FAL - DL | Documentos por Auto-Depósito
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- As mulheres da Eneida: desafios inglórios à hegemonia do homemPublication . Manso, JoséObra-prima da literatura latina e paradigma da literatura ocidental, a epopeia de Virgílio mostra-nos um mundo onde o domínio do homem é quase absoluto – só os deuses conseguem, e nem sempre, contrariar a vontade e a determinação dos heróis. Com efeito, a abertura do poema, Arma uirumque cano, deixa claro que o enfoque é dado ao poder do homem (uirum) numa das áreas em que assume natural prevalência sobre o sexo feminino, a guerra (arma). Não obstante, ao longo do enredo, algumas mulheres contrariam e desafiam essa hegemonia masculina, sendo apresentadas pelo Mantuano como mulheres de um poder e determinação tais que colocam em causa decisões tomadas pelos homens. Entre elas conta-se naturalmente Dido, que, a par do fracasso no amor, representa a derrota e a extinção do povo cartaginês pelo poder romano, simbolizado por Eneias. Ora, o desafio de Dido à hegemonia do herói masculino tem como desfecho o seu trágico suicídio. Caso paralelo é o de Amata, que contraria a decisão de Latino, destinando a filha Lavínia a Turno e negando-a a Eneias. Aponta-se para alguma igualdade entre marido e mulher, se não em poder pelo menos em ousadia, mas também aqui a vontade feminina não prevalece e o destino de Amata é o mesmo do da rainha de Cartago. O suicídio em ambos os casos simboliza per se a impotência da mulher face ao homem, mesmo quando ela possui os meios e a determinação para afrontar o elemento masculino, seja em questões políticas, familiares ou bélicas. E relativamente às últimas é inevitável focar o caso de Camila, a mulher guerreira que sobressai no campo de batalha. Mas é a morte e não a glória que espera a heroína, pois nas armas sempre o homem exerceu e continuaria a exercer o seu domínio.