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Authors
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Abstract(s)
A partir da análise da experiência que tenho do ensino da filosofia, vou
constatando que os alunos chegam imersos com preconceitos relativamente à
filosofia, o que é demonstrativo da sua incerteza e insegurança por terem que
começar a lidar com o "desconhecido", principalmente no 10º ano de
escolaridade. Torna-se, assim, necessário motivá-los para os trabalhos do pensar,
incentivá-los, estimulá-los. Várias são as formas de o fazer: leitura e análise de
textos filosóficos, de textos não filosóficos, debates/discussões a partir de
problemáticas que sejam do seu interesse e lhes digam directamente respeito,
redacção de textos argumentativos, utilização de meios audiovisuais, por exemplo,
análise de um filme ou excertos de vídeos, conectando-os com a "matéria", e
outras mais. Contudo, e não desvalorizando cada uma destas formas, proponho
outra que, de certo modo, se interliga com aquelas. Esta proposta tem a intenção
de despoletar o apelo nos alunos para a actividade filosófica, tornando-a dinâmica,
embora rigorosa, em que todos participam.
O trabalho de investigação que aqui desenvolvo procura, deste modo,
argumentar o papel que a actividade filosófica poderá assumir num contexto de
aula, transformando-se esta num laboratório, uma vez que, numa aula de Filosofia,
concebida como laboratório, realiza-se uma investigação em que se compele os
alunos a assumirem uma atitude de criação e descoberta, possibilitadora da
interpretação da experiência. Empreende-se uma luta contra a passividade, contra
a apropriação imitativa e declamatória dos pensamentos de outrem. Considera-se,
deste modo, que a aula pode assumir-se como um local de investigação, em que se
trabalhe com problemas determinados, convertendo-se num espaço de realização
de experiências de colocação de problemas, de criação de conceitos a partir dos
problemas encontrados, na medida em que a aula deve acontecer não como mera
transmissão hermética de conteúdos estrangeiros mas, antes, como condição de
possibilidade de compreensão da experiência. Uma aula como laboratório
possibilitará a insinuação do filosófico, a interrogatividade da filosofia. Destaca
se, neste sentido, a importância do filosofar como experiência, não havendo
filosofar separado do viver concreto, dando-se ênfase à praxis filosófica. Destaca
se, pois, o pensar como experimentar, a capacidade de raciocinar em termos de operações formais como labor, construção. O propósito do trabalho de
investigação em aula não se prende, neste sentido, com a descoberta inventariada
de determinados conceitos, mas primordialmente, com a aquisição do domínio de
determinados procedimentos de pensamento e atitudes que tornam possível a sua
utilização.
O laboratório de conceitos significa que a actividade filosófica actua através
de conceitos (revendo conceptualizações, "manuseando-se" conceitos de distintos
modos, aplicando-se vários conceitos a um mesmo problema, criando-se conceitos
a partir de diversos problemas), que se constituem como intermediários na
compreensão entre o vivido e o abstracto. Se a abstracção for vazia de sentido, ou
se as imagens se desenvolverem sem recurso a qualquer conhecimento, o filosofar
não "sobrevive". Se não há filosofia que não seja filosofia do conceito, é porque
ela, em sentido próprio, é uma apresentação do conceito, é um reexame e uma
redefinição do conceito. Por conseguinte, tudo o que se possa dizer da experiência
passa, necessariamente, pelos conceitos que usamos para a interpretar e traduzir.
Tomando como ponto de partida uma situação concreta, inicia-se um processo de
investigação baseada na vivência quotidiana dos alunos, procurando representar a
situação por elementos e relações que conduzam a conceitos que vão permitir uma
aproximação teórica do problema. O que era imediato e simples passa a ser
problematizado, o que leva a uma segunda descoberta, a de que outras visões são
possíveis, porém, sempre sujeitas a um outro olhar conceptual. Os diversos
conceitos permitem, deste modo, compreender a experiência humana. Tendo em
conta que o conhecimento conceptual nunca poderá substituir totalmente o
conhecimento concreto e vivido, por exemplo, na prática educativa alcança,
contudo, o topo das suas possibilidades quando, num movimento dialéctico, parte
do concreto, passa a formulações abstractas e volta novamente ao concreto para
verificar as formulações abstractas.
O trabalho sobre os conceitos não pode, por conseguinte, cristalizar os
conceitos, transformá-los em imperativos "universais" válidos sob quaisquer
circunstâncias. Paradoxalmente, cada perspectiva arquitecta uma conceptualização
da noção de conceito. Por outro lado, não são dados, como se pré-existissem à
própria filosofia, mas são construídos, e esta elaboração é uma parte determinante
da actividade filosófica. Não se pode, pois, dissociar um conceito do uso que dele
se faz. A semântica conceptual é o conjunto das operações pelas quais o filósofo
explicita deliberadamente a significação das expressões que utiliza, percurso que os alunos seguem a partir dos problemas com que se confrontam. Um conceito
nunca é um dado prévio a uma "teoria", mesmo quando a terminologia volta a
utilizar termos já conhecidos, mas constrói-se no próprio seio da actividade
filosófica. Daí que possamos dizer: o conceito em procura, apesar de ser sempre
um devir de conceito.
O plano do conceito é a representação. Em todas as formas conceptuais uma
coisa encontra-se no lugar de outra, representar significa, portanto, ser o outro de
um outro que se convoca, num mesmo movimento. Pensa-se com conceitos, de tal
modo que não pode haver nenhum conceito que não pense qualquer coisa.
Em suma, embora a palavra recorra a estruturas lógicas, como o juízo, o
raciocínio, a sua dimensão de acontecimento não a deixa ficar presa na caverna
lógica visto que a abre a uma conceptualização sempre renovada de aproximação
aos objectos, a uma combinação dinâmica do geral e da particularidade das coisas
que tem diante de si, ao jogo ilimitado da expansão da experiência pelo uso das
palavras já sabidas, pela invenção de outras novas. A linguagem é irredutível a um
mero instrumento que utilizamos, mas implica um vínculo essencial com o
pensamento.
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Keywords
Filosofia - Ensino - Aspectos conceptuais Filosofia - Conceito - Ensino
Pedagogical Context
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Publisher
Universidade da Beira Interior
