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Pela primeira vez na história, metade da população vive em cidades. O ano de
2008 foi reconhecido pela United Nations Population Division como o ano do
milénio urbano. Estudos efectuados por esta mesma organização revelam que o
ritmo de urbanização continua a aumentar. Em 2030 a população da terra, agora
com 6.6 biliões de habitantes, vai crescer cerca de 1.5 biliões e quase todos
viverão em cidades. Posto isto, algumas questões se levantam: qual o impacto
desta movimentação no crescimento exponencial não controlado das cidades? De
uma forma mais directa: como deve a arquitectura passar a ver esta
transformação?
O crescimento, e os prós e contra resultantes do mesmo, promovem o avanço da
globalização. A mesma globalização que em tempos servia apenas como troca de
bens, serviços, cultura, a um nível comercial global, poderá, na actualidade, ter um
impacto cada vez mais pessoal. Os avanços na comunicação, a internet, as viagens
cada vez mais ao alcance de todos, a migração económica e a disseminação global
de todo o tipo de cultura, unem cada vez mais pessoas com identidades diferentes
criando sistemas cada vez mais complexos. Como diz Terry Eagleton: "temos
vindo a mudar a partir de uma cultura nacional com um conjunto único de
regras para um sortimento variado”. Poderá o ser humano adaptar-se ao que o
rodeia sem se transformar, sem perder a sua identidade e a base cultural que o
criou, estaremos preparados para criar novas culturas. Como diz Lévi-Strauss: "As
culturas não desaparecem, elas misturam-se com outras, e dão origem a uma
outra cultura”.
Partindo do princípio que toda a organização do mundo tem uma base igual, início
esta tese com o estudo dos sistemas. O ser humano como ser racional sempre teve a capacidade, desde os primórdios
dos tempos, de sobreviver à solidão e de poder debater-se com a mesma, vivendo
em sociedade, no entanto, e porque com a evolução do tempo as necessidades, as
prioridades e, as mais-valias, o ser solitário passou a odiar a tal denominada
“solidão”.
É um facto adquirido que o ser necessita da troca de sensações para se afirmar,
para se manter, para ser algo, e necessita reciprocamente dos que o rodeiam. Por
isso nos juntamos, formamos ruas e depois aldeias, e o processo de crescimento
vai-se perpetuando sem que se tenha noção. Esta necessidade de associativismo,
nem sempre perceptível, estará presente em todos os momentos da nossa vida,
desde aos mais rotineiros aos mais espontâneos. Somos dependentes do padeiro,
do carteiro, do electricista, e estes são reciprocamente dependentes de nós.
Todo o agrupamento de seres que, de uma forma intencional ou ponderada,
formando um grupo interligado como uma malha denomina-se de sistema
(Luhmann, 1999). Quase tudo no mundo se comporta como um sistema, os
sistemas racionais, como a sociedade, criados pela aglomeração civilizada e
natural gerada por vínculos e movimento aleatório de pessoas com os mesmos
interesses, credos e culturas comuns, entre outros. Um mesmo indivíduo pode
movimentar-se por vários sistemas, tráz informação, cria informação, transforma
gostos, transmite gostos, numa troca contínua. Não se geram sistemas sem a
definição de um sentido de solidáriedade e identidade em torno de um conjunto
de definições, ou sem uma ponderação passada com vista ao futuro. Da mesma
forma que não se geram vínculos sem pontos de igualdade e desigualdade sem se
fixarem margens de interacção interiores e exteriores, numa conexão dotada de
sentido de acções que se referem umas às outras, e que são delimitáveis no
confronto com um ambiente. O crescimento dos mesmos sistemas observou-se
recentemente, quando milhares de pessoas iniciaram o processo migratório para
as cidades com a perspectiva de um padrão de vida mais elevado. O que é que
acontece quando a população ultrapassa a resposta das infra-estruturas que
compreendem a cidade? O que acontece quando a cidade deixa de responder aos
estímulos do sistema? A segunda parte da tese inicia com o capítulo “Da cidade ao ser”, introduz as
interacções dos sistemas entre eles e o meio que os rodeia. E a forma como essas
interacções actuam em cada um deles, seja o meio seja o objecto.
O sistema provoca sempre um efeito-reacção, basta existir quebra num dos
elementos para gerar fragmentação nessa estrutura e indirectamente no sistema.
Uma observação cuidada dos sistemas na actualidade revela que muitos deles que
mantinham uma malha com sucesso, têm vindo a sofrer danos gerados pelo meio
exterior ao mesmo, ou gerados por seres existentes no interior do mesmo. Por sua
vez, quanto maior é o sistema mais danos estruturais se observam. Como
controlar essa fragmentação? O que a gera?
O porquê desses danos pode ser explicado por padrões de interacção normal, ou
seja, as cidades grande compreendem mais pessoas, mais formas de pensar mais
culturas, mais passados diferentes em busca de futuros diferentes. Como
responder positivamente a todas as expectativas?
Por onde devemos começar a observar esses danos estruturais e a subsequente
fragmentação? Através daquilo que os próprios sistemas criam, como as suas
edificações? Como diz Aldo Van Eyck, a casa deve ser como uma cidade ou não
será uma casa, da mesma forma que uma cidade deve ser como uma grande casa
ou não é uma verdadeira cidade. Desta forma nada explícita melhor a existência
de um sistema no espaço que um aglomerado habitacional. Desta forma simples
de criação de aglomerados, aliada à convergência de pontos de igualdade ou
desigualdade entre seres, nascem os povoados, as aldeias, as vilas, as cidades, as
metrópoles. E estas são, sem dúvida, o espelho e o espaço de recolha de todos os
sistemas. Se há uma ruptura no sistema gerador do espaço, não estaremos a
afectar o espaço? E por sua vez, um espaço mal gerado não afectará o sistema? Com o passar do tempo, o Arquitecto afastou-se de algumas doutrinas, alguns
decidiram criar arquitectura por arquitectura. Parafraseando Ignasí Sola-Morales,
a arquitectura é consubstancial à cidade, está fora de dúvida. Que a cidade seja só
uma Arquitectura pode ser uma afirmação muito mais problemática. A hipótese sobre a qual queremos trabalhar é algo mais modesta que o acerto de León
Battista Alberti, para quem a cidade não era outra coisa mais que uma grande
arquitectura e para quem cada arquitectura podia entender-se como una pequena
cidade.
Nos nossos dias, toda a problemática da ecologia, do impacto de factores como a
insegurança, segundo alguns resulta do crescimento desregulado da cidade,
devemos voltar às origens e procurar novas respostas? Neste ponto será
pertinente dar o exemplo de um sistema no qual a interacção entre objecto
sistema se torna perfeito, o caso das colónias de formigas e o seu formigueiro
capazes de criar uma sociedade, construir as suas cidades, e manter a sua malha
ou estrutura que a denomina como sistema coeso ao longo do seu período de
duração. Daqui sobressalta outra questão, porque é que seres irracionais vivem
em harmonia com o todo e a nossa sociedade não? Em que ponto é que elas são
bem-sucedidas criando espaços generalistas com respostas que actuam
individualmente e a nível geral se superam e se mantêm, e o ser humano não?
Compreender o impacto da ideia dos sistemas na cidade e da cidade nos sistemas
torna-se uma tarefa necessária e importante. Como dizia Lewis Tomas, “a cidade é
a maior concentração possível de seres humanos, na qual todos exercem tanta
influência na mesma como a influência que são capazes de suportar”. Por isso,
talvez se deva estudar os sistemas que nascem a uma velocidade vertiginosa à
frente dos nossos olhos, a associação interespecífica que compreende a relação
cidade – sistema, e o papel do arquitecto como planeador de espaços, responsável
por dar uma resposta cada vez mais rápida para a resolução de problemas
urbanísticos. Como pode um arquitecto passar a criar espaços para mais e
diferentes pessoas, responder a diferentes gostos?
Seguindo a linha de raciocínio de Aldo Van Eyck, talvez a resposta ao problema
esteja na nossa “casa”, espaço infinito, mas íntimo que reflecte um pouco de cada
um de nós, as nossas vivências, a nossa educação, a nossa cultura. E tal como
diferentes culturas geram diferentes sistemas directamente, diferentes “casas”
formam uma cidade. Esta funciona segundo uma associação interespecífica com o sistema. Qualquer acontecimento adjacente a um dos ramos implica danos no
ramo contrário. Uma fragmentação no sistema produz uma fragmentação na
cidade, um crescimento no sistema produz crescimento na cidade, uma mudança
na cidade produz uma mudança no sistema. Desta forma, o Arquitecto vai ter um
papel importante não só na forma como actua na criação de espaços, mas
indirectamente, na criação, na união, e perpetuação de um sistema. A questão
focal aqui será então a seguinte: qual o impacto do Arquitecto e o seu peso na
sociedade? E a constatação do facto que a arte de projectar não assenta na
actualidade apenas em si mesma, mas na união de diferentes ciências, como um
sistema.
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Keywords
Arquitecto - Cidade - Sociedade Arquitecto - Cidade - Espaço Arquitecto - Cidade - Lugar Arquitecto - Cidade - Urbanismo
