Abstract(s)
Numa altura em que a globalização está na ordem do dia, verifica-se diariamente a
crescente urgência de colocar nações e culturas em estreito contacto. Não só os planos
comercial, político e financeiro devem ser alvo de considerações colectivas, mas também a
língua e cultura dos povos requerem uma melhor compreensão mútua. Por enquanto, os
intercâmbios realizados têm dependido, em grande parte, da tradução, para que as barreiras
linguísticas não sejam a causa de incompreensões e silêncios entre a miríade de povos que
habitam a nossa esfera. Isto porque nem todos os indivíduos possuem o privilégio de
conhecer uma língua que não a materna, e o acesso à tecnologia, ao texto literário e
científico só se tornam possíveis, em determinados casos, através do usufruto de textos
traduzidos. Esta solução não é, contudo, perfeita. O tradutor, estabelecendo-se como um
mediador entre línguas e culturas, poderá por vezes, ainda que a sua proficiência seja
elevada, cometer certos erros que se estenderão depois – correndo também o risco de se
ampliarem – ao leitor do produto traduzido. Abundam as histórias, muitas vezes envoltas
na névoa do mito urbano, de determinadas marcas que, devido ao desconhecimento das
idiossincrasias culturais do público-alvo, se tornam invendáveis. Não falamos somente de
erros de tradução, mas também de uma utilização de signos – linguísticos ou não – que
veiculam uma ideia errada e que pode incorrer numa catástrofe para a empresa
exportadora.
Com efeito, a tradução corre o risco de encontrar e produzir sérios entraves. O erro
pode surgir não só quando uma função se reproduz sem que os significados coincidam,
mas também quando o equilíbrio entre sintaxe, semântica e pragmática não é observado.
Outrossim, as variadas subtilezas que residem em qualquer língua são potenciais alvos de
esquecimento ou omissão, resultando assim a tradução num produto imperfeito e até
mesmo desastroso.
Qualquer indivíduo que não domine a língua em que qualquer texto é originalmente
composto tem o direito de conhecer, da forma mais integral e aprofundada possível, a
informação que esse texto e o seu autor pretendem veicular. Para isso, urge proceder-se a
uma tradução cuidadosa e ponderada, que seja não só reactiva, mas também proactiva, no
sentido em que deve prever os constituintes que subjazem às línguas de origem e destino, circunscrevendo também conceitos que não se possam replicar directamente. Esses, porém,
podem não se manifestar imediatamente no texto, mas sim nas suas significações ocultas e
herméticas, o que significa que poderá haver um determinado conteúdo subliminar, criado
ou não de forma voluntária, que é apercebido em instâncias mais primárias e encobertas da
nossa consciência. Normalmente, apenas um falante nativo conseguiria detectar e produzir
conscientemente estas mensagens furtivas, mas a informática, ao permitir a recolha e
compilação de enormes quantidades de texto e posterior ordenamento mediante os pedidos
do utilizador, conseguiu colmatar grandemente esta falha, proporcionando a qualquer
indivíduo uma concepção mais abrangente de uma língua que já conhece.
Será com recurso a este instrumento que esta dissertação conhecerá grande parte do
seu desenvolvimento, já que o objecto de análise e a comprovação das nossas afirmações
terão origem em corpora linguísticos.
A presente dissertação destina-se, assim, a determinar de que forma intervém a
presença da pragmática e da prosódia semântica – juntamente com os restantes níveis
funcionais, claro está – na tradução entre as línguas portuguesa e inglesa.
No primeiro capítulo, terá lugar a discussão do que são, verdadeiramente, a
tradução e o papel do tradutor, assumido como hermeneuta e mediador entre culturas. As
considerações serão comprovadas por trabalhos anteriormente realizados acerca da matéria
abordada. Procuraremos integrar a teoria da tradução em metodologias até agora mais
ligadas ao plano intralinguístico. Outro ponto a constar neste capítulo será a detecção de
erros de tradução, reais ou potenciais, introduzindo-se o conceito de prosódia semântica
que, segundo a nossa opinião, evoluirá para aquilo a que chamamos conotação discreta.
O segundo capítulo alongar-se-á acerca da relação entre tradução e estudos
linguísticos. Na nossa opinião, as teorias relativas a este processo têm conhecido um cariz
mais hermenêutico e até filosófico, sendo os métodos da neogramática relegados, em
alguns casos, para um plano secundário. Procuraremos, assim, transformar o que era
tratado quase exclusivamente a nível intralinguístico num ponto central na abordagem
entre diferentes línguas, ao definir a intrincada relação de interdependência que se verifica
tanto entre os níveis funcionais da língua como entre as diferentes áreas dos estudos
linguísticos, fazendo-a depois coincidir com a tradução como processo hermenêutico e social. A conotação discreta, como lhe passaremos então a chamar (por motivos
adequadamente enunciados) será então alvo de um tratamento mais aprofundado.
Finalmente, invocaremos vários casos em que a conotação discreta se manifesta,
observando de que forma são traduzidas as sequências discursivas apresentadas e
apresentando sugestões, adequadamente apoiadas em resultados obtidos em corpora
linguísticos, para traduções mais adequadas.
Tentaremos, dentro do possível, e não obstante os factos enunciados não serem, na
sua maioria, totalmente inovadores, contribuir para que mais um passo seja dado nos
campos dos estudos linguísticos e da teoria da tradução.
Description
Keywords
Tradução - Metodologia Tradução - Tradutor Prosódia semântica Conotação - Denotação
Citation
Publisher
Universidade da Beira Interior