interrogações, formas de pensar e de olhar o mundo.
Essa perspectiva pessoal estará sempre inerente ao filme.
No meu caso, enquanto pessoa com formação e trabalho realizado no campo das
Artes Visuais, a ligação entre estas e o filme seria inevitável.
Assim, neste filme, a experimentação assume um papel importante, ao nível
conceptual mas também de forma real e física.
A experimentação das imagens e a sua construção, desconstrução ou sobreposição
estão presentes, não apenas na montagem, como também na escolha de
determinados formas de olhar o espaço ou as pessoas e de os mostrar aos outros.
A experimentação física também existiu, a ligação dos materiais ao gesto e à
acção, o interesse pelo contacto real e sensorial com elementos que depois são
transpostos para a imagem fílmica.
O objecto fílmico surge aqui enquanto encontro de perspectivas, numa procura que
condensa a vontade de interligar linguagens que remetem para as artes visuais,
para a fotografia, e para linguagens artísticas que trabalham o corpo e com o corpo
como a performance, o happening ou a dança.
Interessa-me assim pensar este filme como um objecto de criação num sentido
mais lato, não tendo a necessidade de o categorizar ou rotular em determinado
género, linguagem ou disciplina. Ele acontece enquanto reflexo da abordagem do
seu autor, eu, a uma realidade, e da assunção plena de uma perspectiva pessoal
dessa abordagem, com base na mistura de possibilidades e de linguagens artísticas
que povoam o meu imaginário.
Existe a escolha assumida de um ponto de vista, de uma forma de olhar para
determinada realidade, de a pensar, estruturar e mostrar aos outros.
Interessou-me abordar uma realidade, o da vida dos trabalhadores da indústria de
lanifícios de uma região, através do olhar e das vivências das mulheres que fizeram
parte de uma realidade que praticamente já não existe.
Esta escolha surge em mim de forma natural, não apenas pelo facto de me
identificar com elas enquanto género, e enquanto mulher olhar a realidade
também por esse prisma, mas devido a outro factor que para mim é bastante
relevante, o facto de pensar a relação maquinal e industrial pelo lado feminino.
A relação a que se costuma dar o nome de homem-máquina, aqui transposta para a
relação mulher-máquina, num sentido mais complexo do que apenas a ligação
maquinal imediata do dia a dia de uma função, mas num percorrer de rotinas e
memórias, como uma forma de abordar a história de uma região. A memória e o arquivo são também questões que importa referir, pois percorrem
todo o filme, são fulcrais na estrutura e na abordagem.
O filme é o resultado de um cruzamento de diferentes memórias: as memórias dos
lugares, dos espaços, as memórias das pessoas que estiveram nesses lugares
durante muito tempo das suas vidas, e as minhas memórias, que percorro e me
interesso por estes locais, conhecendo-os e explorando-os há já bastante tempo.
E é neste cruzar e nesta mistura, a que se junta um arquivo físico de fichas de
trabalhadores, que se começa a produzir o filme, numa analogia à produção de um
tecido ou malha, e daí o nome do filme, Trama.
Ao pensar e defender este filme enquanto objecto de criação que é em tudo
semelhante à criação de qualquer objecto artístico, faço uma interpretação da
ideia de fruição, aqui aplicada ao objecto cinematográfico.
Se a fruição existe no objecto artístico ela também terá de existir no objecto
fílmico, e um pensar da arte, das suas relações, da estética e do posicionamento
teórico em relação a ela são importantes.
Importará também pensar de que forma a questão da fruição artística foi sendo
pensada por diferentes filósofos ou pensadores.
Assim como também importa pensar nos elementos formais e técnicos que dão
corpo visível à obra, como se organizam, qual a importância que têm e de que
forma influenciam a percepção e consequente fruição de uma obra.
Poder-se-ão assim acompanhar de seguida nestas páginas todas as reflexões, sobre
não apenas o tema tratado, como também sobre as ligações conceptuais e formais
do cinema à prática artística e à noção de fruição, qual a importância dada a estas
questões, a ligação à fotografia e à composição visual e de que forma todo o filme
foi pensado e estruturado.
Description
Keywords
Cinema Filme Trama