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  • Fatores de influência individuais, psicossociais e relacionais para a ocorrência de gravidez na adolescência em Portugal Continental
    Publication . Carvalho, Paula Susana Loureiro Saraiva de; Canavarro, Maria Cristina; Oliveira, José António Martinez Souto de
    O reconhecimento da importância dos contextos individuais e relacionais/afectivos das adolescentes na construção das trajectórias de desenvolvimento (in)adaptativas contribuiu para a exploração do impacto dos aspectos individuais, relacionais e sociais, no seio dos quais sobressaem algumas variáveis que se têm mostrado passíveis de conduzir a uma gravidez na adolescência. Os resultados da investigação empírica apontam no sentido de que a gravidez precoce ocorre sobretudo em adolescentes que vivem em situações desfavorecidas do ponto de vista social, económico e pessoal, nomeadamente no que toca a situações de pobreza, baixos níveis educacionais e condições adversas ao longo da sua trajectória desenvolvimental. Os dados disponíveis salientam uma tendência consistente, nas últimas duas décadas, para um decréscimo da gravidez na adolescência em Portugal Continental. Apesar da evolução positiva deste indicador no panorama nacional, este continua a ser bastante desfavorável, sendo um problema social incontornável na actualidade. Não obstante a relevância, tanto teórica como prática deste fenómeno e o crescente interesse pela sua investigação, são ainda escassos ou inexistentes os estudos portugueses que incluam as diversas regiões geográficas do país. Com a presente dissertação, pretendemos contribuir com conhecimento específico relativo às grávidas adolescentes nas várias regiões geográficas de Portugal Continental e comparar adolescentes grávidas e jovens que não se encontram grávidas, procurando identificar variáveis individuais, psicossociais e relacionais que, nas diferentes regiões, contribuam para compreender a ocorrência de gravidez precoce. Método: A amostra deste estudo é constituída por 630 adolescentes, sendo 306 grávidas adolescentes (GA) e 324 adolescentes sem história de gravidez (ASHG). Foram caracterizados os contextos individuais, psicossociais e relacionais das adolescentes (nomeadamente o contexto familiar na infância e no momento actual). A recolha de informação foi obtida através de diversas fontes (respostas das grávidas, questionários de auto-resposta e informações dos processos clínicos das grávidas). Ao longo do estudo, foram tidas em conta, e cumpridas, as orientações referentes aos princípios éticos na investigação científica com população adolescente. Resultados: Dos resultados do estudo empírico, destacam-se os seguintes, de forma transversal a todas as regiões: as adolescentes com história de gravidez (GA) pertencem a níveis socioeconómicos baixos e referem uma elevada frequência de ocorrência de gravidez na adolescência na família. O grupo das grávidas tem proporcionalmente um maior número de adolescentes não caucasianas, com várias jovens que pertencem à etnia cigana e a minorias étnicas (negra/africana). A maioria das adolescentes grávidas possui um baixo nível de escolaridade e uma taxa de abandono escolar muito elevada. Consequentemente, têm menos habilitações literárias e expectativas escolares e profissionais mais baixas. Os companheiros das adolescentes grávidas possuem habilitações escolares baixas, maioritariamente ao nível da escolaridade obrigatória ou inferiores, e muitos deles não frequentam o sistema de ensino. A maior parte das grávidas adolescentes não usou contraceção antes de engravidar e difere significativamente do grupo de adolescentes sem história de gravidez (ASHG) ao apresentarem idades mais precoces de iniciação sexual. A realçar que as diferenças regionais reportam sobretudo ao estado civil atual, sendo as jovens das regiões Norte, Centro e LVT maioritariamente solteiras, enquanto as da região Sul predominantemente casadas/uniões de facto. As jovens grávidas da região Sul possuem habilitações literárias significativamente mais baixas do que as das regiões Norte e LVT. Relativamente ao agregado familiar, as jovens das regiões Norte e Centro relatam que viveram a sua infância em agregados predominantemente intatos, enquanto na região LVT os agregados não intatos e outros (sem os pais) revelam-se mais frequentes do que nas restantes regiões do país. As jovens grávidas da região Sul apresentam conhecimento de um número significativamente menor de métodos contracetivos quando comparadas com as jovens das restantes regiões. Finalmente, são as jovens da região Norte que revelam com maior frequência a utilização de contraceção, prévia à gravidez, em oposição à região Sul, onde a não utilização de contraceção se revelou mais frequente. Na região de LVT verifica-se uma maior proporção de jovens que recorrem à interrupção voluntária da gravidez. Conclusões: De uma forma global, os resultados encontrados sugerem que a gravidez e a parentalidade adolescentes não constituem um foco de preocupação para muitas destas famílias, nem para o contexto social em que se inserem. Muitas destas jovens recebem aprovação e apoio da mãe, porque muitas delas também foram grávidas adolescentes, tornando a maternidade precoce, um fenómeno normal nos contextos sociais em que vivem. Os modelos familiares, as condições socioeconómicas adversas e o elevado abandono escolar são outros factores que potenciam as possibilidades de ocorrência de gravidez precoce, nesta população. Este estudo constitui um importante contributo para o início e/ou aprofundamento da investigação científica sistemática das especificidades regionais relativas aos contextos de influência da ocorrência de uma gravidez precoce. Ao mesmo tempo, possibilita o planeamento de intervenções clínicas e educacionais, que visam prevenir ou minorar as consequências da gravidez na adolescência, adaptadas à realidade nacional, atendendo, porém, aos aspectos específicos de cada região.